Ginsberg & Pasolini

pasolini

é interessante pensar que há apenas 40 anos atrás, o povo americano não representava apenas uma massa amorfa e sem opinião, limitado pelos ditames da televisão. o americano era um povo rebelde. eu não havia entendido o que michael moore queria dizer quando, no filme “tiros em columbine”, saiu perguntando “onde está o meu país?” (como se tivesse nascido num lugar que não existe mais).

mas numa carta a allen ginsberg, pier paolo pasolini comentava o seguinte:

a tua burguesia é uma burguesia de loucos, a minha, uma burguesia de idiotas. você se revolta contra a loucura com a loucura (distribuindo flores aos policiais); mas como se revoltar contra a idiota?

os americanos representavam a mais romântica rebeldia nos anos 60. estranho que isso tenha acabado. será que ginsberg, hoje, se rebelaria contra a burguesia idiota (como é, aliás, no brasil)? pasolini continua:

todos os homens da tua américa são obrigados, para se exprimirem, a serem inventores de palavras! nós aqui, ao contrário (mesmo aqueles que têm agora dezesseis anos), já temos nossa linguagem revolucionária pronta e acabada, com uma moral implícita. e eu também – como está vendo. não consigo misturar a prosa com a poesia (como você faz!).

o pasolini, nos anos 60, inventou um negócio chamado cinema de poesia, que ele contrapunha ao que ele chamava de cinema de prosa. o tal cinema de poesia que ele fazia é um soco no estômago, um cinema de cores vivas (mesmo quando em preto e branco), repleto de jogos de linguagem e de situações mitopoéticas que reconfiguram o sentido da palavra “poesia”. um cinema exuberante, difícil e indigesto mesmo hoje, quando já se passaram 32 anos de sua morte.

sobre ginsberg, tenho apenas uma lenda, que já diz tudo: certa vez, numa entrevista ao vivo para a televisão, o repórter perguntou a ele: “para você o que é a poesia?” e ele, suscinto: “nudez”. o entrevistador, não satisfeito com a resposta então perguntou: “e o que é nudez?” ginsberg tirou a roupa.

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