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Seu nome – Fabrício Corsaletti

Ouvir o Fabrício Corsaletti falar seus poemas na Casa das Rosas dia desses foi uma das gratas surpresas com poesia em São Paulo. Perguntado sobre os poetas contemporâneos que ele mais admira, falou de Angélica Freitas para quem escreveu “Pobre Angélica Freitas”. É muito bom ver esse ar de despretensão numa poesia tão densa. Fico feliz que seus livros estejam saindo hoje por uma grande editora, a Cia das Letras.

Modelos vivos – Ricardo Aleixo

O esperadíssimo Modelos vivos, novo e recheado livro de poemas de Ricardo Aleixo, já se encontra disponível.  Chegou até aqui com um time de especialíssimo de amigos: o próprio Ricardo pilota a lírica, claro. No projeto gráfico, o camarada Bruno Brum. E o editor, Oséias Silas Ferraz, da editora Crisálida. Uma beleza.

O lançamento em Belo Horizonte será em duas etapas:

1) Dia 11 de setembro a partir das 11 horas no Café com Letras (Rua Antônio de Albuquerque, 781 – Savassi)

2) Dia 14 de setembro, às 19h30, também no Café com Letras. Ricardo Aleixo apresenta sua leitura-concerto Música para modelos vivos movidos a moedas e abre uma pequena exposição de poemas visuais de sua autoria.

Se eu estiver em BH, quem quiser me ver nos referidos horários, apareça lá. E tomara que role logo um lançamento em São Paulo. Quando houver, aviso.

Saiba mais no www.jaguadarte.blogspot.com

Aos amigos que andaram à procura

Aos dois milhões de leitores que andaram à procura de notícias minhas por aqui, peço desculpas pelo silêncio. Não fui explícito em nenhuma parte ainda, mas a notícia é que deixei as alterosas, as terras belorizontinas para viver em São Paulo. Por aqui, momento inicial de adaptação, amizades novas, trabalhos e outras distrações me mantiveram um pouco longe da salamalandragem.

Excelentes notícias continuam vindo de BH, continuarei repassando o que me empolga por aqui, mas em breve, lançarei novas novas também de São Pã.

As inquietações continuam a mil.

Poemas, em breve novinhos em folha.

Planos para dominar o mundo ocupam o cérebro.

Por hoje deixo apenas o abraço.

O amante da algazarra

Essa semana me deu na veneta de ler o livro O amante da algazarra – Nietzsche na poesia de Waly Salomão, dica da querida poetamiga Renata Cabral. O ensaio (um dos poucos existentes sobre o Sailormoon), foi escrito pelo também poeta Flávio Boaventura, o Boave. O texto, embora escrito para a academia, é de uma maravilhosa sagacidade e esperteza de linguagem. Coisa de quem conhece o peso das palavras. Enquanto eu lia, sentia aquela alegria esfuziante de quem está revendo amigos.

Plano Nacional de Direitos Humanos

O texto final deste Programa é fruto de um longo e meticuloso processo de diálogo entre poderes públicos e sociedade civil. Representada por diversas organizações e movimentos sociais, esta teve participação novamente decisiva em todas as etapas de sua construção. A base inicial do documento foi constituída pelas resoluções aprovadas na 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que compuseram um primeiro esqueleto do terceiro PNDH. (…)

O desafio agora é concretizá-lo.

Paulo Vanucchi


Este PNDH-3 será um roteiro consistente e seguro para seguir consolidando a marcha histórica que resgata nosso País de seu passado escravista, subalterno, elitista e excludente, no rumo da construção de uma sociedade crescentemente assentada nos grandes ideais humanos da liberdade, da igualdade e da
fraternidade.

Luis Inácio Lula da Silva

Este é um assunto de interesse de todos. Muita genta não sabe: o governo brasileiro lançou na virada do ano o Plano Nacional de Direitos Humanos, também conhecido como PNDH3. Um pacotão que está dando o que falar. Os críticos mais ácidos afirmam que o pacote é, finalmente, o programa petista sendo posto em prática. Mas a verdade é que não se trata apenas disto.

Nos últimos 15 anos, o governo tem discutido com representantes de todos os setores interessados (durante o processo participaram cerca de 14 mil pessoas de todos os estados brasileiros) um plano nacional de direitos que amplie a participação da sociedade civil. No texto final, há diversas cláusulas polêmicas, como o direito ao aborto (baseado no direito da mulher sobre o próprio corpo), a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças por casais homossexuais, o direito à memória (a abertura dos arquivos da ditadura militar, por exemplo), o amplo direito à cultura e à saúde, a criação de juizados de conciliação para casos de invasão de terras abrindo meios para um princípio de reforma agrária e por aí vai.

O problema é que o assunto tem sido discutido e polemizado apenas por tendenciosas alas do poder. A igreja critica, entre outras coisas, o direito ao aborto, acusa Lula de “o novo Herodes”, os militares reclamam da abertura, os juízes e ruralistas afirmam que o Plano vai contra a propriedade privada e que fortifica o Movimento dos Sem Terra.

O item relacionado à cultura me parece ainda insuficiente, mas não será isso que tornará o todo menos interessante. O assunto interessa a todos, enfim. E se é para haver polêmicas, que sejam justas. Com opiniões dos dois lados.

Tenho visto poucas manifestações das partes mais interessadas. Mas uma das que mais gostei foi o ato público que ocorrerá em São Paulo, no domingo, dia 07 de fevereiro às 17h, na esquina de Rua Augusta com Avenida Paulista: haverá um Beijaço pelos Direitos Humanos, uma pacífica saudação ao Plano que poderá tornar o Brasil legalmente um país bom de viver. Vamos fazer um em Belo Horizonte também? No mesmo dia e hora. Beijo é sempre bom. Que tal na Praça da Estação…

Para ler o texto completo do PNDH3, é só clicar aqui.

Notícias do Piva

Repito aqui as notícias blogadas hoje por Ademir Assunção.

PIVA CONTINUA NA ENFERMARIA

Roberto Piva continua internado na enfermaria do HC, com mais três doentes.

Gustavo, que mora com ele e é a pessoa mais próxima, está acompanhando de perto. Ele disse que Piva está tendo um bom atendimento médico. O poeta e amigo Antonio Fernando de Franceschi pagou uma consulta particular, com um bom médico, quando Piva passou mal, antes da internação. O mesmo médico está acompanhando seu quadro clínico. Gustavo disse também que a situação não é tão precária.

Mas está longe de ser boa. Piva terá que fazer uma cirurgia da próstata e provavelmente um cateterismo. A internação deve se prolongar por mais algumas semanas. Ele tem reclamado muito da comida, da televisão ligada até tarde no quarto e de rezas de evangélicos. O horário de visita é de apenas 2 horas e só podem entrar 2 pessoas.

*****

Gustavo disse que toda a atenção e solidariedade são bem-vindas. Piva vai precisar de grana quando sair do hospital. Quem quiser e puder ajudar, eis a conta dele:

Banco: Itau

Agência: 0036

Conta: 20592-0

CPF: 565.802.828/00

Roberto Piva: xamã sem pajé

Acho chato falar de um poeta sempre nos limites da fraqueza humana, no leito do hospital, no desespero e na urgência. Um poeta como Roberto Piva merece ser sempre comentado e lembrado em estado de exuberância, vivo flaneur de um lugar onde o cheiro incita o caminhar, mesmo que no horizonte seja possível avistar o céu preto da necrópole. Não é bom pensar num xamã com olhos piedosos, mesmo que ele esteja como todos nós, forrado das doenças ocidentais.

Mas estamos todos no mesmo barco e a urgência existe. E o poeta se encontra em dificuldades, sem grana e sem pajé. Tem 73 anos e de um tempo pra cá começou a sofrer de mal de Parkinson. No dia 20 foi internado no Hospital das Clínicas de São Paulo e enfrenta o seu inferno dantesco. Ademir Assunção escreveu sobre ele no dia 22 e, pelo que eu soube, as coisas continuam na mesma. Ana Peluso me disse que estão tentando sensibilizar o governo para conseguir um lugar melhor, mas não há resposta. Como bem falou o Ademir, “artistas não vivem de elogios”. Ninguém, na verdade, convenhamos.

Roberto Piva lançou sua poesia reunida recentemente pela editora Globo e desde então voltou a ser falado e comentado, lido, ouvido, cinegrafado. Para quem quiser ouvi-lo mais, é na TV Cronópios. Você também consegue lê-lo na Revista Agulha, na Zona Branca-Espelunca do Ademir Assunção, na Germina Literatura e no google, quer dizer, no mundo. Quero que ele continue assim: no mundo. Não apenas em bytes, mas carne e osso. Quem também quiser, proponho manter-se informado sobre o melhor jeito de ajudar. Mãos à obra.

danislau também, o herói hesitante

uberdani02

no outro dia, faltou dizer que o saravá na sala joão ceschiatti, lá no palácio das artes, incluía, além do chacal, a performance de danislau também. o conexão vivo sempre contempla em primeiro lugar a música, mas desta vez aceitou um projeto na área de poesia-performance. isso é bom sinal. iniciativa do danislau.

acho que no brasil hoje tem uns três ricardos e mais um que formam os pilares da poesia falada (um brinde para quem acertar o nome dos três). eu confesso que saí de casa só pensando em ver um desses ricardos falar. por isso, achei uma surpresa chegar no teatro e ver o danislau lá. falou uns poemas bem relax, irreverentes, pop. ele é um dos integrantes da banda porcas borboletas e tem umas idéias muito boas, engraçadas.

ao final do saravá, levei um exemplar do livrinho dele para casa. o herói hesitante – autobiografia de um anônimo. edição bem cuidada, patrocinada pela prefeitura de uberlândia. tem umas sacadas visuais, uns achados legais.

“caminhar a dois só
vai ser possível se
for cada qual pelo
próprio caminho”

e também:

“você com essa lama na calça parece uma caneta bic que estourou”.

joyce mansour (ahora corregido)

déjame amarte
me gusta el sabor de tu sangre espesa
lo guardo desde hace tiempo en mi boca desdentada
su ardor me quema garganta abajo
me gusta tu sudor
me gusta acariciar tus axilas
bañadas de alegría
déjame amarte
déjame lamer tus ojos cerrados
déjame abrasarlos con mi lengua de punta
y rellenar sus cuencas con mi saliva
déjame cegarte
***
quieres mi vientre para alimentarte
quieres mi cabello para saciarte
quieres mis riñones mis senos mi cabeza afeitada
quieres que yo me muera lentamente lentamente
que yo muera murmurando palabras de niño
***
quiero mostrarme desnuda ante tus ojos cantantes
quiero que me mires gritar de placer
que mis piernas flexionadas bajo un gran peso
te empujen a ciertos actos impíos
que el pelo liso de mi cabeza
se enrede entre tus uñas curvas de deseo
que te pongas de pie, ciego, creyente
mirando desde arriba mi cuerpo desplumado

(traducción: leo gonçalves y maría josé pedraza heredia)

*************

laisse-moi t’aimer./j’aime le goût de ton sang épais/je le garde longtemps dans ma bouche sans dents./son ardeur me brûle la gorge./j’aime ta sueur./j’aime caresser tes aisselles/ruisselantes de joie./laisse-moi t’aimer/laisse-moi sécher tes yeux fermés/laisse-moi les percer avec ma langue pointue/et remplir leur creux de ma salive triomphante./laisse-moi t’aveugler.

***
tu veux mon ventre pour te nourrir/tu veux mon ventre pour te rassasier/tu veux mes reins mes seins ma tête rasée/tu veux que je meure lentement lentement/que je murmure en mourant des mots d’enfant

***
je veux me montrer nue à tes yeux chantants/je veux que tu me voies criant de plaisir/que mes membres pliés sous un poids trop lourd/te pousse à des actes impies/que les cheveux lisses de ma tête offerte/s’accrochent à tes ongles courbés de fureur/que tu te tiennes debout aveugle et croyant/regardant de haut mon corps déplumé.

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encontrei este poema no livro poesia erótica em tradução, de josé paulo paes. o poema é de joyce mansour, uma poeta inglesa de origem egípcia que escrevia em francês surrealista. no livro, ele já tem uma excelente tradução para o português. mas para dar o meu toque, fica a tradução para o espanhol (agora com a cumplicidade da maría josé e graças à sugestão do francisco). com todo o nosso carinho.