Todos os posts de Leo Gonçalves

Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

Vídeo documentário sobre o Poro

Ações efêmeras. Ou seja, ações sutis. Delicadas ações que podem passar desapercebidas. “A pessoa bruta não liga pra nuance das coisas” (mautner). Pequenas doses de beleza em paredes, em folhas, enxurradas. Desde 2002 inventando intervenções nos espaços públicos, o Poro acaba de lançar o seu primeiro documentário. Produzido em parceria com a Rede Jovem de Cidadania, o filme de 22 minutos mostra várias das principais ações que o Poro vem desenvolvendo nos últimos 8 anos.

Para saber mais, é no blogue oficial do poro:
http://poro.redezero.org/video/documentario/

Um poema de Juan Gelman

À PINTURA

Dénise trabalha no Musée du Louvre buffet do 1º piso,
entre mesas ou ingleses ela conduz seu corpo com toda a decisão,
sua bunda é mais sonora que os mundos de Rubens
e é parecida com a esquina das pombas da Avenue des Champs Élysées.

Todo o dia o dia todo se mexendo se mexendo
solta espécie de pássaros que revoam ao seu redor
e a descrevem no ar saudando a grande cidade
antes de regressar docemente à sua carne.

Dénise trabalhava e nunca havia visto a Gioconda
mas seu quarto em Poissonnière
era um país sempre disposto para o amor,
Toda noite seu cheiro batia nas janelas.

Quando abraçava o homem olhava para a porta
como se a ternura fosse entrar de repente,
dela às vezes voavam pássaros escuros
como uma tristeza depois de haver amado.

(do Juan Gelman, tradução provisória de Leo Gonçalves)

A LA PINTURA

Dénise trabaja en el Musée du Louvre buffet del ler. piso,
entre mesas o ingleses ella conduce su cuerpo con toda decisión,
su culo es más sonoro que los mundos de Rubens
y se parece a la esquina de las palomas de l’Avenue des Champs Elysées.

Todo el día todo el día moviéndose moviéndose
suelta especie de pájaros que revolotean a su alrededor
y la describen en el aire saludando al gran pueblo
antes de regresar dulcemente a su carne.

Dénise trabajaba y nunca había visto a la Gioconda
pero su cuarto en Poissonniére
era un país siempre dispuesto para el amor,
cada noche su oleaje golpeaba las ventanas.

Cuando abrazaba al hombre miraba hacia la puerta
como si la ternura fuese a entrar de repente,
a veces se le volaban pájaros oscuros
como una tristeza después de haber amado.

Juan Gelman, no livro Gotán

Revista de Autofagia nº3 – para baixar

Ótima notícia de carnaval no blogue do Bruno Brum: a Revista de Autofagia nº3 já está disponível para baixar, em formato pdf. A revista, que é levada na base da boa vontade por ele (Bruno) e o Makely, é publicada desde 2003 e já teve como colaboradores: Estrela Leminski, Amarildo Anzolin, Marcelo Sahea e tantos outros. Neste número 3 você poderá ler poemas de Allen Ginsberg traduzidos por mim (Leo Gonçalves), os trabalhos da série tramas de Marcelo Terça-Nada! (que inclusive foram belissimamente aproveitados na capa e no projeto gráfico da revista), uma entrevista com o escritor mineiro Sérgio Fantini, poemas de Joca Reiners Terron, Micheliny Verunschk, Guilherme Rodrigues, Letícia Féres, Fabrício Marques, Mônica de Aquino, poemas de Bill Knott e Keneth Rexroth traduzidos por Reuben da Cunha Rocha, e muito mais. Faça o download da revista e confira.

Qualquer dúvida, dê uma sacada no www.saborgraxa.wordpress.com

O amante da algazarra

Essa semana me deu na veneta de ler o livro O amante da algazarra – Nietzsche na poesia de Waly Salomão, dica da querida poetamiga Renata Cabral. O ensaio (um dos poucos existentes sobre o Sailormoon), foi escrito pelo também poeta Flávio Boaventura, o Boave. O texto, embora escrito para a academia, é de uma maravilhosa sagacidade e esperteza de linguagem. Coisa de quem conhece o peso das palavras. Enquanto eu lia, sentia aquela alegria esfuziante de quem está revendo amigos.

juan fiorini

quase sempre
penso tudo

quase tudo
nada peço

tudo penso
quase nada

nada penso
sempre quase

quase nada
sempre tudo

quase sempre
nada tudo.

(do livro quase nada sempre tudo, de juan fiorini)

Do que eu mais gosto no livro do Juan Fiorini, é que ele é vagabundo como eu, despretensioso “corpoema” a transitar pelas ruas da sua cidade, poesia sem pose e sem limites, pura brincadeira que nada nada “faz de cada um de nós um santuário de tudo e de si mesmo”.

Plano Nacional de Direitos Humanos

O texto final deste Programa é fruto de um longo e meticuloso processo de diálogo entre poderes públicos e sociedade civil. Representada por diversas organizações e movimentos sociais, esta teve participação novamente decisiva em todas as etapas de sua construção. A base inicial do documento foi constituída pelas resoluções aprovadas na 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que compuseram um primeiro esqueleto do terceiro PNDH. (…)

O desafio agora é concretizá-lo.

Paulo Vanucchi


Este PNDH-3 será um roteiro consistente e seguro para seguir consolidando a marcha histórica que resgata nosso País de seu passado escravista, subalterno, elitista e excludente, no rumo da construção de uma sociedade crescentemente assentada nos grandes ideais humanos da liberdade, da igualdade e da
fraternidade.

Luis Inácio Lula da Silva

Este é um assunto de interesse de todos. Muita genta não sabe: o governo brasileiro lançou na virada do ano o Plano Nacional de Direitos Humanos, também conhecido como PNDH3. Um pacotão que está dando o que falar. Os críticos mais ácidos afirmam que o pacote é, finalmente, o programa petista sendo posto em prática. Mas a verdade é que não se trata apenas disto.

Nos últimos 15 anos, o governo tem discutido com representantes de todos os setores interessados (durante o processo participaram cerca de 14 mil pessoas de todos os estados brasileiros) um plano nacional de direitos que amplie a participação da sociedade civil. No texto final, há diversas cláusulas polêmicas, como o direito ao aborto (baseado no direito da mulher sobre o próprio corpo), a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças por casais homossexuais, o direito à memória (a abertura dos arquivos da ditadura militar, por exemplo), o amplo direito à cultura e à saúde, a criação de juizados de conciliação para casos de invasão de terras abrindo meios para um princípio de reforma agrária e por aí vai.

O problema é que o assunto tem sido discutido e polemizado apenas por tendenciosas alas do poder. A igreja critica, entre outras coisas, o direito ao aborto, acusa Lula de “o novo Herodes”, os militares reclamam da abertura, os juízes e ruralistas afirmam que o Plano vai contra a propriedade privada e que fortifica o Movimento dos Sem Terra.

O item relacionado à cultura me parece ainda insuficiente, mas não será isso que tornará o todo menos interessante. O assunto interessa a todos, enfim. E se é para haver polêmicas, que sejam justas. Com opiniões dos dois lados.

Tenho visto poucas manifestações das partes mais interessadas. Mas uma das que mais gostei foi o ato público que ocorrerá em São Paulo, no domingo, dia 07 de fevereiro às 17h, na esquina de Rua Augusta com Avenida Paulista: haverá um Beijaço pelos Direitos Humanos, uma pacífica saudação ao Plano que poderá tornar o Brasil legalmente um país bom de viver. Vamos fazer um em Belo Horizonte também? No mesmo dia e hora. Beijo é sempre bom. Que tal na Praça da Estação…

Para ler o texto completo do PNDH3, é só clicar aqui.

Notícias do Piva

Repito aqui as notícias blogadas hoje por Ademir Assunção.

PIVA CONTINUA NA ENFERMARIA

Roberto Piva continua internado na enfermaria do HC, com mais três doentes.

Gustavo, que mora com ele e é a pessoa mais próxima, está acompanhando de perto. Ele disse que Piva está tendo um bom atendimento médico. O poeta e amigo Antonio Fernando de Franceschi pagou uma consulta particular, com um bom médico, quando Piva passou mal, antes da internação. O mesmo médico está acompanhando seu quadro clínico. Gustavo disse também que a situação não é tão precária.

Mas está longe de ser boa. Piva terá que fazer uma cirurgia da próstata e provavelmente um cateterismo. A internação deve se prolongar por mais algumas semanas. Ele tem reclamado muito da comida, da televisão ligada até tarde no quarto e de rezas de evangélicos. O horário de visita é de apenas 2 horas e só podem entrar 2 pessoas.

*****

Gustavo disse que toda a atenção e solidariedade são bem-vindas. Piva vai precisar de grana quando sair do hospital. Quem quiser e puder ajudar, eis a conta dele:

Banco: Itau

Agência: 0036

Conta: 20592-0

CPF: 565.802.828/00

Roberto Piva: xamã sem pajé

Acho chato falar de um poeta sempre nos limites da fraqueza humana, no leito do hospital, no desespero e na urgência. Um poeta como Roberto Piva merece ser sempre comentado e lembrado em estado de exuberância, vivo flaneur de um lugar onde o cheiro incita o caminhar, mesmo que no horizonte seja possível avistar o céu preto da necrópole. Não é bom pensar num xamã com olhos piedosos, mesmo que ele esteja como todos nós, forrado das doenças ocidentais.

Mas estamos todos no mesmo barco e a urgência existe. E o poeta se encontra em dificuldades, sem grana e sem pajé. Tem 73 anos e de um tempo pra cá começou a sofrer de mal de Parkinson. No dia 20 foi internado no Hospital das Clínicas de São Paulo e enfrenta o seu inferno dantesco. Ademir Assunção escreveu sobre ele no dia 22 e, pelo que eu soube, as coisas continuam na mesma. Ana Peluso me disse que estão tentando sensibilizar o governo para conseguir um lugar melhor, mas não há resposta. Como bem falou o Ademir, “artistas não vivem de elogios”. Ninguém, na verdade, convenhamos.

Roberto Piva lançou sua poesia reunida recentemente pela editora Globo e desde então voltou a ser falado e comentado, lido, ouvido, cinegrafado. Para quem quiser ouvi-lo mais, é na TV Cronópios. Você também consegue lê-lo na Revista Agulha, na Zona Branca-Espelunca do Ademir Assunção, na Germina Literatura e no google, quer dizer, no mundo. Quero que ele continue assim: no mundo. Não apenas em bytes, mas carne e osso. Quem também quiser, proponho manter-se informado sobre o melhor jeito de ajudar. Mãos à obra.

um inédito

todo dia de manhã
eu beijo a minha própria boca
não é beijo no espelho não
é beijo na boca de verdade

todo dia de manhã
eu beijo a minha própria boca
não é narcisismo não
é beijo de língua

e você já beijou a sua própria boca?
não é beijo no espelho não
é beijo na boca

e você já beijou a sua própria boca?
não é narcisismo não
é beijo de língua