Todos os posts de Leo Gonçalves

Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

hoje eu decidi fazer um soneto

hoje eu decidi fazer um soneto.
do meu jeito, não tenho pretensões
de ser vinicius, mattoso ou camões.
hoje eu decidi fazer um soneto.

em segredo: vai que surgem espiões
da cia ou qualquer serviço secreto
ou mesmo um escritor analfabeto
querendo engalobar meus palavrões.

ou pior: vai que um crítico perverso
depois de escarafunchar o meu verso
encontre mensagens subliminares.

não. por isso eu o fiz e logo
deletei dei logout lancei fogo
e fui pra rua ver os malabares.

(leo gonçalves)

e-books pra terminar 2010

O ano de 2010 vai entrar pra história como o ano do iPad e dos kindles. O livro-e e seus navegadores foi assunto em várias rodas, bienais, encontros literários, discussões aguerridas e polêmicas quanto à possivel e amedrontadora entrada dos livros eletrônicos que supostamente substituiriam o livro de papel.

Em 2010, pela primeira vez, viu-se que a venda de livros não folheáveis era de interesse do mercado e algumas grandes lojas começaram a exigir dos editores um exemplar eletrônico vendável para cada livro de papel. Para os poetas e leitores de poesia, interessados em literatura em geral e amantes dos objetos feitos com capricho, me parece que a novidade já está sendo benéfica e tende a ser mais ainda.

Entrando nessa onda e pra fechar o ano e preparar os ânimos para o que vem por aí, tem mais dois e-books de amigos que me deixaram cheio de entusiasmo!

Um é o excelente livro Leve, que o Marcelo Sahea disponibilizou lá no Poesilha e fica até quando. É barato: custa apenas um post no twitter ou no facebook. Não subsitui o exemplar em papel, claro (bela e caprichada edição em formato quadrado que eu já tenho!). Segundo o Marcelo, custa menos que uma sidra. Portanto, a dica é: leia o pdf e adquira seu exemplar de papel e deixa de conversa fiada sobre substituição ou não do produto manuseável.

O outro é esse que você vê acima: Do amor como ilícito, do meu amigo, sósia e irmão mais velho, o poeta belorizontino Anízio Vianna. Para quem não o conhece, Anizio é autor de Dublê de anjo e Itinerário do amor urbano, o primeiro deles vencedor do prêmio Cidade de Belo Horizonte em 1996. Artista do verbo, já defendeu mestrado sobre a performance dos rappers, traduziu poesia (colaborou no estilingue 2) e é o inventor de um negócio chamado poema-notícia. Anízio é o cara.

Tá bom pra começar, não tá? Ou pra terminar. Cliquem aí e divirtam-se.

Howl (2010)

Para ler Allen Ginsberg, assim como William Burroughs e Lawrence Ferlinghetti, é preciso esquecer a geração beat. Perdemos muito tempo tentando entender o que foi o movimento poético-cultural datadíssimo que conquista seguidores anacrônicos em pleno século XXI. Tratá-lo como um beatnik é enfileirá-lo na prateleira das coisas domesticadas ou em vias de. Perde-se assim todo o poder operatório da sua linguagem. Não. Ginsberg é como Rimbaud. Sem labels. Deixe o uivo vibrar nos seus tímpanos primeiro. E depois veja o que acontece.

Estou dizendo isso como uma resposta ao apaixonado comentário do amigo Ricardo Domeneck, que transmitiu a notícia deste filme que eu desconhecia. Howl (2010), dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman. No papel de Allen Ginsberg, o ator James Franco interpreta incrivelmente o tom de voz e o estilo sarcástico-bem-humorado.

soneto das coisas pequenas

uma cana pequena é uma caneta
a camisa pequena é camiseta
uma perna pequena uma perneta
uma bolsa pequena é uma boceta

um carro pequeno é um carreto
um disco pequeno é um discreto
um alfa pequeno é um alfabeto
um bolo pequeno é um boleto

se uma capa é pequena ela é capeta
uma réplica pequena é repleta
e se o punho é pequeno é punheta

uma mula pequena é um amuleto
quando o remo é pequeno é um arremedo
e se o sono é pequeno é um soneto

(leo gonçalves)

Dica: POEMOBILES

Foi lançado na última quinta-feira, dia 02 de dezembro, mais uma histórica edição dos POEMOBILES de Augusto de Campos. O projeto original, criado nos anos 1960 pelo artista multimídia Julio Plaza, foi maravilhosamente refeito pelo artista gráfico Vanderley Mendonça, que comanda o selo Demônio Negro. Até onde sei, quem quiser adquirir seu exemplar, deverá se adiantar: trabalho com grandes características artesanais, não durará muito no mercado.

Corre lá: www.annablume.com.br/demonionegro

Rebelião na Zona Fantasma

Nesta quarta, dia 08 de dezembro, às 20h na biblioteca Alceu Amoroso Lima (Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros – SP), Ademir Assunção apresenta a Rebelião na Zona Fantasma. O concerto, que virou disco em 2005, tem a participação dos músicos Marcelo Watanabe (guitarra), Caio Góes (baixo) e Caio Dohogne (bateria). No vídeo acima, um poemablues performado no Itaucultural.

Desarme a violência em você

Minas Gerais é o segundo estado brasileiro em quantidade de pessoas negras e seus descendentes. Esta é uma marca da mineiridade pouco comentada. Mas o traço afro tem sido a fonte do que de melhor tem-se produzido no estado. Das Noites do Griot aos duelos de MC, a cultura afro-brasileira e suas variantes tem recriado (e, talvez, subvertido) a famosa “mineiridade”.

Pois no último domingo, um visível ato de racismo chocou a cidade de Belo Horizonte. O rapper, produtor, e educador social Ice Band foi brutalmente atacado num bar do bairro Santa Efigênia. A discussão surgiu por acharem que ele era um pedinte. A conclusão desastrosa foi um linchamento que o deixou com uma clavícula quebrada, dentes afundados, vários hematomas pelo corpo, o joelho ferido e a alma dilacerada clamando por justiça. Ao procurar a polícia, também foi mal recebido. Sendo, inclusive, identificado como perturbador da ordem.

Por isso, hoje, sexta-feira, 03 de dezembro, haverá um Duelo de MCs para lançar a campanha DESARME A VIOLÊNCIA EM VOCÊ. Leia abaixo a convocatória.

Para quem não sabe, Ice Band, o Hudson, é um sobrevivente da guerrilha urbana. Ex-bandido, traz no próprio corpo as marcas de sua história. Sua vida hoje é dedicada a tirar os jovens da situação arriscada do crime como educador social. É convidado para falar de sua experiência em todo o Brasil e é respeitado por rappers e artistas. O conheci em 2008 por ocasião do lançamento da revista Roda – Arte e Cultura do Atlântico Negro, nº 6, na qual ambos colaboramos. Uma pessoa dócil e agradável, casado com a generosa jornalista Janaína Cunha Melo com quem tem um filho.

Esperamos que a justiça seja feita, que os agressores sejam realmente punidos e que esse tipo de situação (tema de um dos raps do Ice Band) pare de ocorrer definitivamente.

Para saber mais sobre o triste fato, leia as notícias no Estado de Minas, no jornal O tempo e com destaque especial, esta crônica de Silvana Mascagna. Sugiro ainda, muito especialmente, que você ouça um pouco do trabalho do Ice Band lá no Myspace.

****

CONVOCATÓRIA

O Centro de Referência Hip Hop Brasil, a Família de Rua e o Coletivo Nospegaefaz convidam militantes do hip hop, ativistas dos movimentos sociais e populares, artistas, representantes de organizações da sociedade civil e amigos a participarem do lançamento da campanha DESARME A VIOLÊNCIA EM VOCÊ, nesta sexta-feira, dia 3 de dezembro, a partir das 20h, no Duelo de MC’s, em frente à Serraria Souza Pinto.

Esta ação presta solidariedade irrestrita ao rapper e arte-educador Hudson Carlos de Oliveira, o Ice Band, que foi covardemente agredido domingo passado, em crime de motivação racista e de intolerância,em frente ao monumento de homenagem a Zumbi dos Palmares, no bairro Santa Efigênia.

A partir de agora, todas as sextas-feiras um muro da cidade receberá a intervenção de um artista plástico de periferia, até que o processo judicial se encerre com a condenação dos culpados por este ato de barbárie que fere a dignidade humana e os direitos civis de todos os brasileiros. Em defesa da vida, da liberdade e da justiça, participe.

Informações: crh2b@yahoo.com.b

Revista Celuzlose

Está no ar a revista Celuzlose nº 07. Para quem não conhece a revista, é uma iniciativa bacana, divulgando de tempos em tempos novidades e perenidades da poesia brasileira viva. No número 07, você lê uma entrevista com Armando Freitas Filho e alguns de seus poemas, Bruno Brum, Roberta Ferraz, Thiago Ponce de Moraes, Chiu Yi Chih, o chileno recém-camarada Ignacio Muñoz Cristi. Ana Ramiro e Beatriz Bajo falam na sessão “O que é poesia”. André Dick fala sobre Rimbaud e disponibiliza algumas traduções-invenções, de sua autoria. E tem ainda o poeta e tipógrafo ouropretano Guilherme Mansur, com uma sequência de poemas visuais! Uma belezura.

Além de folhear a revista Celuzlose nº 7 aqui no Salamalandro, você pode também descobrir os outros números no www.celuzlose.blogspot.com

Vale a pena!