este ano, nos meses de maio e junho, muitos amigos andaram reclamando do meu sumiço. isso se deu porque eu estava às voltas com a revisão do livro o doente imaginário, de molière*. há tempos eu esperava a chance de uma segunda edição. eu queria, além de rever partes da tradução, reescrever o texto que acompanha a peça. o resultado foi um “posfácio” sobre a época de molière, suas venturas e desventuras, a cosmovisão sua e de seus contemporâneos e como ele colaborou, enquanto artista, para alargar essa cosmovisão.
curiosamente, pouco tempo depois, entrou em cartaz nos cinemas o filme as aventuras de molière (no original ele se chama apenas molière), do francês laurent tirard. não pretendo contar a história do filme, mas um pequeno résumé rola: o filme parte de um desvio na história. da biografia de molière, conta-se que ele, jovem, foi preso por dívidas, dificuldades que enfrentava para administrar sua trupe teatral. tirard imagina, então, a chegada de um burguês chamado jourdain que, desejoso de aprender algumas técnicas de teatro (a fim de conquistar uma preciosa dama), “compra” a dívida do comediante e o leva para uma temporada em sua casa. nessa estada, ocorrem situações cômicas que definirão sua carreira e sua obra mais célebre.
trata-se de uma fantasia, um pouco à moda do shakespeare apaixonado, de john madden. mas o interessante é a excelente pesquisa de época, com personagens falando um francês carregado. outra coisa que gosto muito é a atuação do ator principal, romain duris (que fez albergue espanhol) e da atriz co-adjuvante, laura morante. além disso, o filme é um verdadeiro prefácio à obra de molière. os entendedores reconhecerão diversas passagens tiradas das suas comédias. se eu tivesse visto esse filme antes, muitas passagens do posfácio se tornariam desnecessárias.
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*eu queria agradecer à patrícia mc quade, pela paciência, interlocução, apoio moral e logístico naqueles dois meses (isso tudo sem falar no amor imensurável, constante e atemporal, o carinho cotidiano, a vida partilhada, coisas das quais qualquer agradecimento nunca pode ser suficiente). além de ter sido ela a responsável pela minha reconciliação com o teatro (paixão que tinha se calado ao ver tanta porcaria em cartaz). sem isso, tenho certeza que não teria saído revisão nem posfácio nenhum. não achei espaço no livro para agradecer, agradeço aqui.
antes do não deve vir o sim.
antes do pedido o consentimento.
antes da palavra vem o silêncio.
não dá para agradecer um agradecimento.
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