véspera de eleição em bh: a difícil escolha entre o pior e o pior

amanhã, irei cumprir com a minha obrigação democrática muito a contra gosto. as eleições em belo horizonte este ano são as mais vergonhosas dos últimos tempos. os dois péssimos candidatos têm passado o último mês trocando impropérios, como quem estivesse disputando qual dos dois é o pior. isso porque ambos são péssimos mesmo.

de um lado, temos márcio lacerda: candidato que se diz ao mesmo tempo de esquerda e de direita. filiou-se ao partido socialista do brasil por pura fachada e depois do prazo previsto pelo TSE. ex secretário do ministro ciro gomes, ele tem sido colocado entre os principais finaciadores do mensalão. segundo me contaram, dentre os candidatos brasileiros a prefeito este ano, márcio lacerda é quem tem a maior renda pessoal. foi indicado por aécio neves que é do psdb e apoiado pelo atual prefeito, o petista fernando pimentel. um conchavo histórico que ainda terá fortes repercussões no país.

do outro lado, temos leonardo quintão: pastor da igreja universal do reino de deus, ex deputado estadual, clientelista assumido, filho de um prefeito corrupto de ipatinga. segundo consta, como deputado ele andou recebendo umas boas propinas para votar em interesses escusos. era um dos menos assíduos na assembléia. fato curioso: este candidato força o sotaque caipira para emocionar as donas de casa e o povo mais simples, enquanto narra (pasmem!) detalhes sobre a “exemplar” educação forjada na moral e nos bons costumes que recebeu de sua mamãe. ao lado de leonardo quintão, candidato do pmdb, temos os apoiadores hélio costa e o velho coronel newton cardoso (não estou querendo nem pensar num provável apoio secreto do edir macedo, que provavelmente deverá ser o responsável pelo financiamento da campanha – tomara que eu esteja errado).

cada um de um lado, mas ambos do lado direito. a esquerda ficou completamente fora da jogada. a candidata do pstu, como sempre, já surgiu sem crédito nenhum, com seu lindo discurso de que iria “fazer os ricos pagarem tudo e os pobres nada” (poupe-me, nem mesmo a pessoa mais idiota é capaz de cair numa tolice dessas). sérgio miranda, que era talvez o melhor candidato, saiu por um partido que já é quase de direita: o pdt e, diga-se de passagem, sem sequer um apoio efetivo da direção. não temos nem mesmo o socorro do pc do b que, na figura da jô moraes, decidiu apoiar leonardo quintão, o candidato mais reacionário do páreo.

fico me perguntando por que chegamos ao ponto de escolher exatamente os dois piores candidatos desta eleição. e só tenho uma resposta: é que política não é um joguinho ideológico. ela se realiza de fato é na capacidade de alguns para estabelecerem vínculos, apoios e parcerias estratégicas. o bom político não pode se valer só de karl marx. em política propriamente dita, muitos fins justificam, sim, os meios (é preciso ter consciência disto para não fazer mal uso desta verdade incontornável). e nesta eleição, foram justamente os candidatos que tinham melhor capacidade de diálogo, flexibilidade para fazer seus acordos. e grana. infelizmente para nós.

então, teremos que ir votar amanhã sem pai nem mãe.

eu deveria votar nulo. já faz tempo que não acredito no sistema de governo e muito menos no sistema eleitoral brasileiro. mas estou tomado por um desagradável incômodo pela possibilidade de termos um prefeito pastor da igreja universal do reino de deus. aliás, o vice também tem um importante cargo religioso na igreja católica. não me preocupo com a religião alheia. mas já sabemos o desastre que é a política desses pastores (recentemente, em salvador um terreiro de candomblé foi demolido com a desculpa de que a casa não estava em acordo com a “filosofia” da prefeitura). não quero correr esse risco. quero continuar tendo governantes laicos e conscientes do que acontece na cidade em todos os âmbitos. já nem alimento esperanças de que um dos dois dê atenção para a cultura.

amanhã, respirarei fundo, votarei em márcio lacerda a contra-gosto. e espero que ele me surpreenda.

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