tropa de elite: alguém falou em culpa?

muito curiosa a polêmica lançada pelo filme “tropa de elite”. parece que ele agradou e, ao mesmo tempo, incomodou a gregos e goianos. os partidários da polícia ficaram chateados, as boas mocinhas acharam que ele faz apologia à violência, os malucos acham que o filme é ufanista, há quem diga que como filme é bom, mas que a violência pesada não justifica. por outro lado, há quem diga que, como filme é ruim, mas que o que é dito ali não pode deixar de ser dito, pois é bem o retrato da polícia. falou-se em problemas educativos, falou-se em pirataria, ouvi reclamações que “meu filho anda cantando a música tema do filme, e eu acho isso muito perigoso”.

de minha parte, custei um pouco a ir vê-lo. mas posso dizer que gostei. achei o estilo denso e envolvente, achei que o diretor acertou a mão no tempo da narrativa e nas frases de efeito (“bota na conta do papa” vai entrar pra história). teve gente que andou reclamando que parecia demais com o “cidade de deus” do fernando meirelles. mas cá pra nós: se cinema dependesse de originalidade, hollywood já tinha falido há umas 3 décadas (sendo otimista). eu, pelo contrário, acho mesmo é que o filme será pra sempre um marco no cinema nacional e conquistará, ao lado do “cidade de deus”, muitos seguidores.

particularmente não acho que o filme faça apologia à violência. pelo contrário, acho que ele mostra o quanto a violência é nefasta e triste. supor que uma ficção é uma apologia a qualquer coisa é lamentável para um país que se quer “civilizado”. seria o mesmo que dizer que o “saló”, do pasolini é uma apologia ao nazismo ou que a “ilíada” não deve ser lida por estar vazada de sangue. ora bolas, um bom artista produz coisas que o deixam fora até mesmo da sua moral pessoal, a questão “bem” ou “mal”, tão reducionista e tão corrente no país que se diz “abençoado por deus”.

por outro lado, não dá pra negar uma coisa: conheço um mundaréu de gente que ao ver o filme ficará muito entusiasmado em sair por aí pregando que a coisa tem que ser por aí. mas não é o filme que ensina isso. todos nós sabemos que ninguém entra numa sessão de cinema para aprender como é a vida. quem quiser saber isso, vai no mínimo procurar um jornaleco qualquer desses que circula a rodo pelo país e que dá as ordens no pensamento dos pretensos “cidadãos”. no filme não. não posso responder por todo mundo, mas posso dizer que fiquei orgulhoso de ver que ao menos no cinema, existe a intenção, ainda que seja de um único diretor, de se criar o “mito do policial honesto”. até por quê, acho que policial honesto é coisa que não existe em nenhum lugar que pratica tão fervorosa e convictamente a repressão (se você é brasileiro, você sabe do que estou falando).

pois bem, mas eu vi que teve um bando de burgueses maconheiros que também ficou meio nervosificado com a narrativa. imagina, mexer nos vícios é coisa séria. pode levar a conseqüências químicas. e eu sei que todo mundo prefere virar a cara e fingir que não é com ele. medo de ficar sem o seu sagrado baseado. não serei eu a aliviar a barra da burguesada, apenas quero saber se a galera vai ficar aí dizendo “a culpa é de quem?”, borrando as calças de medo por só porque viu o próprio retrato na tela.

quer saber a minha opinião? foda-se a culpa. (por que ninguém fala no essencial?) chama o povo na responsa pra fazer algo que preste: ensinai as criancinhas. que saber é poder. entreguem óculos para os garotinhos que não enxergam direito, como o matias queria fazer no filme, e fez. e assistam como elas fazem o que não soubemos fazer, já que fomos educados por professores incompetentes. criar o mito do “ensinar para dar poder”. antes que tudo exploda e não tenha volta.

2 pensou em “tropa de elite: alguém falou em culpa?

  1. Há várias leituras para tropa de elite:
    A) Um país fascista que tem um pelotão de execução.
    B) Um polícia pra lá de corrompida que até meus sobrinhos de 5 e 4 anos sabem que existe.
    C) Um narcotráfico pra lá de organizado, estruturado, que é uma megaempresa e quem faz o que o governo deveria fazer.
    D) A falta de Educação, (Isso deveria ser letra (A)
    E)Um filme onde há criticidade sim, mas temos que revê-lo também. Gostei de algumas coisas. Mas take easy baby!
    Vale pela crítica de uma nação que ainda não apostou em educação, pela coisa de que quem mora em comunidade é só bandido(será que é?).
    Brother, eu gostei do filme,mas o que quero dizer e enrolei é.
    O BRASIL PRECISA É DE EDUCAÇÃO, NÃO ESSA ENROLAÇÃO.
    Abraço de um haicais chuvoso e zen pra você.

  2. “ensinai as criancinhas. que saber é poder. entreguem óculos para os garotinhos que não enxergam direito, como o matias queria fazer no filme, e fez”.

    É um bom exemplo de como as pessoas se confundem em relação aos “ensinamentos” do cinema na vida: como fora criticado logo antes dessa frase de resolução óbvia, no texto, abstraída do filme. Respeitando o conteúdo da sua crítica, mas com a redundância adquirida ao longo de todo esse tempo de “tropa de elite”: o problema das drogas, também, é redutível no filme. E o que se diz reducionista em “bem e mal” se aplica ao método de abordagem do diretor. É ficção, mas formulou, todavia, sua opinião e a de tantos outros: “os maconheiros se doem”. Bom, não é de minha opção defender drogas, tampouco os usuários, porém gostaria de registrar que o filme faz sim uma péssima abordagem do assunto, e dá uma estética de “fanfarra” (como andam atirando por aí) ao sério problema da legislação do nosso país. Problemas constitucionais que extrapolam a frase “a culpa é de quem?”, mas que coloca sim a culpa nos usuário de drogas e uma polícia meramente corrupta (menos o BOPE superman). A culpa é sim da falta conhecimento meu, seu, e de outrem e saímos por vias públicas a falar o que pouco conhecemos.

    gostei do vosso site!
    Abraço

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