Arquivo da tag: coyote

Revista Coyote nº. 25

Revista Coyote nº 25 - Londrina - Primavera - 2013

Sexta-feira. 11.7.2014. Noite de lua cheia. Chego em casa e encontro meus exemplares da revista Coyote nº. 25, que eu esperava ansiosamente.Neste número tem a tradução que fiz do ensaio “Do pornotempo e outros instantes ejaculados” do Heriberto Yépez. A edição (como sempre) ficou primorosa e com ótimos trabalhos: Federico García Lorca, Edgar Vasques, Carla Diacov, Luiz Bras, John Ashbery, Ade Scndlr, Gustavo Pacheco, Felipe Pauluk, Les Stone, Lara Mantoanelli Silva, Bernardo Brandão, Joseph Brodsky e Adelaide Do Julinho. Isso sem falar nos editores Ademir Assunção, Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes. Uivos para a Coyote, essa revista longeva e resistente.

Procure seu livreiro e peça o seu. Distribuição nacional (em livrarias) pela Editora Iluminuras.

*

Do pornotempo e outros instantes ejaculados
(trechos)
Heriberto Yepez

1.
Quando a bomba de Hiroshima caiu, o que espatifou foram nossos conceitos lineares e cíclicos do tempo. A partir de então, o tempo ia ter um caráter radioativo, instável, decompondo-se cada vez mais de maneira irregular, perdendo partículas, ficando mais leve, desfazendo-se, e por isso mesmo, ameaçando tudo o que contém em si. Vivemos tempos amargos dos quais se pode esperar apenas re-runs e radioatividade.

3.
A existência do presente é a prova de que o tempo está avariado.

5.
Blake depois do junk-food: a Eternidade está apaixonada pelas Sobras do Tempo.

11.
Num mundo em que a autodisciplina da ética profissional é a moralidade mais alta, a impontualidade é o grande pecado mortal. O relógio de pulso é o Grande Irmão.

16.
O tempo não caminha: sai de moda. A moda é outra das categorias capitais de nossa civilização. As estações naturais foram substituídas pelas temporadas da moda. Nosso tempo está tão fragmentado que ninguém perceberia que o tempo é cíclico a não ser pela mudança física que as modas impõem ao planeta. A moda é a grande regularidade das nossas culturas. Já teríamos esquecido há cinco décadas do sentido periódico dos fenômenos se não fosse pelo eterno retorno do casaco.

7.
Nosso tempo se expande em forma de obesidade e se contrai em forma de anorexia. A única viagem possível ao passado é a dieta; ao futuro, a gula.

1.
Os antigos e os poetas conceberam a ideia de um tempo reversível. Tal como inumeráveis mitos primitivos, Rilke e Carpentier, por exemplo, imaginaram situações nas quais o metal regressava dos artefatos que o homem havia feito até suas minas subterrâneas, como em um grande rewind cósmico. Um devir ao contrário, um tempo caranguejo que caminha para trás. Nós, os modernos, por outro lado, concebemos um tempo que vai rumo ao futuro (ao contrário do tempo caranguejo). Mas tanto um como o outro são mitos fantásticos, mera ficção-filosófica. Nem o tempo vai normalmente rumo ao passado, nem tampouco rumo ao futuro (que o futuro não existe é algo que até os punks já sabiam). De fato, a ideia de que caminhamos rumo ao futuro é mais absurda que a suposição de que o tempo regressa ao passado. O tempo não viaja a nenhum lugar. O tempo permanece sempre sobre si mesmo. O tempo não avança: trava. Isto explica, por outro lado, a comprovável imobilidade de nossas vidas.

Revista Coyote 22

Não é segredo nenhum que sempre espero ansioso pelo próximo número da Coyote. Uma revista semestral que chegou ao seu 22º número sem perder a juventude, sem se render aos vícios do mercado e, pelo contrário, alimentando-o com informação nova (nem sempre aproveitada como merece) não é para os blasês.

E a nova edição, que me chegou das mãos do Ademir Assunção, está um primor. Enorme foi a minha surpresa ao encontrar ninguém menos que Manuel António, poeta galego (traduzido por Jerusa Pires Ferreira e Josias Abdalla Duarte) que me foi apresentado há vários anos pelo meu amigo Andityas Soares de Moura, também seu tradutor. Tem também os contos sinistros do Sandro Eduardo Saraiva, vários poetas vivíssimos, como Solivan Brunaga e Paulo Moreira, uma cena de Veronica Stigger, poemas do nonsense Edward Lear e para fechar no up (upa!), uma entrevista inquieta com o poeta Geraldo Carneiro.

Tem mais, muito mais.

Informe-se no www.zonabranca.blog.uol.com.br ou compre seu exemplar no www.iluminuras.com.br.

Revista Coyote nº. 21

“A partir de um certo ponto não há mais retorno.
Esse é o ponto que deve ser alcançado.”
[Von einen gewissen Punkt an gibt es keine Rückkehr mehr.
Diser Punkt ist zu erreichen.]

Franz Kafka traduzido por Silveira de Souza.

O que gosto na Revista Coyote, editada a cada estação por Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak e Ademir Assunção, é que elas estão sempre cheias de novidades. Não são como a maioria dos periódicos e círculos literários brasileiros que pairam circularmente sobre os mesmos problemas ou os mesmos vícios. A Coyote é inventiva sem ser concretista, rebelde sem ser porralouca, contemporânea sem se enfiar em classificações predefinidas. É uma das poucas revistas de poesia impressas sobreviventes no Brasil com alguma longevidade. “News that stays news”. Novidade que permanece novidade. Notícia que permanece notícia.
Ao longo dos 5 anos e pouco de Coyote, já passaram alguns dos melhores por aquelas páginas: Antonin Artaud, Raymond Queneau, Marcelo Sahea, Julio Cortázar, José Lino Grunewald, Douglas Diegues, Heriberto Yépez, Phillip Larkin, Chacal, e. e. cummings, João Filho, Paulo Leminski, Wilson Bueno, Frank O’hara, José Agripino de Paula, Georges Bataille, Luiz Roberto Guedes. Ah, uma lista tão rica e surpreendente. Entre conhecidos e desconhecidos, éditos e inéditos. Tenho pena do que seria a poesia brasileira hoje sem esta revista. Depois de tantos anos e esforços, a Coyote deveria ganhar um mecenas.
Escrevo isso enquanto folheio o espetacular número 21, publicado no inverno de 2010. O número traz uma seleção de aforismos de Franz Kafka, uma seleção-homenagem ao escritor curitibano recém-falecido Wilson Bueno, autor da primeira novela escrita em portunhol no Brasil, poemas de Leopoldo María Panero, Ivan Justen Santana, Mariana Ianelli. E uma entrevista com Marjorie Perloff, boa para aclarar pequenas dúvidas nessa época de incertezas e muita dispersão.