Todos os posts de Leo Gonçalves

Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

piores poemas

essas traduções ganharam “menção honrorosa” na bienal dos piores poemas, em 2004. parabéns. os autores? claro, eu, a letícia féres e o anderson almeida.

O Mar Português

Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

……………..

Omar, Português

Mar Morto, Mar Mita, Mar Mota

Omar Salgado, quanto do teu sal
Veio salgar meu bacalhau!
Por nos cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantas noivas na mão ficaram!
Quantas moças estão a navegar
Para que fosses o meu Omar!

Foi bom pra você? Se a sardinha não for pequena
Ainda vale a pena!
Quem quer passar a mão no beijador
Tem que pegar no trovador.
Dei, Omar, para o Pedrinho e pro Francisco dei,
Mas como você jamais provei.

…………………..

Alma minha gentil, que te partiste

Luiz Vaz de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alg?a cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

…………………

Ó maminha gentil, que te partiste

Para Glauco Mattoso

Cecil B. DeMilus, Sophia DuLoren, Laurinha Trifil

Ó maminha gentil, que te partiste
Tão cedo deste corpo adolescente,
Lembra da tua irmã, discretamente,
E viva eu aqui, sem ti, em riste.

Se lá no lado esquerdo já caíste
E sonhas em voltar aqui pra frente,
E com vergonha a sua dona, deprimente,
Não tem como esconder e fica triste.

E se ainda quiseres reerguer-te
Pois arranjes reforçado sutiã.
Dou-te com bondade esse macete.

É de graça. Mas já sei, caída irmã,
Que por enquanto só vou ver-te
Indo à puta-que-pariu de rolimã.

Poesia aqui e agora

Estado de Minas, Caderno Pensar (19/02/2005)

por Mário Alves Coutinho

Leo Gonçalves, em idade cronológica, é um poeta novo; mas como as vias e os caminhos da poesia são mágicos (mas não só; a poesia é magia, mas realismo também), ele tem um conhecimento e uma sabedoria do mundo que vão além dos anos vividos. Quando ele escreve, num de seus poemas de das infimidades que “um poema bonito/ seria assim assim como um poema conflito”, ele já intuiu, mas provavelmente já deve ter vivenciado, algo que William Blake, já sabia: “Sem opostos não há progresso. Atração e Repulsão, Razão e Energia, Amor e Ódio, são necessários para a existência humana” (O casamento do céu e do inferno).

Para ele, a beleza não existe somente no ideal, no etéreo, no excepcional, mas na realidade, no cotidiano, no dia-a-dia. Leo Gonçalves é daqueles poetas que procuram pensar e falar da sua experiência, por mais pequena e ínfima que seja, e daí extrair conhecimento, sabedoria, música, quer dizer, poesia. Do etéreo, ele também trata, só que com ironia: “Até gosto às vezes/ de brincar de anjo/ do que não gosto/ é da tremenda dor/ que me fica depois/ nas asas”.

Assim é a poesia de Leonardo Gonçalves: minimalista, reduzida ao essencial, preocupado em extrair beleza (e conhecimento) da vida mesma que ele leva, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Pois, como escreveu Octavio Paz, em O arco e a lira, “o poeta escuta o que o tempo diz, ainda que ele diga: nada”. O tempo pode dizer o amor (“deve ter algo no céu/ da sua boca/ que me faz brilhar”, que lembra outro poema em prosa de Blake, “aquele cuja face não ilumina, nunca se tornará uma estrela”) ou, talvez, o desespero (um poema em que repete os refrões, “e você ria”, “você não vinha”, “você mentia”). Mas o tempo, através de Leonardo Gonçalves, está sempre dizendo que a vida é horror e delícia, claridade e escuridão, noite e dia, tudo junto, inseparável (e é isto que, finalmente, faz a sua beleza): “Quando eu morrer/ favor anotar no final da minha paixão:/ morreu de tanto viver”.

Aí está toda a magia da poesia, em sua beleza e completude: até mesmo o ato de morrer, pode ser, contradição suprema, uma afirmação, na verdade e ainda um ato de vida. Pois, como escreveu William Blake, “tudo que vive é Sagrado”. Ou, como afirmou Octavio Paz, “poesia, momentânea reconciliação: ontem, hoje, amanhã; aqui e ali; tu, eu, ele, nós”. Poesia, como bem sabe Leo Gonçalves, é conflito, mas também reconciliação.

o mal da imprensa ou o jornalismo transgênico

aqui no brasil, é a imprensa quem define os destinos que iremos tomar. o discurso é o seguinte: o povo tem direito de saber tudo o que acontece. é dever da imprensa divulgar o que se passa nos bastidores de tudo. temos o dever de informar a verdade para as pessoas. blablabla.
e assim, eles nos informam da verdade deles. porque o problema é que nem todo mundo sabe que a verdade é adaptável para as diferentes necessidades. e então, cada jornal e cada emissora de tv adapta a verdade a favor de alguém.
os jornais têm os mesmos problemas que os transgênicos: ninguém sabe a quem eles estão servindo. por isso, deveria vir na primeira página de cada jornal, algo parecido com os rótulos avisando sobre os produtos transgênicos.
imagina se viesse escrito nos jornais, como O TEMPO, por exemplo, o seguinte aviso: “este jornal é imparcial em favor dos interesses do psdb.” ou ESTADO DE MINAS, “o grande jornal dos mineiros sempre a favor do governador.” acho que assim estaríamos melhores.
na história da histeria atual em torno à corrupção, deveríamos agora lutar por algo como uma CPI da imprensa brasileira ou a criação de mecanismos que obriguem os jornalistas a se tornarem mais sérios. afinal, algo precisa ser feito. e com urgência.

literatura de bordel

para cicciolina
e marcelo companheiro

o jornalista fotografa
a boceta filet-mignon da prostituta
aqui tudo pode
(ensaio com 75 poses caras e bocas e perversão)

de longe vem o rugido da horda
alegria um velho safado
consolo no rabo
porta aberta em senhorita lusbel

o guarda no batente se levanta
aponta o cassetete pra fazer seu certo
dá revista completa no sujeito
e termina pagando boquete
o ensaio sai no jornal nacional

nessa orgia deslavada
todo coitado quer meter o pau
repórter mariquita recatada
quis mamar na teta seca dessa vaca
cobriu a batucada na semana passada
voltou prenhe de um casal de maritacas

por aqui, tudo é amor
aqui todos tomam nos cus
seu tião faz sacanagem pura
pra avisar que o que é bom se faz aqui
o buraco não é só embaixo
& a festa é na coluna social
todos os direitos reservados:
conversa de microfone, classe média no mediano
grana jogada de grila, verdinhas, verdinhas e verdões

mas quem mais ganha nessa brincadeira
é a puta e o delegado, o programa do jô e o jornal nacional:
glória à audiência nas alturas,
e putaria aqui na terra, amém.

rapidinhas

mais sobre a imprensa de rapina

soube ontem que o financial times, um jornal altamente capitalista, levantou a discussão do problema da mídia brasileira. segundo eles, passados os vinte anos do fim da ditadura militar, a imprensa brasileira ainda continua tentando levantar estratégias para engambelar o leitor e não ter que responder por supostas acusações que faz inadvertidamente. de fato, a luta pelo “furo” de reportagem é um dos maiores males da cultura brasileira e chega a ultrapassar os limites da mídia. a suposta “novidade” é o nosso fetiche maior, não nos preocupando nunca em ter bases firmes para agüentar problemas realmente graves.

zona de invenção poética &

 

saravá! o puxador da bateria, ricardo aleixo, voltou a entoar o bordão: datas alteradas, a notícia é boa. o zip, que aconteceria no ano que vem, agora acontece em setembro deste ano, em belo horizonte, com os poetas da linha de fronteira. a bienal de poesia, que aconteceria neste setembro, fica remarcada para o ano que vem. mais notícias, no jaguadarte.revista mondana

seja benvinda! para quem se lembra e já se deliciava com o fanzine idéias bizarras, começa a circular de maneira igualmente deliciosa (e gratuita!) a revista mondana, em formato grande e repleta de novidades e curiosidades interessantes. como avisa a editora christina castilho, variedade no melhor sentido da palavra. ah, se toda mídia fosse assim…

imprensa de rapina é o mais inalterável vestígio da ditadura militar ou eu também vou reclamar

há muito tempo que olho amargo para as matérias sobre a política nacional na imprensa e fico extremamente chateado. exatamente por isso, deixei (como boa parte dos brasileiros) de ler ou ver jornais. com a crise, ficamos mais atentos. então, por isso mesmo. pare, pense e me diga: quem é que mais lucra com a patética situação do país da batucada?

não quebre demais a cabeça. é claro que é a imprensa.
agora ela está sapateando sobre a cova do PT. soube na semana passada que marcos valério soltaria a língua e que viria tiro para todo mundo, incluindo o aécio neves, nosso excelentíssimo governador. mas no mesmo dia, vi uma entrevista realizada contra (isso mesmo, contra) o marcos valério no jornal nacional. fiquei impressionado em ver o quanto o jornalista se preocupa em falar somente em uma sigla: pt. querem destruir o partido dos trabalhadores.
enquanto isso (eu ia conversando com meu amigo antônio sobre isso hoje), o país fica perdendo tempo com bobagens. deveríamos agilizar o processo de apuração dos crimes todos de uma vez e fazer de tudo para sair da crise, e não ficar fazendo esse jogo ridículo.
no cenário mundial, novas possibilidades se abrem para o brasil. os países desfavorecidos começam a abrir caminho no meio da merda mundial. o brasil pode ficar pra trás se ficar só nisso.

as réplicas do marcelino

não posso deixar de comentar aqui a teima e a toleima do matador-mor da revista veja, ora vejam!, que atacou mais uma vez metendo o pau no trabalho de dois caras da nova geração: o era-o-dito marcelino freire e o encarniçado joão filho. ele não tem mais o que fazer. confesso que ainda não li o livro dos dois camaradas. mas também confesso que o texto do jt despertou a minha curiosidade para lê-los. além do mais, o cara escolheu trechos inspirados dos livros deles para falar mal. deve estar é querendo ficar famoso às custas dos caras! só pode ser isso.

agora, novos detalhes sórdidos começam a aparecer em torno ao matador: se arriscou como escritor e ainda tem um … digamos… blog! na superinteressante. Superinteressante! então, pessoal, vai lá e enche o saco do cara. encham a bola dele. façam algo por ele. ele está clamando por bombons. ora ora… olha o link aqui (uma dica: para quem tem email grátis, minta. o nazista não aceita mensagens de quem não paga internet, mas aceita de quem mente.)

clique aqui para ler a carta do marcelino (mais um tiro certeiro na cara do jt) publicada ontem no era-o-dito.

à boa teta

teta nova, mais branca que ovo,
teta de cetim branco novo,
teta que faz a rosa corar,
teta de beleza sem par,
teta firme, não teta, enfim,
pequena esfera de marfim,
no meio da qual se fareja
uma framboesa ou uma cereja,
que ninguém vê, tampouco toca,
mas assim é descrita em doce fofoca.
teta, pois, da pontinha vermelha,
teta que sempre imóvel semelha,
no ir e vir de seu caminhar
ou para correr, ou para bailar.
teta esquerda, teta sozinha,
teta separada da sua irmãzinha,
teta que é grande homenagem
para o resto da personagem.
teta, que desperta em moço e ancião
um grão desejo lá dentro da mão:
de te provar, de te possuir.
mas é preciso refrear o sentir,
o achegar-se assim tem que ser,
senão outras vontades verás florescer.
ó teta nem grande nem pequena,
apetitosa, desenhada a bico-de-pena,
teta que noite e dia implora:
“casa-me, casa-me agora!”
felizardo, eis como se chamará
aquele que de leite de t’encherá
fazendo de teta de donzela
teta de mulher inteira e bela.













poema de clément marot (1496-1544) publicado em à boa teta [tradução de andityas soares de moura]. crisálida, 2005.

cicciolina


you said everything revolves around a certain principal
you said everything depends upon our understanding of the political

my Cicciolina everything is physical
my Cicciolina everything’s political

you’re the butterfly goddess floating down
streams of love’s jetting sperm fountains
everyone wants to consume you cicciolina
why should I be any different?

my cicciolina everything is physical
my cicciolina you fill me with a boa constrictor love
love like a fire
love like a flame
but you eliminate
there she goes again floating down those lovely streams of
those lovely streams of

my cicciolina everything is physical
it’s all political
my Cicciolina

é uma musica do machines of loving grace