o doente imaginário, informe à imprensa

A Editora Crisálida lança segunda edição (bilíngüe) do clássico teatral O doente imaginário, de Molière
Chega às livrarias a 2ª edição da comédia O doente imaginário de Molière, com revisão e posfácio do tradutor Leonardo Gonçalves. A peça, que teve sua primeira edição em 2002, é relançada no momento em que está indicada para o vestibular da UFU (Universidade Federal de Uberlândia).

O doente imaginário é a última comédia escrita e encenada por Molière, no ano de 1673. Segundo relatos da época, na quarta noite da peça, enquanto o autor representava o papel principal, começou a ter crises por causa de uma tuberculose avançada e veio a falecer algumas horas depois em sua casa. Este fato, que tornou-se um marco na história do teatro, é lembrado sempre que se fala em O doente imaginário, a exemplo da encenação feita desde 1996 pelo grupo Galpão desta mesma comédia, que em sua tradução recebeu o título de Um Molière imaginário.

Mestre na arte do riso, Molière é considerado um dos maiores autores teatrais de todos os tempos, ao lado de William Shakespeare e Aristófanes. Escreveu suas peças na época do rei Louis XIV, o grande rei absolutista da França, autor da célebre frase: “O Estado sou eu”. Entretanto, seus personagens e cenas anunciam uma nova forma de ver o mundo: um mundo onde o homem comum é compreendido e onde a aristocracia não é a única agente das decisões políticas de um povo. A mesma visão de mundo que chegaria ao poder com a revolução francesa no final do século XVIII.

Mas O doente imaginário não é um mero registro de uma época histórica. Como toda grande obra de arte, a peça trata de temas que estão sempre na ordem do dia para o ser humano. Em princípios do século XXI, quando se fala na impostura do capitalismo, vendas de placebos, remédios miraculosos para as doenças incuráveis do homem, hipocondria vendida em vitrines e propagandas de televisão, o tema central da peça O doente imaginário (um homem que se orgulha de suas doenças imaginárias resolve dar a mão da filha em casamento para um médico a fim de ter um médico em sua própria casa) é de uma atualidade impressionante.

A segunda edição do livro, revista e com seu posfácio reescrito já era um projeto do tradutor. “Tenho um orgulho especial deste livro, por ter sido minha primeira tradução a se tornar de fato um livro”, afirma Leonardo Gonçalves, “mas esperava uma oportunidade para revisar certas passagens que me pareciam ainda inconsistentes na primeira edição”. Ao longo dos anos, Leonardo vem adquirindo desenvoltura na arte de traduzir, ao mesmo tempo em que aprofunda seus conhecimentos de língua francesa na sala de aula (hoje ele é professor de francês) e na faculdade de letras da UFMG. Além de Molière, Gonçalves vem traduzindo diversos autores (não apenas da língua francesa), tais como o poeta inglês William Blake, o argentino Juan Gelman, o novaiorquino Allen Ginsberg, Gérard de Nerval, Paul Verlaine, Pedro Almodóvar, Léopold Sédar Senghor e Aimé Césaire.

O livro tem obtido boa distinção no cenário cultural brasileiro. Foi adotado algumas vezes na pós-graduação da faculdade de letras UFMG, indicado em 2006 para a prova do T. U. (Teatro Univesitário) e adotado duas vezes no vestibular da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e no supletivo daquela mesma cidade. A tradução de Leonardo Gonçalves também foi montada em Belém do Pará com título adaptado para “O hipocondríaco” pelo grupo “Palhaços trovadores”.

Além das revisões na tradução, o livro traz também um estudo sobre a época e o teatro de Molière. Trata-se de um posfácio rico em documentos literários do século XVII. No texto, assinado pelo tradutor, compreende-se por que um autor que é considerado um clássico por excelência foi em sua época e ainda é, hoje em dia, criador de um conjunto de situações que subvertem as relações de poder dentro da sociedade.

Artista dos costumes e vícios mais delicados do homem, Molière dedicou toda a sua vida ao teatro, renunciando aos privilégios da família e tornando-se um dos maiores símbolos da arte do palco ao longo dos séculos. Foi autor, administrador da sua trupe, encenador, diretor, ator não só em suas peças, mas em dezenas de outras.

Esta comédia fecha com chave de ouro a sua produção e vem somar-se à longa série de obras que satirizam a medicina. O tema é de grande atualidade: faz pensar nos limites da nossa ciência e na arrogância dos detentores de conhecimentos especializados.

Trechos da orelha do livro:
“A tradução de Leonardo Gonçalves evidencia dois dos motivos pelos quais aquela aristocracia foi incapaz de perceber que sofria ataques tão fortes quanto os que, às vésperas da Revolução Francesa, seriam mais tarde desferidos pelo mais autêntico herdeiro de Molière, Beaumarchais (As Bodas de Fígaro). A elegância do estilo, dos jogos de palavras, da musicalidade, obedeciam ao que o público da velha ordem esperava do teatro, mesmo se faziam isso sem perder de vista a compreensão do público plebeu. Ao mesmo tempo, suas peças eram obras-primas do ilusionismo teatral, brincando com permanente entra-e-sai de personagens que fazia com que o público muitas vezes tivesse informações de que nem todas as personagens dispunham. Da soma destes dois jogos, podemos concluir que, deste seu nascimento, O doente imaginário foi autêntica peça “de classes”, apta para ser compreendida de maneira diferente por grupos sociais diferentes, numa antecipação da força estética e política que, no século XX, teriam comediantes do cinema como Carlitos”.
Marcelo Castilho Avellar

“De todas as peças de Molière, O doente imaginário é sem dúvida a que eu prefiro; é ela que me parece a mais nova, a mais ousada. (…) Eu não conheço prosa mais bela. Ela não obedece a nenhuma lei precisa; mas cada frase é tal que não poderíamos mudar nenhuma sem estragá-la. Ela atinge sem cessar uma plenitude admirável; musculosa como os atletas de Pugget ou os escravos de Michelângelo e como que inflada, sem inchaço, de uma espécie de lirismo de vida, de bom humor e de saúde. Não me canso de relê-la”.
André Gide

Livro: O doente imaginário
Autor: Molière (Jean-Baptiste Pocquelin)
Editora: Crisálida
ISBN: 978-85-87961-35-8
Preço: R$ 28,

Contatos:
Editora Crisálida / Oséias Silas Ferraz:
www.crisalidaeditora.blogspot.com

Leonardo Gonçalves:
www.salamalandro.redezero.org

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