Todos os posts de Leo Gonçalves

Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

poesia que salva

hoje fui fazer uma rápida visita ao suplemento literário (que agora está sob o comando de jaime prado gouveia), tratar de assuntos ligeiramente burocráticos. aproveitei, peguei o novo número (fevereiro de 2009) e saí feliz. não é sempre que me agrada tanto. o novo número tem, além do texto sobre itamar assumpção escrito pelo ricardo corona, poemas da marguerite duras traduzidos pelo poeta paulinho andrade, a reprodução de um bonito trabalho da anna cunha, entre outras coisas, tem  um oriki-poema de odé e a biografia de sua autora (jurema carvalho) que me fizeram sorrir:

okê bambi ô clim

caboclo roxo da esteira de junco
sua casa é cabana de folhas

o peito de aço
cobre de penas

guerreiro da cor morena
corta língua, corta mironga
arco na mão

okê odé – lança no ar
seu brado de bumba

negro estrangeiro, filho da flecha,
vai – inaugura os caminhos
senhor aprendiz

(jurema carvalho tem 75 anos. é poeta e professora de literatura aposentada. há quinze anos trocou o mar de águas salgadas pelo oceano de ondas imóveis. hoje acredita que a verdadeira poesia é aquela que salva.)

clique aqui para ler a versão on-line

flávio nickel e seus poemas antimísseis

o lançamento do WTC Babel S. A. foi um acontecimento especial. muita gente boa, bons bate-papos, uma cachacinha para acompanhar e muita conspiração prometida para o ano de 2009 em pleno 19 de janeiro.

estava entre os convidados, meu amigo flávio nickel, com quem já andamos ensaiando umas traduções da poesia de allen ginsberg.

na saída, ele me disparou um elogio e me entregou um envelope. “leia isso”, e se foi. são os geek poemas. uma série de poemas visuais anti-mísseis baseados em linguagem html e em outras parafernálias genias. vale a pena conferir:

by flavio nickel
by flavio nickel
by flavio nickel
by flavio nickel

o flávio escreve no favela cultural: www.favelacultura.blogspot.com

duração & diferença: luiz carlos garrocho

já estala nas telas o novo blogue da rede redezero: duração & diferença, comandado pelo luiz carlos garrocho.

veja aí o que diz o luiz carlos:

Resolvi criar esse blog porque a parte de artes cênicas estava se diluindo um pouco nesse espaço. Então, considerei que seria melhor um blog dedicado exclusivamente à criação cênico-corporal, incluindo as conexões com a filosofia.

Este blog continua voltado às militâncias em arte e cultura, nomadismos, zonas de experimenação e micropolíticas. Ainda, há o blog Cultura do Brincar, voltado para a cultura lúdica da infância, suas linhas de errância, teatro e educação.

www.luizcarlosgarrocho.redezero.org

joyce mansour (ahora corregido)

déjame amarte
me gusta el sabor de tu sangre espesa
lo guardo desde hace tiempo en mi boca desdentada
su ardor me quema garganta abajo
me gusta tu sudor
me gusta acariciar tus axilas
bañadas de alegría
déjame amarte
déjame lamer tus ojos cerrados
déjame abrasarlos con mi lengua de punta
y rellenar sus cuencas con mi saliva
déjame cegarte
***
quieres mi vientre para alimentarte
quieres mi cabello para saciarte
quieres mis riñones mis senos mi cabeza afeitada
quieres que yo me muera lentamente lentamente
que yo muera murmurando palabras de niño
***
quiero mostrarme desnuda ante tus ojos cantantes
quiero que me mires gritar de placer
que mis piernas flexionadas bajo un gran peso
te empujen a ciertos actos impíos
que el pelo liso de mi cabeza
se enrede entre tus uñas curvas de deseo
que te pongas de pie, ciego, creyente
mirando desde arriba mi cuerpo desplumado

(traducción: leo gonçalves y maría josé pedraza heredia)

*************

laisse-moi t’aimer./j’aime le goût de ton sang épais/je le garde longtemps dans ma bouche sans dents./son ardeur me brûle la gorge./j’aime ta sueur./j’aime caresser tes aisselles/ruisselantes de joie./laisse-moi t’aimer/laisse-moi sécher tes yeux fermés/laisse-moi les percer avec ma langue pointue/et remplir leur creux de ma salive triomphante./laisse-moi t’aveugler.

***
tu veux mon ventre pour te nourrir/tu veux mon ventre pour te rassasier/tu veux mes reins mes seins ma tête rasée/tu veux que je meure lentement lentement/que je murmure en mourant des mots d’enfant

***
je veux me montrer nue à tes yeux chantants/je veux que tu me voies criant de plaisir/que mes membres pliés sous un poids trop lourd/te pousse à des actes impies/que les cheveux lisses de ma tête offerte/s’accrochent à tes ongles courbés de fureur/que tu te tiennes debout aveugle et croyant/regardant de haut mon corps déplumé.

**************

encontrei este poema no livro poesia erótica em tradução, de josé paulo paes. o poema é de joyce mansour, uma poeta inglesa de origem egípcia que escrevia em francês surrealista. no livro, ele já tem uma excelente tradução para o português. mas para dar o meu toque, fica a tradução para o espanhol (agora com a cumplicidade da maría josé e graças à sugestão do francisco). com todo o nosso carinho.

a lente objetiva do poema

pin holepinhole

pensar que um poema pode ser um objeto de palavras completamente desnudado. através de um poema é possível comunicar, informar, pensar, refletir (e não apenas reclamar da vida, chorar amores perdidos, expressar as coisas da alma). assim como o cinema de godard, alguns lances da música contemporânea, certas performance-arte, e por aí vai.

as vanguardas do século XX abriram o poema para outros usos da palavra. não só música. não só visualidade. a partir das técnicas que cada poeta cria para seu poema, ele opera uma transgressão da linguagem, como que abrindo uma terceira margem na língua. ele não é escravo das regras que a língua impõe, e por essa carta branca que recebe, pode reinventar o mundo a cada poema novo, dando dimensões inesperadas para a realidade. nada disso se faz apenas no campo da subjetividade, do sujeito.

objetivamente, um poema recria vida, detona acontecimentos.

a palestra “a lente objetiva do poema” é um diálogo aberto, uma proposta, um céu aberto. será inaugurada nesta segunda-feira, dia 23 de fevereiro às 10h, na Escola Autônoma de Feriado”.

estúdio azucrina
r. macedo, 117
floresta – belo horizonte.mg

saiba mais no: www.azucrina.org/eaf/

escola autônoma de feriado

escola autônoma de feriado

até quando podemos pensar que nem tudo que almejamos em termos de ação viva está inteiramente condicionado pelas relações mediadas por dinheiro ou pelas coibições típicas dos aparelhos coercivos?

a escola autônoma de feriado é uma espécie de recriação, um passo a mais no já revolucionário “carnaval revolução”. a proposta é a de abrir a cabeça para reinventar um dos feriados mais tradicionais do brasil. a idéia de se pensar “outras formas de”, já dentro do fazer de uma “outra forma de se fazer carnaval”.

na edição 2009, a programação está repleta de vida. serão ao todo 10 oficinas, show com 6 bandas e 4 djs, bazar livre, mostra de culinária e anti-culinária repleta de receitas veganas, intercâmbio de softwares livres e por aí vai.

quanto a mim, este salamalandro que vos fala, apresentarei o diálogo-proposição “a lente objetiva do poema”.

para saber mais, é lá no www.azucrina.org/eaf

poro: radicalidade e delicadeza

grupo poro
proposição do poro para o vac

radicalidade = tomar as coisas pela raiz (k. marx)

o verão arte contemporânea este ano está inspirador. 2009 começa subversivo. nesta versão, o poro (composto pela dupla marcelo terça nada! e brígida campbell) participa com suas intervenções radical-delicadas. pequenas inserções de poesiarte em alguns cantos inesperados. um tropeço e você se depara com uma frase iluminada: “veja através”, “assista sua máquina de lavar como se fosse um vídeo”, e por aí vai.

ou então, numa parede inesperada na esquina da sua casa, dessas que você acostumou a ver descascar-se pela ação da natureza ou ficarem cobertas de pixações, você vê de repente uma série de azulejos daqueles que você já não vê desde a sua infância.

pequenas inserções de poesia no cotidiano que pouco a pouco vão reconstruindo o sentido da beleza na vida urbana. alguém ao meu lado me olha com olhar estranho e me faz a pergunta que me fazem sempre: “e isso é arte?”, ao que eu respondo sem palavras: “da mais fina que há”. eu acho que isso eu nem precisava falar, basta ver (mas acho que esse tipo de pergunta é daquelas que fazem um caboclo fingir que não entende o que está vendo). por isso a boca só diz: “e isso importa?”

veja o trabalho do poro no site: www.poro.redezero.org