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Dan Hanrahan e a Língua de Aruanda

Photo: Pablo Urbiztondo
Photo: Pablo Urbiztondo

Conto aqui uma experiência que há muito sinto falta de relatar.

No final de 2013, às voltas com certo projeto, pedi ao meu amigo Dan Hanrahan um favor/desafio, desses que não se faz a qualquer hora nem a qualquer um: que traduzisse alguns poemas meus. Para minha sorte, ele topou. Mas a tarefa, embora não impossível, não era tão fácil. Isso porque os poemas que enviei estavam carregados de jogos de palavras, especificidades da cultura brasileira e, por vezes, palavras de origem africana que tinham grande importância na composição do poema.

Este que foi o começo de um grande diálogo que ainda está em movimento, foi para mim um grande presente. Isso porque Dan logo compreendeu o ritmo daqueles poemas, seus aspectos míticos e ritualísticos, dançou junto comigo, me contou histórias de experiências suas com as tradições negro-atlânticas (voodoo haitiano e arredores) e não só fez um trabalho impecável como também gravou para mim cada poema para que eu conhecesse a sua sonoridade, me presenteando com algo que ambos valorizamos: o registro oral como obra única e com semiótica própria.

Ao final, ele traduziu: “Ofó para o ventre dela [Ofo for her belly]”, “Mutacalambo” e “Língua de Aruanda [Language of Aruanda]”. Para deixar um gostinho da experiência, incluo aqui o poema em inglês (esta tradução já foi publicada na Revista Babelsprech num artigo interessantíssimo de Ricardo Domeneck sobre a poesia brasileira) e sua vocalização. Os demais, guardo para um momento mais provocativo.

Language of Aruanda

my grandmother who was the daughter of a daughter
my grandmother who was the grandma of a grandma
stuttered and sang as a young girl
a song lost in the farthest away
a song that I myself still sing by heart
not knowing what it means
unsure if I sing it right
I know that when I sing
my body hums
my blood flows
and there isn’t an evil eye that survives
this ancient song
that my ancestors carved in the echo
of my grandparents’ voices

*
Dan Hanrahan é poeta, tradutor, compositor, violonista, cantor, performer, dentre uma grande multiplicidade de vidas que encarna na sua forma de estar no mundo. Nascido em Chicago, vive em Baltimore. Crítico ferrenho da falida civilização ocidental, Dan escreve no blogue www.danhanrahan.blogspot.com.br. Acaba de lançar o disco “Three waves”, sobre o qual espero ainda falar por aqui.

um inédito

todo dia de manhã
eu beijo a minha própria boca
não é beijo no espelho não
é beijo na boca de verdade

todo dia de manhã
eu beijo a minha própria boca
não é narcisismo não
é beijo de língua

e você já beijou a sua própria boca?
não é beijo no espelho não
é beijo na boca

e você já beijou a sua própria boca?
não é narcisismo não
é beijo de língua

o que se cala é grande

benjamin abras lança seu cd "o que se cala é grande" no dia 19 de março de 2009, às 20:30h no teatro alterosa.

benjamin abras não tem preconceito de linguagens, quando está fazendo arte. costuma me dizer que a poesia é a medula, a coluna vertebral de tudo o que faz. o suporte é o corpo, essa máquina multi-uso. dança, canta, pinta, fala, ginga, batuca, vira ferramenta de inquice, modela, abre caminhos. quem não conhece o trabalho dele, não sabe o que está perdendo. e nem há a desculpa de que é inacessível, porque ele disponibiliza o que faz lá no www.benjaminabras.com com a generosidade de um oxalá.

agora, quem quiser conhecer o trabalho dele ao vivo e a cores, tem que estar em belo horizonte no próximo dia 19, quinta-feira, no teatro alterosa às 20:30h. benjamin abras lança o seu primeiro disco o que se cala é grande. já vou logo avisando que o disco está belíssimo. já vou logo avisando que não sai da minha radiola há mais de uma semana. as músicas todas compostas e cantadas pelo próprio. isso sem falar nas participações luxuosíssimas de fabiana cozza, maurício tizumba e sérgio pererê. a gente se encontra lá.

quem quiser mais informações: (31) 3237 6611
www.benjaminabras.com

lançamento do livro “machado de assis tradutor” de jean-michel massa

Machado de Assis Tradutor, livro de Jean-Michel Massa é lançado em Belo Horizonte

O pesquisador francês Jean-Michel Massa vem a Belo Horizonte para o lançamento da tradução de seu ensaio Machado de Assis Tradutor. Ele fará uma palestra sobre a obra do autor brasileiro, em evento promovido pela Pos-Lit – Programa de Pós-Graduação em Literatura, da Faculdade de Letras da UFMG.

Pioneiro do estudo da formação de Machado de Assis e ainda hoje quem melhor conhece seu trabalho de tradutor, Jean-Michel Massa é responsável pela divulgação, em 1965, dos Dispersos de Machado de Assis, em que reuniu boa parte da produção machadiana antes não identificada e/ou confinada em periódicos de difícil acesso e do inventário dos 718 livros que ainda restavam da biblioteca do escritor.

Em Machado de Assis tradutor, J.-M. Massa divulga o resultado de sua minuciosa pesquisa. Identifica e analisa 46 traduções de nosso autor, sendo 3 delas inéditas.

Ao lado de traduções conhecidas, como o romance Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo, e o poema “O corvo”, de Edgar Allan Poe, estão listadas e analisadas as demais obras traduzidas, algumas por encomenda, outras por escolha do tradutor. A maior parte é de peças teatrais e poemas de autores variados, mas em que prevalecem textos franceses.

Machado de Assis traduziu com regularidade desde o início de sua carreira até a maturidade. Acompanhar seu percurso como tradutor ajuda a compreender sua formação como poeta, crítico, contista, dramaturgo, cronista e romancista.

Fato marcante é que seu primeiro livro publicado seja uma tradução – Queda que as mulheres têm para os tolos (Typografia Paula Brito, 1861; reedição: Crisálida, 2003) – e que seus trabalhos seguintes sejam adaptações de textos franceses para o teatro, seguido de um livro de poemas, Chrysalidas (Garnier, 1864; reedição: Crisálida, 2000), em que mescla poemas próprios com traduções de A. Dumas Filho, M. de Staël, H. Heine, A. Mickiewicz, Dante Alighieri, La Fontaine, entre outros. É uma verdadeira antologia das literaturas européias.

Em seguida à publicação do ensaio, Jean-Michel Massa publicará, em outubro, o livro organizado e anotado por ele, Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis. Trata-se de traduções (inéditas) de Machado de Assis.

Machado de Assis Tradutor de Jean-Michel Massa
Crisálida Editora, 2008.
Tradução: Oséias Silas Ferraz
128 páginas preço: R$ 24,00
Local: Faculdade de Letras da UFMG (Auditório Sonia Viegas)
Av. Antônio Carlos, 6777 – Campus da Pampulha

Data: 08 de setembro, segunda-feira, 19 horas

casa áfrica daara – curso de línguas

daara é uma palavra da língua wolof que significa “lugar onde se adquire o conhecimento”. o centro cultural casa áfrica inaugura no dia 04 de agosto o seu curso de línguas. começaremos nesse segundo semestre de 2008 com os cursos de inglês e de francês. este último terá por professor o leo gonçalves (este salamalandro que vos fala). turmas reduzidas, preço módico e cultura do universal, eis o nosso convite. a casa áfrica fica na rua leopoldina, 48 – bairro santo antônio. pertinho da vaca. para se matricular ou pedir mais informações, é nos segintes números: (31) 3234 5939 (escritório da casa áfrica), (31) 3344 1803 (centro cultural casa áfrica) ou comigo, no 9130 3720. ou então deixe aqui o seu comentário que eu responderei.

black or white, totem, tabu e algumas palavras do caetano veloso

“eu não gosto dessa vontade desesperada de ser americano”. é o que diz o caetano veloso, que está lá no obra em progresso lançando belas bombas. (dica surpreendente do ric)

eu também não gosto, caetano: oswald de andrade, quando lançou o manifesto antropófago, falou: a transformação constante do tabu em totem. quer dizer, pegar a palavra-tabu “antropofagia” (a vergonha indígena nacional tupiniquim) e transformá-la num totem, num objeto de adoração, culto e respeito.

depois vieram os negros francófonos, léopold sédar senghor e aimé césaire, pegaram as palavras “negritude” e “mestiçagem”, que eram usadas para oprimi-los e criaram um movimento literário-político-cultural que abalou as centenárias estruturas do poder franco-europeu, além de inspirar milhões de jovens negros a se afirmarem como o que eles realmente são.

não sei para quê ter medo das palavras. se eu disser que sou negro, se eu disser que sou preto, tudo é poesia. mas se eu disser que negro (ou preto ou black ou nigro ou nigger ou nègre ou négro ou negger ou noir) é politicamente incorreto, eu estou estigmatizando a cor. e é isso que estão fazendo agora, quando mandam a gente falar “afrodescendente”. se eu disser isso, vou ter que falar também que sou eurodescendente? indiodescendente? nipodescendente? arabodescendente?!

não dava para aprender a lição dos mestres?