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La medusa dual | Antologia bilingue de poesia mexicana

“Poetas polisexuales, poetas bombas, poetas que brotan como pájaros com cabeza de niños y de niñas, poetas que surfam las ruinas del apocalipsis primaveril. “Me gustas más cuando te sueño… entonces hago de ti lo que quiero”, dice Rulfo, fazendo referencia também al lenguaje. Y es másomenos eso lo que fazem los poetas en esta antologia: usam el propio cuerpo como instrumento musical. Curtem sonhar la poesia y hacer de ella una bomba, una metralleta erótica, uma arma química verbal kontra todas las fuerzas que nos quieren tristes, mezquinos, impotentes, depres y cagones.”

Douglas Diegues na “Lectura previa” a La medusa dual

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Acaba de ser publicada na Cidade do México a antologia La medusa dual [A medusa dual], da poesia mexicana atual. O livro tem organização de Fernando Reyes, parceiro com quem já publiquei a antologia Tenho tanta palavra meiga, também de poetas mexicanos vivos. Os poemas aparecem em espanhol e em português, com tradução de Leo Gonçalves, este que vos fala.

La medusa dual [A medusa dual] traz poemas de Armando Alanís, Jorge Contreras, Isolda Dosamantes, Jesús Gómez Morán, Antonio Hernandes Villegas, Leticia Luna, Aglae Margalli, Daniel Olivares Viniegra, Guadalupe Sánchez Linares, Lina Zerón, Pedro Emiliano, Arturo Trejo Villafuerte, Uriel Reyes, Patricia García, Andrés Cisneros de la Cruz e Fernando Reyes.

A antologia mostra um pouco da grande diversidade inventiva dos mexicanos, sempre pensando naquela ideia de Fernando, de mostrar que a poesia mexicana “não descansa em Paz”, ou seja, que ela não parou apenas nas aulas do Prêmio Nobel Mexicano, Octavio Paz. Erotismo e tradição. Ficção e trevas. Surrealismo e feminismo.

Quem assina o prefácio da antologia é Douglas Diegues, nosso maestro del portuñol salvaje. O livro aparece pela Cisnegro – Lectores de alto riesgo, capitaneada pelo maestro Andrés Cisneros.

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Título: La medusa dual / A medusa dual
Compilador: Fernando Reyes
Tradução ao português: Leo Gonçalves
Editora: Cisnegro
Ciudad de México, 2017

Use el asiento para flotar

Use el asiento para flotar :: Traducción de Fernando Reyes Trinid :: Cisnegro - Lectores de alto riesgo

Já estão em minhas mãos os exemplares de Use el asiento para flotar, uma plaquete com 6 dos poemas de Use o asssento para flutuar, meu livro mais recente. A tradução é de Fernando Reyes, e a edição foi realizada por Andrés Cisneros. A publicação traz para a cidade do México um pouco do que venho produzindo e coroa (para minha alegria) a inesquecível estada, a acolhida carinhosa que recebi dos mexicanos desde que cheguei aqui, no dia 15 de março para o Festival Internacional de Poesia Ignacio Rodriguez Galván.

Revista Coyote nº. 25

Revista Coyote nº 25 - Londrina - Primavera - 2013

Sexta-feira. 11.7.2014. Noite de lua cheia. Chego em casa e encontro meus exemplares da revista Coyote nº. 25, que eu esperava ansiosamente.Neste número tem a tradução que fiz do ensaio “Do pornotempo e outros instantes ejaculados” do Heriberto Yépez. A edição (como sempre) ficou primorosa e com ótimos trabalhos: Federico García Lorca, Edgar Vasques, Carla Diacov, Luiz Bras, John Ashbery, Ade Scndlr, Gustavo Pacheco, Felipe Pauluk, Les Stone, Lara Mantoanelli Silva, Bernardo Brandão, Joseph Brodsky e Adelaide Do Julinho. Isso sem falar nos editores Ademir Assunção, Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes. Uivos para a Coyote, essa revista longeva e resistente.

Procure seu livreiro e peça o seu. Distribuição nacional (em livrarias) pela Editora Iluminuras.

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Do pornotempo e outros instantes ejaculados
(trechos)
Heriberto Yepez

1.
Quando a bomba de Hiroshima caiu, o que espatifou foram nossos conceitos lineares e cíclicos do tempo. A partir de então, o tempo ia ter um caráter radioativo, instável, decompondo-se cada vez mais de maneira irregular, perdendo partículas, ficando mais leve, desfazendo-se, e por isso mesmo, ameaçando tudo o que contém em si. Vivemos tempos amargos dos quais se pode esperar apenas re-runs e radioatividade.

3.
A existência do presente é a prova de que o tempo está avariado.

5.
Blake depois do junk-food: a Eternidade está apaixonada pelas Sobras do Tempo.

11.
Num mundo em que a autodisciplina da ética profissional é a moralidade mais alta, a impontualidade é o grande pecado mortal. O relógio de pulso é o Grande Irmão.

16.
O tempo não caminha: sai de moda. A moda é outra das categorias capitais de nossa civilização. As estações naturais foram substituídas pelas temporadas da moda. Nosso tempo está tão fragmentado que ninguém perceberia que o tempo é cíclico a não ser pela mudança física que as modas impõem ao planeta. A moda é a grande regularidade das nossas culturas. Já teríamos esquecido há cinco décadas do sentido periódico dos fenômenos se não fosse pelo eterno retorno do casaco.

7.
Nosso tempo se expande em forma de obesidade e se contrai em forma de anorexia. A única viagem possível ao passado é a dieta; ao futuro, a gula.

1.
Os antigos e os poetas conceberam a ideia de um tempo reversível. Tal como inumeráveis mitos primitivos, Rilke e Carpentier, por exemplo, imaginaram situações nas quais o metal regressava dos artefatos que o homem havia feito até suas minas subterrâneas, como em um grande rewind cósmico. Um devir ao contrário, um tempo caranguejo que caminha para trás. Nós, os modernos, por outro lado, concebemos um tempo que vai rumo ao futuro (ao contrário do tempo caranguejo). Mas tanto um como o outro são mitos fantásticos, mera ficção-filosófica. Nem o tempo vai normalmente rumo ao passado, nem tampouco rumo ao futuro (que o futuro não existe é algo que até os punks já sabiam). De fato, a ideia de que caminhamos rumo ao futuro é mais absurda que a suposição de que o tempo regressa ao passado. O tempo não viaja a nenhum lugar. O tempo permanece sempre sobre si mesmo. O tempo não avança: trava. Isto explica, por outro lado, a comprovável imobilidade de nossas vidas.

Uma antologia da poesia mexicana

tenho tanta palavra

Acabam de chegar às minhas mãos os esperadíssimos exemplares de Tenho tanta palavra meiga: alguns poetas mexicanos, antologia organizada pelo meu amigo Fernando Reyes e traduzida por mim. A edição é uma parceria entre a mexicana Ediciones Libera e a Anome Livros.

São ao todo 32 poetas contemporâneos que perambulam pelo México. Os traduzi com alegria, mas tenho também que confessar a estranheza do trabalho: pensar que duas línguas tão vizinhas, que duas culturas tão parecidas (a mexicana e a brasileira) necessitam de tradução em pleno século XXI, essa era de nomadismos e convívios de diversidade, foi algo que me deixou um tanto confuso.

O título da antologia é tirado de um poema (“A bruxa”) de Carlos Drummond de Andrade. Com poemas publicados apenas em português (grande responsa para mim), a antologia reúne um pouco do mistério e do erotismo que permeiam o imaginário linguístico dos mexicanos de hoje. Num esforço de renascimento após uma ironia cruel do Fernando Reyes no prefácio do livro (e que ouvi de sua própria boca enquanto caminhávamos pela Paulista), esta antologia demonstra que a poesia mexicana não descansa em Paz.