Arquivo da tag: poesia

Ocupação Paulo Leminski

dioniso ares afrodite

Em São Paulo está acontecendo desde o dia 1º de outubro a Ocupação Paulo Leminski. Com a curadoria de Ademir Assunção, a exposição parece estar bem ampla, trazendo cadernos, rabiscos, vídeos, músicas, frases, muita poesia do “cachorro louco” de Curitiba, além de uma programação especial com espetáculos cênicos . Pelas fotos que vi lá no blogue do Ademir, parece que está muito bonito e eu gostaria muito de estar em Sampa nesses dias para poder ver de perto.

A exposição acontece no Itaú Cultural, ali na Avenida Paulista e vai até o dia 08 de novembro. Para ter uma palhinha, você pode ir ao site: www.itaucultural.org.br/ocupacao e ouvir alguns testemunhos (indicado ver em computadores potentes).

Autofagia + Ruah! + Pigmentos Sonoros +

ruah-estampa

Pigmentos Sonoros – Uma homenagem a John Cage

Benjamin Abras e Leo Gonçalves lançam o Coletivo Ruah! na performance Pigmentos Sonoros no próximo dia 10 de setembro, a partir das 20h no lançamento da Revista de Autofagia 2 e 3, no Auditório da Escola Guignard.

Apresentação poético-musical baseada em pesquisas ritualísticas, explorando ritmos e sons vocálicos. Para a performance, o coletivo ruah! aproveita estruturas sonoras primitivas onde a desconstrução leva à re-significação das palavras (ou não-palavras).

A proposição “Pigmentos sonoros” surgiu do intuito de homenagear o compositor-poeta John Cage, que no último dia 05 de setembro completaria 97 anos e da intensa interlocução interartística estabelecida em 2009 entre os dois poetas que compõem o coletivo ruah!

Salpicar os sons, desmantelando palavras do sentido roto, ampliando sua corpografia através do canto onde, tom sobre tom, imprimem no corpo o matiz de uma vontade pela vibração das palavras. A palavra retomando corpo, retomando som como paramento de um instante, onde o jogo “vocográfico” desenha possibilidades poéticas entre os falantes, os ouvintes e os dançantes. Sugerindo uma pequena parafernalização dos sentidos [salve Julius], a fim de despertar a ação da palavra enquanto produtora de corporalidades sutis. A performance Pigmentos Sonoros é um experimento do coletivo RUAH!, feita com registros de som e silêncio dentro da poesia sonora, ritualizando a desconstrução da realidade cartesiana e produzindo uma experiência da voz enquanto escrita corporal.

O coletivo ruah! é formado por Leo Gonçalves e Benjamin Abras. Tem como objetivo a investigação, a experimentação e a execução de trabalhos pluriartísticos em plena interação com as tradições mestiças que habitam o planeta.

Lançamento da Revista de Autofagia

convite-autofagia

No dia 10 de setembro serão lançados os números 2 e 3 da Revista de Autofagia. O esperadíssimo evento (eu pelo menos, que colaborei no número 3 com traduções de Allen Ginsberg, esperava ansiosamente) acontecerá no auditório da Escola Guignard a partir das 20h. Na programação: debates, leitura de poesia e performances, exibição de vídeos e artes plásticas.

Eu estarei lá, com (entre outras coisas) o lançamento mundial da performance Pigmentos Sonoros, o primeiro resultado da investigação poético-antropológico-musical que venho realizando em parceria com Benjamin Abras.

Aguardem mais novidades pela semana afora.

Fronteiras da pele, o novo livro de poemas da Ana Maria Ramiro

fronteiras_da_pele

Fronteiras da pele é o resultado de um projeto iniciado em Brasília e que levou dois anos para ser concluído. Em grande medida, é fruto de várias interferências diretas e indiretas: visuais, sonoras e pessoais, que acabaram influenciando o direcionamento que dei ao trabalho no tratamento com a linguagem.
(…)
Espero que o leitor consiga sentir o ritmo da respiração, o eriçar dos pelos, as pulsações e o movimento dos órgãos contido em cada um desses entes-poemas.

Ana Ramiro (www.girapemba.blogspot.com)

Ana Ramiro acaba de publicar seu novo livro de poemas. Fronteiras da pele sai pela Lumme editor, numa coleçãozinha que já conta com outras belezuras. Confira.

aimé césaire: 96 anos

hoje, dia 25 de junho de 2009, o poeta aimé césaire completaria seus 96 anos, não fosse os orixás o requisitarem para um bate papo no orum no meio de abril do ano passado. para celebrar, um poema de autoria dele sobre a bahia. quem quiser ler o original, favor clicar aqui.

Carta da Bahia de Todos os Santos

Bahii-a

Como que um gole arretado de cachaça na garganta de Exu e a palavra delirou em mim um relincho de ilhas verdes mulheres nadadoras salpicadas entre a imodéstia das frutas e um baque de papagaios

Bahii-a

a curva de um colar caído rumo ao seio aberto das águas bobinado no oco seus pentelhos de ressaca

Bahii-a

deriva de continentes, um ir-se de terra, um bocejo geológico na hora fastuosa da ancoragem, o cochilo à âncora e mal domado no lugar

Bahii-a

de nostalgia, de gengibre e de pimenta, Bahia das filhas de santo, das mulheres de Deus, com pele de camarão cor-de-rosa, com pele de vatapá também

Ah! Bahii-a!

Bahia de asas! de conivências! de poderes! Campo Grande para as grandes manobras do insólito! De todas as comunicações com o desconhecido, Central e Aduaneira.

De fato, de Ogum ou de são Jorge, não se sabe, nuvens solenes cruzaram a espada, intercambiaram pérolas, caniços, búzios rosados, búzios cor-de-malva, aranhas encrustadas, siris vorazes, lagartos raros

e a palavra termina no esfolamento clandestino dos mais altos senhores do céu

Ah! Bahia!

Esse foi então o entorpecimento de incenso azulejado de ouro numa pesada sesta na qual se fundiam juntos igrejas azulejas, marejos de além-morro de tambores, foguetes moles de deuses culminados, de onde a manhã se ergueu, dengosíssima, graves meninas cor de jacarandá, penteando lentamente seus cabelos de alga.

(Tradução de Leo Gonçalves)

Do livro ferrements et autres poèmes de Aimé Césaire