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mostra minas contemporânea

Nesta terça, dia 13 de abril a partir das 20h30, no Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 141 – Vila Mariana, SP), Raquel Coutinho apresenta seu show “Olho d’água”, com a participação de Fabiana Cozza. Antes do show, a atriz Fernanda D’umbra fará leitura de poemas de Leo Gonçalves (este que vos fala), Lenise Regina, Letícia Féres, Bruno Brum, Renato Negrão e Makely Ka. O evento faz parte da mostra Minas Contemporânea e já teve na programação (no dia 06 de abril) Marina Machado, com exibição do documentário “Poro – intervenções urbanas e ações efêmeras”. No dia 20 de abril, a Mostra fecha com a exibição do curta Filmes que Eu não Fiz de Gilberto Scarpa e um belo show de samba da Aline Calixto.

um inédito

todo dia de manhã
eu beijo a minha própria boca
não é beijo no espelho não
é beijo na boca de verdade

todo dia de manhã
eu beijo a minha própria boca
não é narcisismo não
é beijo de língua

e você já beijou a sua própria boca?
não é beijo no espelho não
é beijo na boca

e você já beijou a sua própria boca?
não é narcisismo não
é beijo de língua

Retour au pays de Patrick Acogny

Este ano o FAN – Festival de Arte Negra aconteceu em situação mais ou menos periférica. Digo mais ou menos porque a programação estava bonita, com convidados ilustres e competentes. As instalações bem feitas e bem organizadas, com dois grandes palcos e um Ojá (mercado em yorubá). Periférica porque foi empurrado para a orla da Lagoa da Pampulha. Embora bonito, um lugar fora de mão, com poucos ônibus. Difícil para quem não estivesse de carro e quisesse acompanhar a festa até mais tarde. Todo o mérito para os organizadores, o Rui Moreira e o Adyr Assumpção que, pelo jeito, levaram na cara e na coragem. Uma pena o novo prefeito não haver percebido que o FAN é a menina dos olhos dos festivais belorizontinos.

No vídeo acima, feito pela rádio Ojá, alguns momentos do espetáculo “Retorno ao país natal”, apresentado pelo Coletivo FAN da Dança (criado especialmente para o evento) e dirigido pelo coreógrafo senegalês Patrick Acogny. Quem acompanha é o grupo Uakti em colaboração com o griot Oumar Fandi Diop. Leo Gonçalves acabou colaborando um pouco também, enviando as traduções dos poemas de Léopold Sédar Senghor, Aimé Césaire e Léon Gontram Damas que são recitados pelas dançarinas durante o espetáculo.

Autofagia + Ruah! + Pigmentos Sonoros +

ruah-estampa

Pigmentos Sonoros – Uma homenagem a John Cage

Benjamin Abras e Leo Gonçalves lançam o Coletivo Ruah! na performance Pigmentos Sonoros no próximo dia 10 de setembro, a partir das 20h no lançamento da Revista de Autofagia 2 e 3, no Auditório da Escola Guignard.

Apresentação poético-musical baseada em pesquisas ritualísticas, explorando ritmos e sons vocálicos. Para a performance, o coletivo ruah! aproveita estruturas sonoras primitivas onde a desconstrução leva à re-significação das palavras (ou não-palavras).

A proposição “Pigmentos sonoros” surgiu do intuito de homenagear o compositor-poeta John Cage, que no último dia 05 de setembro completaria 97 anos e da intensa interlocução interartística estabelecida em 2009 entre os dois poetas que compõem o coletivo ruah!

Salpicar os sons, desmantelando palavras do sentido roto, ampliando sua corpografia através do canto onde, tom sobre tom, imprimem no corpo o matiz de uma vontade pela vibração das palavras. A palavra retomando corpo, retomando som como paramento de um instante, onde o jogo “vocográfico” desenha possibilidades poéticas entre os falantes, os ouvintes e os dançantes. Sugerindo uma pequena parafernalização dos sentidos [salve Julius], a fim de despertar a ação da palavra enquanto produtora de corporalidades sutis. A performance Pigmentos Sonoros é um experimento do coletivo RUAH!, feita com registros de som e silêncio dentro da poesia sonora, ritualizando a desconstrução da realidade cartesiana e produzindo uma experiência da voz enquanto escrita corporal.

O coletivo ruah! é formado por Leo Gonçalves e Benjamin Abras. Tem como objetivo a investigação, a experimentação e a execução de trabalhos pluriartísticos em plena interação com as tradições mestiças que habitam o planeta.

poema

menina bonita
com casaca de banana
se eu te gostasse pra sempre
eu imitava o mário quintana

andava por uma rua
rua comprida que não tem mais fim
(não pode ser rua de brasília)
andava até você dizer que sim

depois de muito caminhar
eu chegasse numa esquina
(um baú de espantos)
você seria a minha própria rima

uma rima rara
uma rima urbana
uma rima clara
uma rima sacana

a gente se olharia
com cara de quem nunca se viu
eu tiraria a sua casaca de banana
puta que pariu!

depois a gente botava
uma placa comemorativa
aqui nesta esquina
experimente: o sexo é bom. viva!

(a minha homenagem ao mário quintana, que se foi há 15 anos atrás e deixou muita pérola para os vivos e principalmente os muito vivos)

revista etcetera #23

revista etcetera #23

foi imensa a surpresa que tive ontem ao saber que chegou às ondas virtuais o novo número da revista etcetera! o número está bonito, como sempre, caprichos do editor sandro eduardo saraiva. aliás, esta é uma revista que merece todo o respeito. embora encontre aqui e ali os seus atrasos de praxe, continua publicando sempre, desde os anos 90, esforços de quem gosta do que faz.

o novo número traz textos sobre o livro a singradura do capinador de luiz serguilha, a coletânea “onilíricas e bordéis” – seleção divertida de poemas do curitibano márcio claudino, a sempre surpreendente coluna sobre cinema de marcelo ikeda, um comentário sobre o porno-cult assinado por rodrigo gerace e muito mais. o sandro também colabora na seção de música com um texto sobre a banda paulista “la carne”, que acaba de lançar seu quarto disco.

mas para mim a grande surpresa foi ver, com um destaque todo especial, uma coletânea com 9 poemas que enviei para a revista em 2006. é a seleção que, na época, pus o nome de “cântaro, abismo de bolso”.  e, de quebra, ainda ganhei de presente as ilustrações de ana carmo.

vai lá. confira: www.revistaetcetera.com.br

escola autônoma de feriado

escola autônoma de feriado

até quando podemos pensar que nem tudo que almejamos em termos de ação viva está inteiramente condicionado pelas relações mediadas por dinheiro ou pelas coibições típicas dos aparelhos coercivos?

a escola autônoma de feriado é uma espécie de recriação, um passo a mais no já revolucionário “carnaval revolução”. a proposta é a de abrir a cabeça para reinventar um dos feriados mais tradicionais do brasil. a idéia de se pensar “outras formas de”, já dentro do fazer de uma “outra forma de se fazer carnaval”.

na edição 2009, a programação está repleta de vida. serão ao todo 10 oficinas, show com 6 bandas e 4 djs, bazar livre, mostra de culinária e anti-culinária repleta de receitas veganas, intercâmbio de softwares livres e por aí vai.

quanto a mim, este salamalandro que vos fala, apresentarei o diálogo-proposição “a lente objetiva do poema”.

para saber mais, é lá no www.azucrina.org/eaf

leo gonçalves na revista conexão maringá

fevereiro começa com boas surpresas: uma delas é que acaba de sair a nova edição da revista conexão maringá, comandada por valéria eik. no número atual, dois poemas do meu das infimidades: “a pedra da lua” (meu poema mais mallarmaico) e “sou um poema de ondas curtas”.

quero deixar o meu evoé! para a poetamiga ana maria ramiro, que encaminhou para a valéria alguns dos meus poemas e me fez pensar na seguinte frase do blake: “nenhum pássaro voa muito alto se voa com as próprias asas”.

para curtir, olha aí o endereço: www.conexaomaringa.com

(outras surpresas já virão, aguarde).

Entrevista sobre WTC BABEL S. A.

foto: marcelo terça-nada!
foto: marcelo terça-nada!

Foi bacana o lançamento do livro, ontem. Pessoas que admiro vieram me ver falar o poema mais longo que já fiz, desde das infimidades. Para agradecer, coloco aqui uma entrevista comigo mesmo, respondendo algumas perguntas que me tem sido feitas por esses dias.

O que deu em você para escrever sobre geo-política?

Não escrevi sobre geopolítica. Meu poema é sobre a incomunicabilidade num mundo onde o capitalismo, com seus anúncios publicitários e os manipuladores meios de comunicação propagam o desentendimento, a superficialidade, o canibalismo psíquico. Através de um mecanismo sutil, mantém-se milhões de seres humanos na condição de robozinhos de controle remoto.

Não quero a geopolítica. Quero a geopoética. Devolver às palavras seu sentido integral, como queria confúcio.

Mas nada disso importa. Poesia é quando você precisa falar e não há outra forma de dizer aquilo que sentepensa, que feelthink. Mesmo que o que você disse diga: nada.

Você acha que as milhares de pessoas que morreram no WTC mereciam ter morrido ali? Você é a favor daquele acontecimento?

Alguém a não ser o George W. Bush acha isso? Se acha, é melhor vigiar essa pessoa. você conhece? É seu vizinho? Toma cuidado…

No fundo no fundo todos querem alcançar o céu?

Claro. É por isso que se constrói prédios. Um andar em cima do outro até que um dia ele chega lá. Deus não gosta muito disso. Já tentou até confundir, certa vez, uma turma de pedreiros fazendo com que eles não se entendessem. Cada um tenta à sua maneira. Tem uns que querem o nirvana. Tem quem queira o céu aqui. Tem quem queira achar um atalho. Mas no fundo no fundo, todo mundo. É o princípio do prazer, do Freud. Não venha me dizer que você não!?

Eu estava ouvindo sua gravação no MySpace e fiquei confuso. No texto que acompanha o livro, María José Pedraza Heredia fala que o poema é para ser gritado. Mas no MySpace parece que é uma versão sem grito, bem descafeinada. Como isso se dá?

O grito é dentro. “Meu sertão é metafísico”.

Você disse que esse poema já contém muito do seu projeto pessoal. Mas é inevitável achar ali um fundinho de Ginsberg e dos beats.

Gosto muito da poesia de Ginsberg, mais do que dos beats. E a pegada ginsberguiana combina com o tema, não acha? Em realidade, acho o WTC BABEL S. A. muito diferente de tudo o que Ginsberg faz, com outro ponto de vista e outro tipo de rebeldia. Mas me orgulho da referência. Aliás, não só Ginsberg, mas muitos outros poetas são homenageados e reverenciados no meu poema. A começar por Walt Whitman, que homenageio e critico ao mesmo tempo. Tem também o Antonin Artaud, que tem uma visão política que gosto muito e que, de certa forma, compartilho. E mais Maiakovski, Waly Salomão, os poetas do grupo poesia hoje (do qual participei entre 2004 e 2006). Renato Negrão, comentando comigo sobre o poema, me lembrava de algo que eu não tinha me dado conta. Ele me dizia: “tem muito de Marcelo Companheiro nesse poema. Coisa que só uma pessoa como eu, que já te conhece há anos consegue perceber”. Acho que o Renato foi modesto não citando a si mesmo como influência. Tem também o Chacal, o Fausto Fawcett, o Juan Gelman. E tudo está muito escancarado, com um verso ou uma palavra conhecida de cada um deles. Afinal, trata-se de uma grande colagem. São referências, mas na verdade o poema é a minha cara. Só espero que ninguém vicie. Acho que não encontrarão mais Ginsberg em outros trabalhos meus.

Agora temos Barack Obama no governo dos Estados Unidos. O que você pensa disso?

Eu acho maravilhoso. Felizmente, com o passar do tempo, as coisas mudam. Há muitas maneiras de se pensar a política hoje. E uma delas é do ponto de vista das relações interraciais. É claro que raça é um conceito falso, e por isso temos que ficar atentos com os limites dessa dicotomia (aliás, toda dicotomia é perigosa e limitada). Mas como diz o poema, “essa é a época dos presidentes pop”. Era injusto o páreo entre McCain e Obama. Obama é um sujeito bonito, elegante, diplomático, inteligente. Transformou-se muito rapidamente num ícone da esperança mundial. Um perfeito presidente pop. Eu, pessoalmente, penso que ele passaria facilmente por um parente meu. Me orgulho. Politicamente, restam ainda muitos pontos obscuros. A dicotomia democratas versus republicanos é inquietante pelo tamanho da sua limitação. O mínimo que espero de um republicano é que ele seja democrata e vice versa. Vejamos primeiro o que o novo presidente dos Estados Unidos fará com os seus 300 milhões de loucos de ficção científica.