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Revista Polichinello #17 ─ Por uma vida não-fascista

Revista Polichinello nº 17 - Por uma vida não-fascista [http://revistapolichinello.wixsite.com/poli17]

Esta seria uma edição impressa, mas a direção foi outra, por incompatibilidade com dias tão difíceis. O cenário por aqui, de uma esfera a outra, declina por vias mais e mais sinistras. Efeito do espectro que assombra o país, vertiginoso retrocesso. Com leis e medidas em favor dos interesses mais reacionários, tudo devidamente agenciado por uma política que persegue, sem dissimular, conquistas sociais, e opera com a lógica de subtração e sequestro, com violação e exclusão, que esvaziam possibilidades, como diz o Esposito: «desonerando a vida».

Verdadeiro trabalho de resistência é a permanência desta revista Polichinello, comandada por Nilson de Oliveira. De grande importância na cena literária brasileira, tão carente de publicações do gênero, ela vem sendo mantida pela força da vontade de seus editores. Usualmente, é uma publicação impressa. Sintomático que justo no momento do crescimento de uma mentalidade fascista e conservadora, que obsessivamente se coloca contra iniciativas culturais como esta, o dinheiro necessário para sua realização tenha faltado. Nesse sentido, a coragem de manter de pé seu propósito inicial, ainda que garantindo apenas sua publicação virtual que, ainda assim, é de grande urgência.

Por uma vida não-fascista.
Neste número, se pode ler textos de René Char (com tradução de Contador Borges), Beatriz Preciado (tradução minha), Edmond Jabés (tradução de Eclair Antônio A. Filho). Poemas de Leo Gonçalves, Leonardo Gandolfi, Eduardo Sterzi, Marília Garcia. Ensaios de Élida Lima, Michel Foucault, Carolina Villada Castro. E tantas coisas mais!

Por uma vida não-fascista. Sim, é disso que precisamos. Não deixar que o monstro domine os cérebros vazios.

Quem quiser ler, é lá no: http://revistapolichinello.wixsite.com/poli17

Retendre la corde vocale: Anthologie de la poésie brésilienne vivante

Retendre la corde vocale: anthologie de la poésie brésilienne vivante | Revue Bacchanales nº 55

Em outubro, a revista Bacchanales, da Maison de la poésie Rhône-Alpes, publica uma antologia de poesia brasileira viva, com tradução, organização e apresentação de Patrick Quillier. São ao todo 29 poetas brasileiros, montando um recorte de várias gerações que vão de Ferreira Gullar, nascido em 1930 a Reuben da Rocha, nascido em 1984.

Todos os detalhes dessa antologia remetem a uma atividade de artesão. Patrick Quillier, poeta atento às mínimas sonoridades, realizou as traduções com um habilidade incrível. Sempre atento aos mínimos sons, trocadilhos, jogos, rimas. Fez a escolha com um respeito à grande diversidade cultural do Brasil, respeito que nem mesmo os antologistas daqui costumam ter. E, por fim, o “Prélude” mostra um pouco do que realmente se vive hoje em poesia por aqui, comenta de alguns que se foram, mas que permanecem. Leminski, Adão Ventura, Orides Fontela, Roberto Piva, Torquato Neto, Hilda Hilst. Lembra autores que ele, por alguma razão ou outra, não conseguiu manter na seleção: Adélia Prado, Antonio Cícero, Carlito Azevedo, Edson Cruz, Paulo Henriques Britto, Claudia Roquette-Pinto, Marcelo Sahea, entre tantos outros.

“Retendre la corde vocale” porque, segundo Patrick, “Todos, cada um [dos 29 poetas] a seu modo, retesaram a corda vocal para afiná-la à singularidade de seu timbre respectivo.” São eles: Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Zuca Sardan, Sebastião Nunes, Regina Célia Colônia, Elizabeth Veiga, Lu Menezes, Eliane Potiguara, Cuti, Adriano Espínola, Salgado Maranhã, Régis Bonvicino, Josely Vianna Baptista, Ricardo Aleixo, Ronald Augusto, Edimilson de Almeida Pereira, Cida Pedrosa, Marcos Siscar, Renato Negrão, Angélica Freitas, Marcus Fabiano Gonçalves, Dirceu Villa, Leo Gonçalves, Ricardo Domeneck, Marília Garcia, Fabiana Faleiros, Érica Zíngano, Juliana Krapp, Reuben da Rocha.

Para degustação, deixo aqui a tradução do poema que dá título à publicação. E espero encontrar tempo em breve para colocar aqui uma tradução do “Prélude”.

*

POÉTIQUE
(Leo Gonçalves)

retendre la corde vocale
sur un axe de 440 hertz

systématiquement
(d)étonner

et noter à la pointe du couteau
le v de la flèche-verbe

oindre la flèche
d’herbes sauvages

herbe qui soigne
herbe qui tue

après qu’on a dé-
chanté : lancer en l’air

percer les oreilles
œil pour œil temps pour tambour

Na Modo de Usar e Co.

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Apesar de um pouco sumido, várias notícias quentíssimas têm circulado pela sala do Salamalandro. Vou atualizando aos poucos. Felizmente, sendo o assunto poesia, não preciso funcionar como a mídia midiática, viciada no calor dos fatos. Afinal, como dizia o Pound: “poesia é notícia que permanece notícia, novidade que permanece novidade”.

No mês passado, tive a alegria de aparecer na revista Modo de Usar e Co. O editor, que considero um dos melhores leitores de poesia contemporânea hoje e dos poetas que mais admiro, Ricardo Domeneck, fez e postou uma boa seleção de poemas de Use o assento para flutuar.

Para acessar, basta clicar aqui. Reproduzo abaixo uma página do livro, tal como postada na Modo.

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Não é a primeira vez que apareço por lá. O poeta congolês Tchicaya U Tam’si teve, provavelmente, sua primeirimagesa tradução brasileira, feita por mim, publicada no dia 9 de fevereiro deste ano de 2013. Tchicaya é o autor de obras como Mauvais sang e Feu de brousse e os poemas que escolhi fazem parte da Anthologie de poésie africaine, organizada pelo poeta e romancista Alain Mabanckou. Segundo ele, a négritude francesa não chegou a tocar a obra de Tchicaya.

Quanto a mim, penso que poemas como “Le signe du mauvais sang [O signo do sangue ruim] guardam um parentesco todo especial com o Cahier d’un retour au pays natal e o pensamento de Aimé Césaire. Além disto, esse poema faz referência ao “Mauvais sang” de Arthur Rimbaud que, pouca gente sabe, é um dos precursores da literatura africana do século XX. Em Une saison en enfer, Rimbaud se revela um dos raros autores europeus a se referir a sua própria “raça” sem o velho orgulho, critica seus ancestrais gauleses e afirma “je suis un nègre”, frase que atingiu em cheio os jovens negros que andavam pela Paris dos anos 1930 em busca de uma linguagem própria.

Tchicaya U Tam’Si significa “passarinho que canta sua aldeia” em sua língua congolesa, o que condiz bastante com a obra desse magnífico africano.

Para ler minhas traduções na Modo de Usar e Co., o clique no link.

birago diopEm anos anteriores, outras traduções minhas foram publicadas na franquia virtual desta revista. Uma de que me orgulho muito é a de Birago Diop, poeta que, apesar de bissexto, escreveu um dos poemas mais célebres do continente africano. “Souffle [Sopro]” é um desses poemas-epígrafes, rodeado de misticismo, mistério, fetichismo, ancestralidade. Nele, estão as bases do pensamento animista de boa parte dos povos que habitam há milênios a África.

Além de poesia, escreveu contos inspirados nas narrativas dos Griots que, segundo ele, lhe eram contados por sua avó quando criança. São os Contes d’Amadou Koumba e os Nouveaux contes d’Amadou Koumba.

Diop é da mesma geração dos poetas da Negritude, contemporâneo deles no collège Louis le Grand, se não me falha a memória.

Clicando aqui, você acessa os poemas de Birago Diop na Modo.

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E por falar em Négritude, foram exatamente os principais idealistas desse movimento os primeiros a, generosamente, aparecer na Modo. Domeneck fez uma recompilação dos poemas de Léopold Sédar Senghor que postei anteriormente aqui no Salamalandro, além de dois poemas de Aimé Césaire, que ele postou por lá por ocasião da sua morte em 2008.

Clique aqui para ler os poemas de Léopold Sédar Sengor

Clique aqui para ler os poemas de Aimé Césaire.

Eu já disse isso antes, mas vale a pena repetir: a revista Modo de Usar (tanto a versão impressa como a imagesvirtual) está entre as melhores coisas que rolam hoje em língua portuguesa. Revista independente, tem o mérito de não tratar a literatura como uma instituição, e sim como uma grande comunhão. Editada por Angélica Freitas, Marília Garcia e Ricardo Domeneck, divulga cotidianamente poetas dos quatro mil cantos do mundo. De Ricardo Aleixo a Jerome Rothenberg, de Gertrude Stein a Fabiano Calixto, dos cantos maxacali a Haroldo de Campos.

www.revistamododeusar.blogspot.com.br