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6º Fan – Festival de Arte Negra

O Fan é sempre um acontecimento instigante. Conceitualmente bem estruturado, chegou à sua sexta edição aos trancos e barrancos, superando a (má) vontade política e todo tipo de percalço próprio de tudo o que se tenta fazer culturalmente no país. No seu longo histórico, já teve presenças inesquecíveis como a dançarina senegalesa Germaine Acogny (em 2006) e seu filho Patrick Acogny (em 2009). Inesquecível foi também a enorme exposição da memória da escravidão (em 2002, se não me engano), a revista Roda, o show de Jards Macalé com as Orquídeas.

A programação deste ano não deixa para menos. Homenagem ao Mestre Jonas, leitura-concerto com os poetas Abreu Paxe (Angola), Nina Rizzi (Fortaleza), Ronald Augusto (Porto Alegre) e Sebastião Salgado (Rio de Janeiro), oficinas de dança e de moda, muita música. Destaque especial para a presença da belíssima cantora Susana Baca, a embaixatriz da música afro-peruana e do artista pop senegalês Youssou Ndour, atual ministro da cultura de seu país.

Uma festa para quem (como eu) gosta de diversidade e exuberância.

Clique no link para saber mais e mais sobre o Fan: www.fanbh.com.br

Vídeo documentário sobre o Poro

Ações efêmeras. Ou seja, ações sutis. Delicadas ações que podem passar desapercebidas. “A pessoa bruta não liga pra nuance das coisas” (mautner). Pequenas doses de beleza em paredes, em folhas, enxurradas. Desde 2002 inventando intervenções nos espaços públicos, o Poro acaba de lançar o seu primeiro documentário. Produzido em parceria com a Rede Jovem de Cidadania, o filme de 22 minutos mostra várias das principais ações que o Poro vem desenvolvendo nos últimos 8 anos.

Para saber mais, é no blogue oficial do poro:
http://poro.redezero.org/video/documentario/

casa áfrica daara – curso de línguas

daara é uma palavra da língua wolof que significa “lugar onde se adquire o conhecimento”. o centro cultural casa áfrica inaugura no dia 04 de agosto o seu curso de línguas. começaremos nesse segundo semestre de 2008 com os cursos de inglês e de francês. este último terá por professor o leo gonçalves (este salamalandro que vos fala). turmas reduzidas, preço módico e cultura do universal, eis o nosso convite. a casa áfrica fica na rua leopoldina, 48 – bairro santo antônio. pertinho da vaca. para se matricular ou pedir mais informações, é nos segintes números: (31) 3234 5939 (escritório da casa áfrica), (31) 3344 1803 (centro cultural casa áfrica) ou comigo, no 9130 3720. ou então deixe aqui o seu comentário que eu responderei.

a crise do ensino

a crise do ensino não é uma crise do ensino; não há crise do ensino; jamais houve crise do ensino; as crises do ensino não são crises do ensino; elas são crises de vida; elas são crises de vida parciais, eminentes, que anunciam e acusam crises da vida geral; ou, se preferirmos, as crises de vida gerais, as crises de vida sociais agravam-se, misturam-se, culminam em crises do ensino que parecem particulares ou parciais, mas que, na realidade são totais, porque representam o conjunto da vida social; (…) quando uma sociedade não pode ensinar, não é, de modo algum, porque lhe falta eventualmente um aparelho ou uma indústria;

quando uma sociedade não pode ensinar, é porque essa sociedade não pode ensinar-se, é porque ela tem vergonha, é porque ela tem medo de ensinar-se a si própria; para toda a humanidade, ensinar, no fundo, é ensinar-se; uma sociedade que não ensina é uma sociedade que não se ama, que não se estima; e esse é justamente o caso da sociedade moderna.

charles péguy, 1904

vídeo-conferência sobre léopold s. senghor (para quem não viu)

para quem não viu a vídeo-conferência que apresentei semana passada na puc virtual, já está disponível para baixar no site da tv ponto com [link aqui]. se não quiser baixar, mas estiver afim de ver aqui mesmo no salamalandro, ajeite-se na cadeira e fique à vontade. é só apertar o play.

a videoconferência “negritude, magia e política: a poesia de léopold sédar senghor”, com o poeta e tradutor leonardo gonçalves, fez parte da série panorama arte e cultura, que é promovida juntamente com a diretoria de arte e cultura da puc minas. o projeto biblioteca digital multimídia é uma parceria da puc minas com o instituto embratel 21 e cerca de outras dez instituições universitárias e culturais. a transmissão foi feita através do portal do conhecimento, com direção e apresentação do professor haroldo marques.

hoje na tv ponto com

léopold sédar senghor lendo seus poemascomo vocês já sabem, hoje às 15h estarei participando da vídeo-conferência “negritude, magia e política: a poesia de léopold sédar senghor”. quem quiser assistir, basta clicar neste link:

http://200.244.52.177/embratel/main/mediaview/tvpontocom

quando abrir a página, é só clicar em “assistir agora” e voilà. espero não decepcionar a ninguém (a mim principalmente).

mas enquanto ainda não é hora, e o computador vai se preparando para abrir o player, segue um poema curtinho de senghor para irmos nos distraindo:

furador de atabaque

homem sinistro,
bico de aço,
furador de alegria,
tenho armas seguras.

minhas palavras de sílex, duras e cortantes
te acertarão;
minha dança e minha risada, dinamite delirante,
explodirão
como bombas.

eu te abaterei,
corvo negro,
furador de atabaque
matador de vida.

(trad.: leo gonçalves)

perceur de tam-tam

homme sinistre,/bec d’acier,/perceur de joie,/j’ai des armes sûres.//mes paroles de sílex, dures et tranchantes/te frapperont;/ma danse et mon rire, dynamite délirante,/éclateront/comme des bombes.//je t’abattrai,/corbeau noir,/perceur de tam-tam/tueur de vie.

Entrevista com Patrícia Mc Quade

versos travessos

Professora de uma escola na região metropolitana de Belo Horizonte, Patrícia Mc Quade vem desenvolvendo há quatro anos uma série de ações ligadas à literatura e à criatividade com seus alunos. Em 2003, lançou o primeiro trabalho: o livro “Versos travessos” é um lindo exemplo de boa poesia escrita por crianças de apenas 10 anos. Não parou por aí. No ano seguinte, inspirada nesse primeiro sucesso, decidiu criar uma biblioteca na sala de aula que se manteria com a colaboração dos alunos. O projeto se chamava “Doce de ler” e ela o mantém desde 2004, nas suas sucessivas turmas.

Ao mesmo tempo, compartilhava com eles sua paixão pelas narrativas maravilhosas da infância e também desenvolvia o projeto “Cordelistas mirins”. Deste trabalho, surgem 31 livretos de cordel, todos de autorias dos alunos. A impressão feita manualmente em 2004 com a colaboração de alunos de outras turmas, pessoas da comunidade escolar e até alguns familiares dos alunos que faziam parte do projeto.

E o trabalho dos cordéis continua, desta vez com o nome de “Cantadores de cordel” (a escolha é sempre feita com a colaboração dos alunos, comungando o desejo de ver o resultado final). O resultado (impresso em 2007) são 15 cordéis e mais um, criação coletiva, inspirado no conto “A terra onde nunca se morre”, copilado originalmente por Ítalo Calvino no livro Fabulas italianas (Cia das Letras, 1992). E a brincadeira não para: Patrícia ainda desenvolve atividades de teatro, fantoches, circo, contação de histórias, saraus, coro de poesia, projeto de escrita de fábulas e os seus alunos produzem sempre muita poesia. Não foi à toa que no final de 2005, o programa Minas um livro aberto, da TV Minas, filmou a turma de alunos de Patrícia para fazer o último programa do ano, especial de natal.

Acredito que toda essa experiência anuncia um conjunto de exemplos a serem seguidos na educação brasileira: em primeiro lugar, que o professor nunca abdique de suas paixões ao ministrar suas aulas. No caso (a paixão pela literatura) um excelente produtor de desejo por parte dos alunos. Em segundo lugar, a necessidade de mostrar o valor de uma empreitada com produto final palpável e com valor que ultrapasse a sala de aula. Com esse trabalho, a literatura não vira produto de competição via concurso ou melhor nota, mas instrumento de expressão pessoal.

Por isso decidi propor aqui essa rápida conversa que, tenho certeza, merece ser muito comentada, anotada, discutida e alimentada.

Leo Gonçalves: Fala-se muito, hoje em dia, em como as pessoas escrevem cada vez pior. Isto é um mito conservador ou trata-se de uma realidade a qual devemos combater? Como esse combate pode ser feito?

Patrícia Mc Quade: Eu acredito que se trata dos dois casos. Não diria exatamente “mito conservador”, mas senso comum, jargão reducionista. Me incomoda muito esse rótulo pejorativo que marca muitas realidades em apenas uma. Contudo devo admitir que esse senso comum tem sua razão de ser em parte, pois é notória a dificuldade que os jovens têm atualmente em escrever. Principalmente no que diz respeito à coerência, repetição de palavras e de idéias, dificuldades estruturais de texto e de ortografia, falta de imaginatividade e ausência de argumentação, etc. Essas dificuldades são mais marcantes em determinadas classes sociais, no entanto são problemas em todas elas. Porém, discordo que esse seja um problema que aflorou nesta geração. Talvez esteja mais evidente hoje considerando que, a passos de tartaruga, os brasileiros vêm aumentando sua escolaridade e conseqüentemente suas produções na área da escrita criativa ou acadêmica. Considero como principal desafio da educação a formação de verdadeiros leitores e a democratização da escrita. Logo que a educação regular está cada vez mais difundida, por que não trabalhar agora por uma qualidade de ensino? Não se pode culpar a falta de contato desses jovens com os mais variados tipos de textos pela falha no exercício da escrita: uma imensa máquina textual nos rodeia 24h por dia. O fato está em como essa variedade textual pode ser aproveitada na produção de textos na escola. Para mim, o problema está primeiro nas práticas pedagógicas das instituições de ensino que não respondem mais às necessidades da geração de hoje e das que ainda estão por vir. Nossa máquina educacional está obsoleta. Já que o senso comum sobre a dificuldade de se escrever é a nossa realidade, como devemos combatê-lo? Digo que melhorando a produção textual das crianças e jovens nas escolas públicas e particulares, reinventando outras novas práticas didáticas e renovando suas relações com o próprio texto. Mas, como fazer? Trazendo de volta o prazer do texto, das palavras, dos sons. E ainda antes disso, trazer novamente a própria prática da escrita para dentro das salas de aula, ela deve ser o foco em todas as disciplinas, principalmente na área das humanas. Reconto, interpretação de texto que desafie o aluno, leituras ensaiadas de vários gêneros textuais, relato, relatório, resenha, esquema, resumo, produção criativa e/ou coletiva, poema, propaganda, trava-língua, paródia, paráfrase, tudo pode ser trabalhado de forma substancialmente significativa dentro das salas de aula, desde que visando primeiro, uma base humana: a consolidação de uma auto-estima dentro de um regime de confiança onde o erro faz parte do processo assim como o sucesso; e segundo: o aprimoramento da escrita em cada ínfimo detalhe. Considero uma como reflexo da outra.

Leo Gonçalves: Qual o papel do livro e da literatura na nossa sociedade e como você entende o papel dela na sala de aula?

Patrícia Mc Quade: É muito difícil responder essa pergunta. Não saberia aqui discorrer sobre a importância do livro e da literatura para nossa sociedade. Por mais que construísse uma possível resposta acho que nunca a esgotaria. Esta pergunta me remete à idéia de que a escrita surgiu da necessidade de se fazer registros religiosos, que os nossos primeiros livros foram hieroglifos para depois pergaminhos, até chegar ao formato que conhecemos hoje e já migramos para outro estágio de livro que passa do concreto ao virtual. Basta pensar que um dos primeiros livros a serem impressos foi a bíblia traduzida para o alemão e depois disso nasce uma imensa industria editorial que vai desde literatura e ciência até panfletos que são distribuídos nas ruas. Através do livro se descobrem saberes, conhecimentos que não podemos adquirir unicamente através do contato com o mundo do nosso cotidiano. Através do livro se formam e transformam ideologias, crenças e realidades. Podemos sim descobrir muitas coisas a partir da leitura de um livro. A curiosidade é sua melhor e maior aliada. Com curiosidade e um bom livro nas mãos acredito que se pode fazer mágica. A criatividade é uma magia que deve ser alimentada através de leituras diversas. Para mim, a literatura é uma dessas possibilidades, e uma das mais agradáveis. Procuro apresentar aos meus alunos esse prazer, o de se encontrar quando se encontra o outro. O livro é um dos meios, a literatura é uma das mensagens. Ela toca no humano e o faz despertar do imenso sono que é a realidade. A literatura atiça as percepções do nosso corpo porque trabalha a mente, porque a estimula a conhecer. Quem gosta de literatura gosta da idéia de que as possibilidades de conhecimentos são infinitas, de que nunca vai conseguir conhecer tudo sobre determinado assunto. Quem gosta de literatura gosta de pesquisa, gosta da escrita e gosta da dúvida. Para mim esses são elementos muito importantes dentro de uma sala de aula para a formação de verdadeiros estudantes: leitura, pesquisa, escrita e dúvida. Esses elementos podem ser despertados e trabalhados a partir da literatura, mas esse não é o único jeito. Cada professor deve descobrir qual é o seu.

Leo Gonçalves: Nas suas aulas do curso fundamental você dá um enfoque todo especial à literatura. Não apenas como fonte de conhecimento, mas como liberador da criatividade dos educandos. Seus alunos lidam com a literatura como leitores, criadores, performadores. Todas essas atividades são complementos apenas para o ensino de Português e Literatura? Como a maioria dos professores do ensino fundamental você trabalha também com outras disciplinas, como Geografia, Ciências, História. Seus projetos colaboram para o aprendizado das outras áreas?

Patrícia Mc Quade: Meu enfoque especial é a literatura porque eu gosto de literatura. Dizem que meus projetos são legais, eu acho que isso se dá porque tento despertar nos meus alunos o gosto por aquilo que eu gosto. Mais do que ensinar, neste caso, é compartilhar. A partir dessa soltura de compromissos formais acontece a magia da criatividade junto com o aprender. Não há avaliações nem conceitos a serem contados. O leitor e a leitura podem acontecer, de repente, prazerosos. As crianças começam a notar coisas que só uma leitura solta poderia mostrar. As críticas que partem delas são muitas, condescendentes e severas. Indicações de autores e títulos passam a ser cada vez mais freqüentes em sala de aula. O contato com a literatura acontece. A contação de histórias é um ótimo meio para se chegar ao prazer de ler: o retorno ao prazer de ouvir. Ouvir histórias consiste também em uma leitura, estimula a criatividade, silencia o agitado corpo da criança que fica agora atiçado pela curiosidade de ouvir e faz falar outras vozes, as da imaginação. Trabalhar variados gêneros literários como teatro e poesia, de uma forma bem concreta, seria outra maneira de tocar no prazer do texto. Mas tudo isso não se dá de uma forma totalmente solta. O professor deve estar atento aos interesses que são despertados nos alunos e modificar o projeto didático a fim de dar conta dessas curiosidades, desses desejos e, com isso, pode-se aprofundar nas suas mais variadas disciplinas: geografia, história, artes, filosofia, etc. Os diferentes saberes não podem ser compartimentados, considerando que no mundo eles estão em constante diálogo. Trabalhar a biografia de um autor, o contexto em que determinada obra foi escrita, aquele momento político, traçar itinerário a partir de uma literatura de viagem, ou mesmo a localização de determinada obra dentro de um tempo/espaço seria somente um ponto de partida para outras novas descobertas. Para isso basta ouvir as perguntas que surgem dos alunos em sala de aula e saber transformá-las em propostas de pesquisa e/ou produção criativa. Trabalhando de forma interdisciplinar, o professor passa a ser também um construtor de pontes.

Leo Gonçalves: O poeta Waly Salomão, pouco antes de falecer, quando assumiu a mesa do livro e da leitura no ministério de Gilberto Gil, criou um projeto que fazia par com o programa “Fome Zero”. Waly não viu avançarem suas ações, mas numa entrevista concedida a Heloísa Buarque de Hollanda, afirmava: “minha meta é transformar o livro numa carta de alforria”. Você crê que o livro pode ser uma carta de alforria? De que maneira?

Patrícia Mc Quade: Só acredito na carta de alforria da princesa Isabel, e olha que nem ela conseguiu de fato dar liberdade a ninguém. Não vejo o livro ou o conhecimento que ele nos traz como instrumentos de libertação, pelo contrário, já vi muito intelectual por ai aprisionado em determinados conhecimentos, linhas de pesquisas ou defendendo este ou aquele autor de maneira cega e limitada, e ainda muitos discursos científicos atrelados a preconceitos. Os livros e seus conhecimentos não libertam ninguém. A bíblia protestante veio com o objetivo de libertar o cristão da ditadura da interpretação católica e acabou se transformando em outras algemas para o homem. Talvez se pensássemos nisso como uma metáfora seria mais convincente: “o livro e a literatura como libertadores da criatividade”, e sabemos que esta só acontece quando livre. A liberdade, acredito eu, pode acontecer depois do livro, depois da leitura, quando o sujeito passa a estabelecer relações sobre aquilo que já conhece com o que acabou de conhecer através de sua leitura. Talvez o livro seja um meio para que uma pessoa possa construir o caminho de sua liberdade, talvez um modificador de mentalidade se o leitor assim se permitir, um enriquecedor de conhecimentos, mas essa construção é árdua, depende de cada receptor e não vem de presente, encadernada em um livro. Depois da leitura de um livro pode vir a dúvida ou não, aquilo que intriga, que joga o leitor num momento de reflexão e muitas vezes de angústia, ou não acontecer absolutamente nada. Não basta viabilizar o acesso de todos ao livro, deve-se hoje ensinar que a função dele é a de questionar-se a si mesmo e não de instituir verdades. Considero o livro e o saber que ele nos traz como apenas um dos meios para uma possível libertação, mas isso vai depender do tipo de uso que se faz do livro, e o que se pode construir a partir dele.

arte, literatura & educação no overmundo

versos travessos - criação coletiva
convido vocês para lerem a minha primeira colaboração no site overmundo.

trata-se de uma entrevista com a professora patrícia mc quade,  venho colaborando nos trabalhos que ela desenvolve nos últimos anos e achei que esse é um momento maduro para divulgar. opiniões intensas e muito afirmativas a respeito da educação e da literatura desde a infância. questões que merecem um destaque todo especial, para muito além do overmundo ou do mundo over.

quem quiser dar uma olhada, eis o endereço:

www.overmundo.com.br/entrevista

entrem, votem, comentem. e participem também do overmundo.

elogio do ópio

há alguns dias, escrevi algo sobre o filme tropa de elite e, relendo e conversando com algumas pessoas, percebi que não fui exato num ponto: não tenho nada contra drogas. pelo contrário. sou a favor de todos os tipos de embriaguez, de delírio, de loucura, de paixão. não acho que a culpa da violência do tráfico seja da burguesia usuária. isso seria uma injustiça. o que eu queria dizer é que a culpa é uma coisa insossa que não resolve e nem resolverá jamais problema nenhum. quando se toca na culpa, nada tem solução. tudo é um mar de lamentações e pronto. se acabou.

sobre a burguesia e o seu baseado, o que me irrita é o uso burguês disso. como também me irrita ver playboy vestido de punk, barrigudos cervejeiros aprisionando suas namoradas e suas namoradas querendo ser aprisionadas pelos namorados para depois reclamarem que homem não presta, soluções compradas em shoppings centers, headbangers cagões, a vida em saquinhos de plástico e garrafas pet, praticidade vazia de significado, oba-oba que jura de pé junto que o bom da vida é o deixa disso vamo pedir mais uma, acende um fininho aí vira pra lá não é comigo. burgueses pensam que precisam ganhar um prêmio porque adoram fumar o seu caretíssimo baseado.

odeio todas as formas de burrice. mas todo mundo sabe que ela, a burrice, não é mérito de um ou de outro grupo específico de pessoas. aliás, é ela que domina a gorda massa das universidades brasileiras. não vai ser porque alguém curte o seu baseado que ela ou ele vai ser idiota, esperto, filósofo, marginal, poeta, playboy ou udigrudi. seria maniqueísmo (e me desculpem as pessoas que pensam assim, seria burrice) demais da minha parte.