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Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

luna lunera e a peça "não desperdice sua única vida ou…"

patrícia me levou para ver essa peça na semana passada e desde então não me sai da cabeça. até pensei em escrever algumas palavras inteligentes sobre o assunto, mas o editor-chefe da revista veja achou que pegaria mal. “não é bom oferecer coisas inteligentes para as pessoas”, ele me disse. e o jerônimo ainda acrescentou: “além do mais, não se deve falar bem de peças de teatro. falar bem não vende nem balinha na esquina. bom é quando você fala mal da peça, que aí causa polêmica e vende muito mais.”

mas como eu não queria vender nada, só queria puxar assunto com os leitores, achei que pelo menos podia colocar aqui nesse blogue um convite para vocês irem assistir. está na campanha de popularização do teatro até o dia 19 de fevereiro. assistam e comentem comigo.

fórum social mundial

começa hoje o 6º fórum social mundial. o evento acontece a cada ano e tem um repercussão cada vez mais contundente no cenário internacional. é a mais interessante resposta ao fórum mundial econômico. de caráter puramente popular, teve suas primeiras versões aqui no brasil: em porto alegre. mas diferente dos outro anos, o encontro será policêntrico: acontece ao mesmo tempo no Paquistão, no Mali e na Venezuela.

meu amigo e ídolo pop marcelo terça-nada, como nos três últimos fóruns, já está em Caracas. e quem quiser saber notícias, aconselho que não siga o noticiário da rede bobo ou da revista (in)veja. procure a “outra imprensa”. se estiver em bh, poderá sintonizar na rádio ufmg, que também dará alguma cobertura. é só ficar ligado.

www.virgulaimagem.blogspot.com

www.ufmg.br/online/radio/

www.forumsocialmundial.org.br

em 2006 ou é sempre bom dar uma reclamadinha

maiakovski, gertrude stein, pedro kilkerry, léopold sedar senghor, wisława szimborzka, ocatavio paz, anne sexton, aimé cesaire, francisco urondo, marcelo companheiro, césar vallejo, paul verlaine, adam mickiewicz, pushkin, paul éluard, robert desnos, josé lezama lima, rubén darío, sor juan inés de la cruz, antonio machado, stephane mallarmé, ovidio, chuang tse, sá de miranda, macedonio fernandez, heredia, verhaerhen, john donne, s. t. coleridge, issa, edmund spenser, johann wolfgang goethe, gérard de nerval, andré breton, raul gonzalez tuñon, jorge guillén, miguel hernandez, tristan tzara, wlademir dias-pino, oliverio girondo, sebastião nunes, w.b.yeats, tadeusz rożewicz, pier paolo pasolini, swinburne, sousândrade, luiz gama, langston hughes, allen ginsberg, gregory corso, lawrence ferlingetti, e. e. cummings, george trakl, aleksandr blok, hölderlin, iessênin, marianne moore, jules laforgue, tristan corbière, friedrich nietzsche, miodrag pávlovitch, jacques prévert, jiri wólker, samuel beckett, li tai po, tu fu, roberto piva, czesław miłosz, claudio willer, juan gelman.

são alguns dos poetas que eu gostaria de ler em 2006. mas “nesse brasil que canta e é feliz feliz feliz” (como diria augusto de campos), não se encontra. uma pena.

nei lopes e as áfricas em nós

se formos acompanhar os fenômenos que acontecem na cultura brasileira, pouco a pouco veremos o quanto somos pobres de conhecimento de nós mesmos. opostos costumam ser afirmação do mesmo. sobre a presença negra no brasil, eu chamaria de colonização passiva. colonização porque o alcance da implementação dos hábitos e costumes dos africanos foi muito maior do que supomos. passiva… bem, todo mundo sabe.

foi enquanto eu pensava nisso que eu tive acesso a um mundo inteiramente novo que pra mim começa num excelente trabalho de nei lopes chamado “novo dicionário banto”. fiquei fascinado ao saber nele que boa parte do vocabulário brasileiro se formou a partir das línguas da áfrica austral, hoje oficialmente lusófonas.

a palavra “cara”, usada sem limites em todo o território nacional, no masculino (o cara), por exemplo, teria vindo de uma língua banto: “okala”, que significa homem. a etimologia dada pelos dicionários é um pouco diferente: houaiss (que inclusive aceitou muitas entradas no seu dicionário monumental) defende que teria vindo do latim, através do grego “kara”, significando rosto (a fonte sendo a mesma da palavra feminina).

agora, pesando os dois lados da balança, não seria mais óbvia a suposição de nei lopes? afinal, já temos tantas palavras bantas no nosso vocabulário corrente e oficial! samba, bunda, dendê, inhame, mulungu, zumbi, cochilo… e por aí vai.
só nos resta concluir que os nossos aplicados filólogos mergulham desesperados nos tratados de latim e grego, procuram saber sobre nossas origens indo-européias, acham fontes em tudo quanto é lugar, mas se esquecem de algo muito simples: o brasil é quase a áfrica.
nei lopes é sambista, parceiro de martinho da vila, autor de diversas canções populares. lançou recentemente um cd, coletânea de alguns dos seus maiores sucessos. de letra e música (para ouvi-lo, clique aqui). fez o grosso (porém caro, uma pena!), “enciclopédia brasileira da diáspora africana”. e é o autor de “bantos, malês e a identidade negra”, lá nos anos setenta. sobre este, ainda voltaremos a falar, que vale a pena. mas como eu já falei demais, por hoje, vou ficar por aqui.
ah, ele tem também um blogue: meu lote, visite, vale a pena..

jacques prévert

três poemas que traduzi de j.p.

dedicados ao meu amigo eclair antônio almeida filho

um homem e uma mulher
nunca se viram
vivem muito longe um do outro
e em cidades diferentes
um dia
eles lêem na mesma página de um mesmo livro
ao mesmo tempo
no segundo segundo
do primeiro minuto
de sua hora derradeira
exatamente

…….

um único pássaro na gaiola
a liberdade está de luto
oh, minha juventude
deixa para minha alegria de viver
a força para te matar

……..

o tempo
traz a vida dura
àqueles que querem matá-lo

no dia 04 dezembro (atualizado)

hoje, 04 de dezembro, dia de sua mãe oiá-iansã, o escrevinhador deste blogue completa trinta anos. para brindar, caetano veloso. só conheço duas versões dessa canção que o antônio risério considera o mais arrojado oriki que ele conhece. quem quiser ouvir, é só clicar aqui ó. sugiro a versão de gilberto gil, que parece quase um mantra.

senhora das nuvens de chumbo
senhora do mundo
dentro de mim
rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom – tempo ruim

senhora das chuvas de junho
senhora de tudo
dentro de mim
rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom – tempo ruim

eu sou o céu
para as tuas tempestades
o céu partido ao meio
no meio da tarde
eu sou o céu
para as tuas tempestades
deusa pagã dos relâmpagos
das chuvas de todo o ano
dentro de mim

rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom – tempo ruim

nesse mesmo dia, também é aniversário de rainer maria rilke. o namorado da louca lou que nasceu em 1875. exatamente cem anos antes de mim. fiquei sabendo há pouquinho tempo.

eu nem gostava do rilke, mas desde que ouvi o jorge mautner recitando o começo das suas “elegias duinenses” comecei até a achar bom.

vou colocar aqui um trecho da tradução feita pela dôra ferreira da silva. aquele mesmo que o mautner gosta de falar.

quem, se eu gritasse, entre as legiões dos anjos
me ouviria? e mesmo que um deles me tomasse
inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia
sua existência demasiado forte. pois que é o belo
senão o grau do terrível que ainda suportamos
e que admiramos porque, impassível, desdenha
destruir-nos?

tem ainda um outro chegado que comemora anos no mesmo dia que eu: andrade muricy. esse, tenho certeza, pouca gente conhece. é que ele não era poeta não. era crítico. e os críticos morrem mudos. principalmente no brasil. gosto dele porque foi o corajoso que fez a melhor antologia de poesia simbolista brasileira, levantando nomes conhecidos e desconhecidos e provando pra nós que o brasil é moderno desde o simbolismo. e que os cascorentos parnasianos não conseguiram ofuscar com seu poder positivista o surgimento da “fraternidade de poetas” de que fala octavio paz. a nossa. é nessa geração que surgem os nossos primeiros poetas críticos (tirando sousândrade, que veio antes), porque até então, não éramos mais que pirralhos byronianos ou hugoanos com pobríssimas reflexões mais sérias.

em homenagem a ele, um poema do bom e velho pedro kilkerry. é um soneto com um fantasma no meio. sempre que o leio, penso na patrícia, minha namorada. e hoje tudo o que escrevo aqui é dedicado a ela.

é o silêncio…

é o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
olha-me a estante em cada livro que olha.
e a luz nalgum volume sobre a mesa…
mas o sangue da luz em cada folha.

não sei se é mesmo a minha mão que molha
a pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
penso um presente, num passado. e enfolha
a natureza tua natureza.
mas é um bulir das cousas… comovido
pego da pena, iludo-me que traço
a ilusão de um sentido e outro sentido.
tão longe vai!
tão longe se aveluda esse teu passo,
asa que o ouvido anima…
e a câmara muda. e a sala muda, muda…
afonamente rufa. a asa da rima
paira-me no ar. quedo-me como um buda
novo, um fantasma ao som que se aproxima.
cresce-me a estante com quem sacuda
um pesadelo de papéis acima…
…………………………………………………………………………

e abro a janela. ainda a lua esfia
últimas notas trêmulas… o dia
tarde florescerá pela montanha.

e oh! minha amada, o sentimento é cego…
vês? colaboraram na saudade a aranha,
patas de um gato e as asas de um morcego.
(kilkerry)

psiu!


apesar que já meio na prorrogação, não posso deixar de noticiar aqui o xix psiu poético, que está acontecendo em montes claros desde o dia 04 de outubro. grande realização do aroldo, que vem mantendo o projeto ao longo de 19 anos.

 

pois bem, o psiu, no último final de semana, contou com as ilustríssimas participações dos meus amigos: grupoPOESIAhoje, parafenalizando os sentidos, e a dupla dinâmica bruno brum e renato negrão que tentativizou o local. infelizmente ainda não tive notícias. esperemos o que dirão os blogues nos próximos dias.

veja aí a programação dos próximos dias:

 

 

11 OUTUBRO – TERÇA-FEIRA

POESIA CIRCULAR Local: Escola Municipal Joaquim Rodrigues – CAIC Américo Souto Av. Principal , 314, Vila ExposiçãoTelefone: (38) 3229-3395

15 h – PALESTRA SOBRE O LIVRO:A Hora da Estrela – Clarice LispectorPalestrante: Ricardo Batista Lopes Local: Auditório Cândido Canela – Centro Cultural Hermes de Paula. Intervenção: Soraya Santos – Alexandre Pilati – João Arantes

16 h – PAPO POÉTICO – CCH – DCE – UNIMONTESTema: O Espaço Social do Poeta ou ainda é Possível ser poeta? Participação: Alexandre Pilati, Augusto Nesi e Anelito de OliveiraLocal: Auditório do CCH – Unimontes

20h – TOM DA TERÇA POÉTICALançamento de livros:Reverso – João Nery PestanaO Espírito do Tempo – João ArantesRios do Meu tempo – Narciso Durães Ricardo Evangelista, Marco Llobus, Deusdeth Rocha, Domingos Ramos, Joaci Ornelas, Ronaldo Pio, Ribeiro e Ribeirinho e Grupo Prego de Linha, Van SannerLocal: Sala Cândido Canela – Centro Cultural Hermes de Paula

12 OUTUBRO – QUARTA-FEIRA

10 h – Dia da Criança Poesia na Rodoviária: Interação entre poetas, músicos, atores, palhaços, brincantes e viajantes Lançamento de livros: A armadilha – Dilma Martins Prates RibeiroUm dia diferente – Maria Ruth das Graças Veloso Pinto.Local: Terminal Rodoviário

20 h – Lançamento de livros:Leitura em Braille – Micheline Lage Sonho e Agonia – Maria Luiza Silveira Teles Tempo de encanto – Regina LyraLocal: Galeria Godofredo Guedes – Centro Cultural Hermes de Paula

Espetáculo de Encerramento: Fecha a porta, Maria, que o boi evém – Balé Jaqueline PereiraPerformance Poética: Grupo Transa Poética, Mano Melo, Mané do Café, Waldir de Pinho Veloso, Vera Casa Nova, Micheline Lage, Fernando Aguiar, Alice Massa, Odila Placência, Augusto Nesi, Amarildo Azonlin, Edson Lopes.Local: Feira de Artes – Praça Dr. Chaves (Pça da Matriz), 32 – Centro

de acordo com as palavras de um sábio ribeirãopretense

queridos leitores, eis me de volta de doze dias de muito trabalho em ribeirão preto. saí de bh às pressas para trabalhar na feira de livros que estava rolando lá. vender livros. o hábito do cachimbo faz a boca torta, dizia o meu pai. colocados os pensamentos em dia, ansiedade jogada fora, agora é descer do paraquedas e ficar com as palavras de um sábio ribeirãopretense:
“não adianta vanguarda sem retaguarda”. e que a volta seja redonda.