Todos os posts de Leo Gonçalves

Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

A vertigem – Patela cia teatro & dança

Nos dias 24, 25 e 26 de setembro estréia em Belo Horizonte o espetáculo A vertigem, com o grupo Patela. Inspirado na vida de Fedon, príncipe insigne, escravo, bailarino de prostíbulos da Grécia antiga, discípulo de Sócrates. Sua trajetória é marcada pela dor e pelo amor, elementos básicos de sua filosofia. Personagem que deu título a uma obra de Platão, cuja vida guarda mistérios até mesmo sobre sua real existência.

A vertigem traz à cena Robson Vieira, que interpreta o papel de Fédon. A dramaturgia é de Patrícia Mc Quade em colaboração com o grupo e a direção é de Claudio Márcio.

O espetáculo começa às 20h, no Espaço Ambiente, na rua Grão Pará, 185 – Santa Efigênia, atrás do Lapa Multishow. Na sexta-feira terá um bate-papo após a sessão. No sábado e no domingo, a peça será exibida a preços populares.

Londrix 2010

Começa na próxima terça-feira, dia 21 de setembro o Londrix 2010 – Festival Literário de Londrina. Seis dias de intensa programação. Poetas, escritores, música, feira de livros, lançamentos, debates, oficinas, palestras e a presença de muitos  amigos. Quem estiver passando por lá, não devia perder.

Pra saber mais, é no site:
www.festivalliterariodelondrina.com

Mercado editorial, mundo de incertezas

Recém chegado a São Paulo, tenho olhado com avidez para o mercado editorial. Talvez tenha sido essa a maior surpresa minha ao chegar a esta cidade. A constatação de que de fato “existe” um mercado editorial, capaz de girar a roda, gerar empregos, atrair recursos. As estatísticas variam, mas é verdade que a cidade de São Paulo é responsável pela produção e o consumo da imensa maior fatia do que se produz editorialmente no Brasil. Enquanto uma cidade como Belo Horizonte ainda engatinha, com suas quatro ou cinco editoras pequenas, boa parte delas só publicando com recursos do Estado (via leis de incentivo), existe aqui uma intensa atividade empresarial com visão de futuro e desejos de inserção num mercado que, bem ou mal, acaba produzindo rios de dinheiro. Trabalhando primeiro numa pequena editora e, atualmente, numa distribuidora de livros e muitas vezes fazendo trabalhos free-lance, convivendo com designers gráficos, editores, escritores, não desistindo em nenhum instante dos meus projetos pessoais, ainda que sem editor (tenho na minha gaveta traduções, poesia, ensaios, projetos mil), tenho tido uma visão privilegiada do assunto. Todos os dias no metrô, vejo diversos leitores ávidos. Leitores que lêem em pé, sem segurar em nada, enquanto as pessoas se acotovelam. De uma ponta a outra da cadeia produtiva, vejo muita atividade. Livrarias cheias, animadas, algumas produtoras de elegantes revistas informativas.
Mas antes que o leitor pense que esta é uma nota otimista, parto logo para as nuances. Continue lendo Mercado editorial, mundo de incertezas

Modelos vivos – Ricardo Aleixo

O esperadíssimo Modelos vivos, novo e recheado livro de poemas de Ricardo Aleixo, já se encontra disponível.  Chegou até aqui com um time de especialíssimo de amigos: o próprio Ricardo pilota a lírica, claro. No projeto gráfico, o camarada Bruno Brum. E o editor, Oséias Silas Ferraz, da editora Crisálida. Uma beleza.

O lançamento em Belo Horizonte será em duas etapas:

1) Dia 11 de setembro a partir das 11 horas no Café com Letras (Rua Antônio de Albuquerque, 781 – Savassi)

2) Dia 14 de setembro, às 19h30, também no Café com Letras. Ricardo Aleixo apresenta sua leitura-concerto Música para modelos vivos movidos a moedas e abre uma pequena exposição de poemas visuais de sua autoria.

Se eu estiver em BH, quem quiser me ver nos referidos horários, apareça lá. E tomara que role logo um lançamento em São Paulo. Quando houver, aviso.

Saiba mais no www.jaguadarte.blogspot.com

Poesia liberdade

O poeta mexicano Heriberto Yépez defendia, por volta do ano 2000, que fosse abolida a noção de literatura (já caduca) para colocar em seu lugar o “Decir” (Dizer). Gosto muito da crise que essa proposição provoca. “Por uma poética antes do paleolítico e depois da propaganda”, manifesto que aparece no livro de poemas que tem exatamente esse título, é um dos poucos escritos realmente revolucionários que li entre os poetas da minha geração. Só não concordo com o termo encontrado. Acho “Dizer” amplo demais, pode significar coisa demais, pouco específico. Aprendi com as yalorixás que é preciso dizer as palavras certas, caso se queira obter certo resultado.

Quanto a mim, prefiro um outro termo igualmente caduco e relaxado (por remeter a uma falsa idéia de beletrismo e bondade), porém mais específico: poesia. Poesia: elemento pulsante e vital de toda grande obra de arte, seja ela em versos, tinta, bytes, pedra, cores ou sons. Heriberto mesmo não descarta o termo. E fodam-se as especificidades disciplinares.

Mas aí, dizendo isso, me vem à cabeça o que dizia Artaud em 1944. “Revolta Contra a Poesia” é um texto cruel. “Nós nunca escrevemos sem a encarnação da alma, mas ela já estava pronta, e por nós mesmos, quando entramos na poesia. O poeta que escreve dirige-se ao Verbo e o Verbo às suas leis. Há, no inconsciente do poeta, a crença automática em suas leis. Ele se crê livre, mas não o é.” Artaud se dizia “contra a poesia dos poetas”. Ele via “não sei que operação de rapina, que autodevoração de rapina onde o poeta, se limitando ao objeto, se vê devorado por esse objeto”. Uma abjeta devoração de si mesmo. Artaud estava louco? Se estava, alguém me prenda por favor.

Evelyne Grossman, especialista em Artaud e sua biógrafa, mostra* que o missivista de Rodez queria era “não a poesia-objeto (de gozo, de consumo, de leitura… à distância), não a poesia que ele qualificava de “literária”, mas a poesia-força, encantamento, ritmo, “a poesia no espaço” (o que ele definia como teatro), o movimento das sílabas proferidas, expectoradas – os corpos animados por palavras”.

Muitas vezes, publicar um livro de poemas é mais uma questão de estômago. Aceitar ou não aceitar essa abjeta devoração de si mesmo. Há quem suporte. Poemas não são como ensaios acadêmicos: não precisam ser publicados para acontecer. Poetas são muito afoitos. Querem ver logo seus livros publicados, antes mesmo dos poemas existirem. Querem ser vistos, tidos e reconhecidos como poetas. Há inclusive os que estudam semióticas, cânones, linguagens. Mas não se preparam para preencher seus corpos e seus versos com os ritmos e sons gerados no big bang (no fundo todo poema é um big bang). E toda a ousadia que conseguem derramar em seus textos não passa de literatura. Milhares de livros de poesia publicados ao ano. Árvores cortadas em vão. Depósitos e mais depósitos amontoando papel inútil pintado com tinta. Lamentáveis gritos de autoestimas machucáveis. Anotações para diário inúteis para quem não nasceu dentro do corpo do autor.

Prefiro poesia. Não sei se escolho a palavra certa. Mas que importa o certo? Um bom romance muitas vezes é um bom poema. Vice-versa não. Ainda Artaud: “Quando recito um poema, não é para ser aplaudido mas para sentir corpos de homens e mulheres. Corpos, insisto. Vibrar e emanar em uníssono com o meu, emanar como se emana, da obtusa contemplação, do buda sentado, coxas instaladas e sexo gratuito, à alma, quer dizer, à materialização corporal e real de um ser integral de poesia”**.

* no prefácio à edição francesa de Pour en finir avec le jugement de dieu.
** citação de uma carta a Henri Parisot, datada de 6 de outurbro de 1945 e incluída no mesmo prefácio de Evelyne Grossman.

Poemas do Haiti no Suplemento

A edição de junho/2010 do Suplemento Literário de Minas Gerais estampou alguns poemas que traduzi do poeta haitiano Léon Laleau, um dos que mais admiro na língua francesa. Bem pouco conhecido, Laleau escrevia com ironia e bom humor.

O número 1330 do Suplemento traz ainda a participação de dois amigos: o Cleber Araújo Cabral, que, em parceria com Adriana Araújo Figueiredo, fala do escritor mineiro Wander Piroli, e o Eclair Antônio Almeida, que fala sobre e traduz Maurice Blanchot. E tem também poemas, contos, ensaios.

Para quem não sabe, o Suplemento é uma publicação do governo de Minas Gerais e agora é bimestral. A distribuição é gratuita, tanto na forma impressa quanto na virtual, que fica disponível no site da secretaria de cultura do estado. Quem quiser baixar o pdf, é só clicar aqui (ou na capinha do suplemento aí acima).

Jerome Rothenberg, 1966

Proposições revolucionárias
(1966)

1. Uma revolução envolve uma mudança na estrutura; uma mudança no estilo não é uma revolução.

2. Uma revolução na poesia, na pintura ou na música faz parte de um plano revolucionário total. A arte (moderna) é fundamentalmente subversiva. Sua investida é em direção a uma revolução ilimitada (contínua).

3. “Toda forma, qualquer que seja ela, pelo simples fato de que existe como tal & resiste, necessariamente perde vigor & se torna desgastada; para recuperar o vigor, ela deve ser reabsorvida no amorfo, ao menos por um momento; ela deve ser restabelecida à unidade primordial da qual descendeu; em outras palavras, deve voltar ao ‘caos’ (no plano cósmico), à ‘orgia’ (no plano social), à escuridão (como semente), à ‘água’ (batismo no plano humano, Atlântida no plano da história e assim por diante).” -M. Eliade

4. “A árvore da liberdade deve, de tempos em tempos, ser reanimada com o sangue de patriotas & de tiranos. É seu adubo natural”. – T. Jefferson. “Sem contrários não é progressão. Atração & Repulsão, Razão & Energia, Amor & Ódio são necessários à Existência Humana”. -W. Blake

5. É possível racionalizar a história da poesia ou da arte moderna, mascarar seu caráter subversivo; mas mesmo como mania & moda passageiras, a poesia continua a subverter, a destruir os construtos de uma antiga ordem à medida que edifica os construtos-esboços de uma nova ordem.

6. “O desenvolvimento dos cinco sentidos é obra de toda a história do mundo até o presente”. -K. Marx

7. Uma mudança na visão é uma mudança na forma. Uma mudança na forma é uma mudança de realidade.

8. “A função do poeta é espalhar dúvida & criar ilusão.” -N. Calas

Do livro Etnopoesia no milênio de Jerome Rothenberg, organizado por Sérgio Cohn, traduzido por Luci Collin e publicado em 2006 pela Azougue Editorial.

Aos amigos que andaram à procura

Aos dois milhões de leitores que andaram à procura de notícias minhas por aqui, peço desculpas pelo silêncio. Não fui explícito em nenhuma parte ainda, mas a notícia é que deixei as alterosas, as terras belorizontinas para viver em São Paulo. Por aqui, momento inicial de adaptação, amizades novas, trabalhos e outras distrações me mantiveram um pouco longe da salamalandragem.

Excelentes notícias continuam vindo de BH, continuarei repassando o que me empolga por aqui, mas em breve, lançarei novas novas também de São Pã.

As inquietações continuam a mil.

Poemas, em breve novinhos em folha.

Planos para dominar o mundo ocupam o cérebro.

Por hoje deixo apenas o abraço.