Chegamos vivos a 2023. Atravessamos uma pandemia (mas não baixe a guarda, que ela ainda está por aí e pode matar). Sobrevivemos a um governo que colecionou os piores adjetivos possíveis e que esteve por um triz de se reeleger.
O ano começou e ainda testemunhamos uma tentativa estapafúrdia e ababelada de golpe. Um bando de gente completamente descaroçada destruindo coisas que sequer entendem. Sobrevivemos a isso também. Estamos sobrevivendo, até aqui.
Entre os adjetivos do governo passado, podemos listar: corrupto, pateta, horroroso, maledicente, cruel, negacionista, hipócrita, mentiroso, assassino, desastroso. Nesse período, aconteceram pelo menos dois desastres ambientais de proporções jamais vistas no Brasil: os incêndios na Amazônia e o derramamento de óleo no litoral nordestino (sem que o governo tivesse nenhum plano de contingência para resolver o problema). Dá a entender que os desastres foram até mesmo provocados e promovidos pela cúpula do país. Assim como também foram promovidas as 700 mil mortes por covid, o baixo desempenho dos ministérios da educação, da saúde, da economia.
Quanto ao que nos interessa, vale dizer que nunca vamos esquecer que foi no departamento da cultura que se fez explícito o projeto estético desse período, na ocasião do pastiche de Joseph Goebbels feito pelo então secretário de Cultura (o ministério havia sido extinto) Roberto Alvim. E que este foi o menos grave dos acontecimentos na área.
Em algum momento, teremos que fazer um compilado de todas as atrocidades perpetradas por esse governo genocida que felizmente deixou o posto mais alto do Brasil para se tornar, da noite pro dia, nada menos que irrelevante. Quase que um assunto passável, não fosse a urgência das punições.
Esperamos que, uma vez cumpridos os processos e procedimentos, bem como as penas previstas (para que ele seja irreversivelmente preso com algemas e camisa de força, seguindo todos os trâmites previstos e necessários, este capítulo possa ficar enterrado para sempre no esquecimento de todos.
O ano começa. A vida já começa a se organizar sob a forma de esperança. Nossas vidas pessoais e profissionais se abrem para possibilidades novas. Temos alegrias por chegar, enquanto já começamos a trabalhar pelo fim das desgraças.
Foram anos difíceis e obscuros, mas não ficamos parados.
Quero usar este espaço do Salamalandro, nos proximos dias, para ir recuperando a sanidade, o fogo e o ânimo. Farei uma espécie de retrospectivas dos trampos feitos, que não postei aqui. Ao mesmo tempo que brincarei de dublê de jornalista, colocando aqui ali as notícias que mais nos interessam, a nós que nos dedicamos à cultura. Pouco a pouco, estou montando a agenda de leituras, eventos, palestras e lançamentos do ano, e pretendo contar um pouco disso a vocês também. Claro, como sempre foi, em tempos antigos: é provável que eu volte a partilhar dicas de livros, textos e poetas de que gosto em especial. Ando, inclusive, paquerando a ideia de produzir vídeos. Se o fizer, também partilharei por aqui.
Para quem não sabe, quem escreve neste blogue é Leo Gonçalves. Poeta e tradutor, nascido em Belo Horizonte. Nos últimos anos, desenvolvi trabalhos diversos, transitando entre a escrita e a performance, a tradução poética e as mais diversas atividades envolvendo diferentes idiomas. Como tradutor, venho me especializando nas literaturas negras do mundo, tendo traduzido os poetas da Negritude francesa, da Harlem Renaissance, das Antilhas e da África Negra do século XX. Também traduzi poetas latino-americanos, ingleses e franceses de tempos diversos. Você os encontra por aqui mesmo, neste blogue. Nos últimos anos, alguns desses trabalhos de tradução foram saindo por editoras, grandes ou pequenas. Quero voltar a compartilhar isso com vocês.
Por fim, gostaria de saudar a quem (provavelmente uma ou duas pessoas apenas, não tem problema) me lê. Que nos encontremos, que nos falemos, que nos leiamos e possamos voltar a uma vida plena. O sol há de brilhar mais uma vez.