no dia 04 dezembro (atualizado)

hoje, 04 de dezembro, dia de sua mãe oiá-iansã, o escrevinhador deste blogue completa trinta anos. para brindar, caetano veloso. só conheço duas versões dessa canção que o antônio risério considera o mais arrojado oriki que ele conhece. quem quiser ouvir, é só clicar aqui ó. sugiro a versão de gilberto gil, que parece quase um mantra.

senhora das nuvens de chumbo
senhora do mundo
dentro de mim
rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom – tempo ruim

senhora das chuvas de junho
senhora de tudo
dentro de mim
rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom – tempo ruim

eu sou o céu
para as tuas tempestades
o céu partido ao meio
no meio da tarde
eu sou o céu
para as tuas tempestades
deusa pagã dos relâmpagos
das chuvas de todo o ano
dentro de mim

rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom – tempo ruim

nesse mesmo dia, também é aniversário de rainer maria rilke. o namorado da louca lou que nasceu em 1875. exatamente cem anos antes de mim. fiquei sabendo há pouquinho tempo.

eu nem gostava do rilke, mas desde que ouvi o jorge mautner recitando o começo das suas “elegias duinenses” comecei até a achar bom.

vou colocar aqui um trecho da tradução feita pela dôra ferreira da silva. aquele mesmo que o mautner gosta de falar.

quem, se eu gritasse, entre as legiões dos anjos
me ouviria? e mesmo que um deles me tomasse
inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia
sua existência demasiado forte. pois que é o belo
senão o grau do terrível que ainda suportamos
e que admiramos porque, impassível, desdenha
destruir-nos?

tem ainda um outro chegado que comemora anos no mesmo dia que eu: andrade muricy. esse, tenho certeza, pouca gente conhece. é que ele não era poeta não. era crítico. e os críticos morrem mudos. principalmente no brasil. gosto dele porque foi o corajoso que fez a melhor antologia de poesia simbolista brasileira, levantando nomes conhecidos e desconhecidos e provando pra nós que o brasil é moderno desde o simbolismo. e que os cascorentos parnasianos não conseguiram ofuscar com seu poder positivista o surgimento da “fraternidade de poetas” de que fala octavio paz. a nossa. é nessa geração que surgem os nossos primeiros poetas críticos (tirando sousândrade, que veio antes), porque até então, não éramos mais que pirralhos byronianos ou hugoanos com pobríssimas reflexões mais sérias.

em homenagem a ele, um poema do bom e velho pedro kilkerry. é um soneto com um fantasma no meio. sempre que o leio, penso na patrícia, minha namorada. e hoje tudo o que escrevo aqui é dedicado a ela.

é o silêncio…

é o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
olha-me a estante em cada livro que olha.
e a luz nalgum volume sobre a mesa…
mas o sangue da luz em cada folha.

não sei se é mesmo a minha mão que molha
a pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
penso um presente, num passado. e enfolha
a natureza tua natureza.
mas é um bulir das cousas… comovido
pego da pena, iludo-me que traço
a ilusão de um sentido e outro sentido.
tão longe vai!
tão longe se aveluda esse teu passo,
asa que o ouvido anima…
e a câmara muda. e a sala muda, muda…
afonamente rufa. a asa da rima
paira-me no ar. quedo-me como um buda
novo, um fantasma ao som que se aproxima.
cresce-me a estante com quem sacuda
um pesadelo de papéis acima…
…………………………………………………………………………

e abro a janela. ainda a lua esfia
últimas notas trêmulas… o dia
tarde florescerá pela montanha.

e oh! minha amada, o sentimento é cego…
vês? colaboraram na saudade a aranha,
patas de um gato e as asas de um morcego.
(kilkerry)

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