black or white, totem, tabu e algumas palavras do caetano veloso

“eu não gosto dessa vontade desesperada de ser americano”. é o que diz o caetano veloso, que está lá no obra em progresso lançando belas bombas. (dica surpreendente do ric)

eu também não gosto, caetano: oswald de andrade, quando lançou o manifesto antropófago, falou: a transformação constante do tabu em totem. quer dizer, pegar a palavra-tabu “antropofagia” (a vergonha indígena nacional tupiniquim) e transformá-la num totem, num objeto de adoração, culto e respeito.

depois vieram os negros francófonos, léopold sédar senghor e aimé césaire, pegaram as palavras “negritude” e “mestiçagem”, que eram usadas para oprimi-los e criaram um movimento literário-político-cultural que abalou as centenárias estruturas do poder franco-europeu, além de inspirar milhões de jovens negros a se afirmarem como o que eles realmente são.

não sei para quê ter medo das palavras. se eu disser que sou negro, se eu disser que sou preto, tudo é poesia. mas se eu disser que negro (ou preto ou black ou nigro ou nigger ou nègre ou négro ou negger ou noir) é politicamente incorreto, eu estou estigmatizando a cor. e é isso que estão fazendo agora, quando mandam a gente falar “afrodescendente”. se eu disser isso, vou ter que falar também que sou eurodescendente? indiodescendente? nipodescendente? arabodescendente?!

não dava para aprender a lição dos mestres?

4 pensou em “black or white, totem, tabu e algumas palavras do caetano veloso

  1. perfeito, leo. sempre digo: afro-descendente? mas, se a vida começou mesmo na áfrica, TODOS somos afro-descendentes. ou digo: afro-descendente? prefiro ser afro-ascendente. que tal segunda-feira, às 15h, lá no lira? diga aí. super-abraço!

  2. pois é, ric, assim a vida da gente vai ficando cada vez mais difícil. imagina se para cada coisa q censuramos, a gente inventar um meio mais complicado de dizer. a língua vai virar uma coisa muito feia, insuportável – ou então ficaremos mudos.

  3. Pessoal, a opinião do Caetano é sempre interessante, mas acho que aqui ele misturou várias coisas. A tropicália do Gil e dele trouxe o cabelo “bléqui pau”, um visual semelhante ao de Hendrix.
    Nadime Gordimer, escritora branca da África do Sul, definiu-se como “africana branca”.

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