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bruno brum :: sabor graxa

sem-titulo

infringindo os ensinamentos mais básicos da educação repassada de pais para filhos, volto a falar com estranhos e retomo as atividades em um blogue. e é isso.

bruno brum é um cara interessante. intercambiante. cores sim, às vezes. às vezes cores não. escreve no sabor graxa e está na turma dos meus poetas preferidos. é também um dos meus melhores interlocutores, para sorte minha. há algum tempo, vivendo a fase do cores não, o sabor graxa estava sem endereço. eu olhava para a minha blogueteca de cabeceira, clicava no nome dele às vezes, e não tinha o blogue. “coisas de bruno brum”, eu pensava. isso é algo que faz parte da performance dele. e por isso eu deixava lá assim mesmo, sem destino. mas fiat lux. o sabor graxa aparece de volta com endereço novo, várias novidades e descobertas.

na lista de novidades, estão os livros mínima idéia e cada disponíveis para download. tem também os dois primeiros números da revista de autofagia, para o prazer de quem esteve longe ou simplesmente não pôde ainda adquirir o seu exemplar.

na lista das descobertas, alguns vídeo-poemas feitos a partir de poemas dele, realizações de jéssika curto.

bem, novidade, tem mais uma. mas essa virá no próximo post.

fico feliz, bruno. saravá!

www.saborgraxa.wordpress.com

revista zunái 17 – poesia & debates

zunái - revista de poesia & debates

sempre tenho prazer em divulgar aqui os novos números que vão saindo da revista zunái. um periódico semestral que existe há cinco anos e que tem uma assiduidade exemplar e rara nesa república das letras. não que os editores estejam nadando na liberdade de ação. ela sobrevive, como quase tudo o que se faz por aqui, graças à boa vontade de quem faz. veja aí o que diz o claudio daniel:

A revista, que existe há cinco anos, passou por sérias dificuldades financeiras: ela é mantida por seus editores e eventuais colaboradores e o nosso orçamento é muito limitado. Felizmente, várias pessoas escreveram, oferecendo apoio à revista, e agora será possível manter a publicação por mais algum tempo. Claro, não recebemos nenhuma proposta de patrocínio da Saraiva, nem da Siciliano, Globo ou Companhia das Letras; foram amigos e leitores da revista que, generosamente, aceitaram contribuir para o pagamento de nossa webmaster, Mariza Lourenço. Caso contrário, esta edição seria a última. Fico feliz em poder continuar editando a Zunái, ao lado do Rodrigo de Souza Leão, com os mesmos princípios de invenção, rigor e recusa ao fácil que sempre orientaram o nosso trabalho.

no novo número tem abreu paxe, entrevista com maria esther maciel, guto lacaz na galeria, muestra (en español) de poesía argentina, traduções de poesia chinesa realizadas pela portuguesa ana hatherly, wordsworth, antonio machado, elizabeth bishop e outros via ruy vasconcelos, e mais ensaios, contos, idéias e debates a transbordar.

dentre as pérolas, ficam aí de presente 2 haicais de kobayashi issa (tradução de claudio trindade):

a criança chora, esperneia…
“dá pra mim”
o brilho da lua cheia

***

pobre, pobre, pobre,
a mais pobre das províncias, — e ainda assim,
sentir essa brisa

vá lá ver com seus próprios olhos: www.revistazunai.com

poesia que salva

hoje fui fazer uma rápida visita ao suplemento literário (que agora está sob o comando de jaime prado gouveia), tratar de assuntos ligeiramente burocráticos. aproveitei, peguei o novo número (fevereiro de 2009) e saí feliz. não é sempre que me agrada tanto. o novo número tem, além do texto sobre itamar assumpção escrito pelo ricardo corona, poemas da marguerite duras traduzidos pelo poeta paulinho andrade, a reprodução de um bonito trabalho da anna cunha, entre outras coisas, tem  um oriki-poema de odé e a biografia de sua autora (jurema carvalho) que me fizeram sorrir:

okê bambi ô clim

caboclo roxo da esteira de junco
sua casa é cabana de folhas

o peito de aço
cobre de penas

guerreiro da cor morena
corta língua, corta mironga
arco na mão

okê odé – lança no ar
seu brado de bumba

negro estrangeiro, filho da flecha,
vai – inaugura os caminhos
senhor aprendiz

(jurema carvalho tem 75 anos. é poeta e professora de literatura aposentada. há quinze anos trocou o mar de águas salgadas pelo oceano de ondas imóveis. hoje acredita que a verdadeira poesia é aquela que salva.)

clique aqui para ler a versão on-line

flávio nickel e seus poemas antimísseis

o lançamento do WTC Babel S. A. foi um acontecimento especial. muita gente boa, bons bate-papos, uma cachacinha para acompanhar e muita conspiração prometida para o ano de 2009 em pleno 19 de janeiro.

estava entre os convidados, meu amigo flávio nickel, com quem já andamos ensaiando umas traduções da poesia de allen ginsberg.

na saída, ele me disparou um elogio e me entregou um envelope. “leia isso”, e se foi. são os geek poemas. uma série de poemas visuais anti-mísseis baseados em linguagem html e em outras parafernálias genias. vale a pena conferir:

by flavio nickel
by flavio nickel
by flavio nickel
by flavio nickel

o flávio escreve no favela cultural: www.favelacultura.blogspot.com

joyce mansour (ahora corregido)

déjame amarte
me gusta el sabor de tu sangre espesa
lo guardo desde hace tiempo en mi boca desdentada
su ardor me quema garganta abajo
me gusta tu sudor
me gusta acariciar tus axilas
bañadas de alegría
déjame amarte
déjame lamer tus ojos cerrados
déjame abrasarlos con mi lengua de punta
y rellenar sus cuencas con mi saliva
déjame cegarte
***
quieres mi vientre para alimentarte
quieres mi cabello para saciarte
quieres mis riñones mis senos mi cabeza afeitada
quieres que yo me muera lentamente lentamente
que yo muera murmurando palabras de niño
***
quiero mostrarme desnuda ante tus ojos cantantes
quiero que me mires gritar de placer
que mis piernas flexionadas bajo un gran peso
te empujen a ciertos actos impíos
que el pelo liso de mi cabeza
se enrede entre tus uñas curvas de deseo
que te pongas de pie, ciego, creyente
mirando desde arriba mi cuerpo desplumado

(traducción: leo gonçalves y maría josé pedraza heredia)

*************

laisse-moi t’aimer./j’aime le goût de ton sang épais/je le garde longtemps dans ma bouche sans dents./son ardeur me brûle la gorge./j’aime ta sueur./j’aime caresser tes aisselles/ruisselantes de joie./laisse-moi t’aimer/laisse-moi sécher tes yeux fermés/laisse-moi les percer avec ma langue pointue/et remplir leur creux de ma salive triomphante./laisse-moi t’aveugler.

***
tu veux mon ventre pour te nourrir/tu veux mon ventre pour te rassasier/tu veux mes reins mes seins ma tête rasée/tu veux que je meure lentement lentement/que je murmure en mourant des mots d’enfant

***
je veux me montrer nue à tes yeux chantants/je veux que tu me voies criant de plaisir/que mes membres pliés sous un poids trop lourd/te pousse à des actes impies/que les cheveux lisses de ma tête offerte/s’accrochent à tes ongles courbés de fureur/que tu te tiennes debout aveugle et croyant/regardant de haut mon corps déplumé.

**************

encontrei este poema no livro poesia erótica em tradução, de josé paulo paes. o poema é de joyce mansour, uma poeta inglesa de origem egípcia que escrevia em francês surrealista. no livro, ele já tem uma excelente tradução para o português. mas para dar o meu toque, fica a tradução para o espanhol (agora com a cumplicidade da maría josé e graças à sugestão do francisco). com todo o nosso carinho.

a lente objetiva do poema

pin holepinhole

pensar que um poema pode ser um objeto de palavras completamente desnudado. através de um poema é possível comunicar, informar, pensar, refletir (e não apenas reclamar da vida, chorar amores perdidos, expressar as coisas da alma). assim como o cinema de godard, alguns lances da música contemporânea, certas performance-arte, e por aí vai.

as vanguardas do século XX abriram o poema para outros usos da palavra. não só música. não só visualidade. a partir das técnicas que cada poeta cria para seu poema, ele opera uma transgressão da linguagem, como que abrindo uma terceira margem na língua. ele não é escravo das regras que a língua impõe, e por essa carta branca que recebe, pode reinventar o mundo a cada poema novo, dando dimensões inesperadas para a realidade. nada disso se faz apenas no campo da subjetividade, do sujeito.

objetivamente, um poema recria vida, detona acontecimentos.

a palestra “a lente objetiva do poema” é um diálogo aberto, uma proposta, um céu aberto. será inaugurada nesta segunda-feira, dia 23 de fevereiro às 10h, na Escola Autônoma de Feriado”.

estúdio azucrina
r. macedo, 117
floresta – belo horizonte.mg

saiba mais no: www.azucrina.org/eaf/

escola autônoma de feriado

escola autônoma de feriado

até quando podemos pensar que nem tudo que almejamos em termos de ação viva está inteiramente condicionado pelas relações mediadas por dinheiro ou pelas coibições típicas dos aparelhos coercivos?

a escola autônoma de feriado é uma espécie de recriação, um passo a mais no já revolucionário “carnaval revolução”. a proposta é a de abrir a cabeça para reinventar um dos feriados mais tradicionais do brasil. a idéia de se pensar “outras formas de”, já dentro do fazer de uma “outra forma de se fazer carnaval”.

na edição 2009, a programação está repleta de vida. serão ao todo 10 oficinas, show com 6 bandas e 4 djs, bazar livre, mostra de culinária e anti-culinária repleta de receitas veganas, intercâmbio de softwares livres e por aí vai.

quanto a mim, este salamalandro que vos fala, apresentarei o diálogo-proposição “a lente objetiva do poema”.

para saber mais, é lá no www.azucrina.org/eaf

um poema de renata cabral

sorriso morto dentro de uma gaveta

fatos feito fogo,
fugas em ré menor
o ano começou em guerra

não deram trégua, não há trégua
uma mulher morta próxima à janela
uma mulher morta é ainda apenas uma mulher

alguém risca a parede com as unhas e avisa que é tarde
seu sorriso é como uma cidade
contraditório e inexato

e seus dentes grandes-brancos-imperfeitos mastigam os compromissos diários e a estupidez daqueles que contratam e carimbam e contratam e

hoje as horas cantam velozes e catam estilhaços sangue abismos
uma cidade inteira a ver navios.

(poema da minha amiga renata cabral, escrito em face aos acontecimentos recentes na faixa de gaza)