Entre os dias 20 e 23 de março, acontece o Salon du Livre de Paris. O Brasil será o país homenageado do evento e, dentre os convidados tem o Ricardo Aleixo. Nos preparativos, ele me propôs em janeiro: “topa traduzir alguns poemas meus para o francês?”
Eu já estava pra lá de envolvido com as versões dos poemas da Alice Ruiz, ao que, entusiasmado, topei. Como eu já disse: adoro desafios. Acho que ficou bom. Ao final, pedi algum auxílio para minha amiga Sophie Fakhouri que me salvou na hora de dar alguns toques finais. Deixo com vocês um amuse-gueule, um petisco. Quem estiver no Salon, no dia 21 às 21h, ouverá les autres poèmes.
PAS TOUT À FAIT FRANÇAISE
Elles résonnent
sous le silence
de la nuit de la ville
Paris
La langue-fétiche
de Jeanne Duval
– la “Vénus noire”
de Baudelaire
la langue
des poèmes nègres
de Tzara
la langue de l’île-litanie
d’Aimé Césaire
La langue-balafon
de Sédar Senghor
la langue franche
d’un Orphée Noir
ou plusieurs
selon l’écoute
de Jean-Paul Sartre
la langue sans masques
blancs
de Frantz Fanon
La langue-musique
sans vibrato
de Miles Davis
la langue tout soleil
d’Henri Salvador
la langue-sound system
de MC Solaar
la langue-exil
de Richard Wright
la langue du chant-exil
de Josephine Baker
figurée en fil d’acier
par Alexander Calder
la langue-double-exil
en terre étrangère
de James Baldwin
la langue-zone de frontière
de Patrick Chamoiseau
la langue des trois fleuves
qui coulent dans les veines
de Léon Gontram-Damas
la langue errante
du chaos-monde
d’Édouard Glissant
La langue de l’étoile
qui a éclaté une seule fois
de Depestre
la langue de l’étoile pourpre
de Rabéarivelo
la langue des petits
contes nègres
aussi pour des enfants blancs
de Blaise Cendrars
La langue de la Marseillaise
transformée en samba
par Clementina de Jesus
à l’Olympia
antérieure à la fatigue
de toutes les langues
La langue de ceux qui
personne n’entend jamais – pas
tout à fait française
*
NÃO TOTALMENTE FRANCESA
Soam
sob o silêncio
da noite da cidade
de Paris
A língua-fetiche
de Jeanne Duval
– a “Vênus negra”
de Baudelaire
a língua
dos poemas negros
de Tzara
a língua da ilha-litania
de Aimé Césaire
A língua-balafong
de Sèdar Senghor
a língua franca
de um Orfeu Negro
ou muitos
conforme ouvida
por Jean Paul Sartre
a língua sem máscaras
brancas
de Frantz Fanon
A língua-música
sem vibrato
de Miles Davis
a língua toda sol
de Henri Salvador
a língua-sound system
do MC Solaar
a língua-exílio
de Richard Wright
a língua do canto-exílio
da Josephine Baker
figurada em fio de ferro
por Alexander Calder
a língua-duplo exílio
em terra estranha
de James Baldwin
a língua-zona de fronteira
de Patrick Chamoiseau
a língua dos três rios
que correm nas veias
de Leon-Gontran Damas
a língua errante
do caos-mundo
de Édouard Glissant
A língua da estrela
que brilhou uma só vez
de Depestre
a língua da estrela púrpura
de Rabearivelo
a língua dos pequenos
contos negros
também para crianças brancas
de Blaise Cendrars
A língua da Marselhesa
convertida em samba
por Clementina de Jesus
no Olympia
anterior à fadiga
de todas as línguas
A língua dos que
ninguém nunca ouve – não
totalmente francesa
um amuse-gueule: um petisco de prato-cheio!!! Parabéns Leo Gonçalves pela belíssima transcriação-tradução. Parabéns Ricardo Aleixo!!! O Brasil se mostrará na poesia ‘muito bem obrigado’. Beijos aos dois poetas e um VIVA A POESIA sem fronteiras!! 😀
Merci, Lia! 🙂