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Me: We

Publico abaixo a tradução de um ensaio curto do poeta e professor Dan Hanrahan que traça uma rápida leitura sobre Muhammad Ali, o campeão do Boxe que foi amigo de Malcolm X e um ativista do Movimento Negro estadunidense. A reflexão foi publicada originalmente no site www.pilsenportal.com, no dia 26 de janeiro de 2012.

Me: we

O caminho adiante num poema de Muhammad Ali
(por Dan Hanrahan)

Ao chegarmos ao fim do primeiro mês de 2012 e contemplar a miríade de questões que nos pesam e pressionam como comunidade e como nação, relembro um comentário feito por George Plimpton. Quando chamado a refletir sobre o caráter e o gênio do peso pesado e poeta improvisador norteamericano Muhammad Ali, o lendário escritor e editor da Paris Review falou de um poema de duas palavras. Plimpton ouviu o campeão recitar o poema a uma grande multidão certa vez nos anos 1970. Ali proclamou simplesmente: “Me: We”. Plimpton e as pessoas que estavam presentes ficaram comovidos. Plimpton nunca esqueceu a sabedoria destilada.

Me: We. É esse movimento em pensamento e ação que pode transformar e agir sobre todas as questões que os Estados Unidos e o mundo enfrentam. Emissões de carbono causando um aumento na temperatura global? Me: We. Desigualdade brutalizante entre os ricos e os pobres? Me: We. O surgimento de tensões a respeito das questões de imigração? Me: We. Tensões éticas e religiosas surgindo e se manifestam explicitamente dentro da sociedade? Me: We.

We não é um conceito absoluto para o Homo sapiens: 95% da história humana foram gastos com grupos de caçadores e coletores de 75 a 150 pessoas que, tentando sobreviver e florescer ao longo desses muitos milênios, tinham que manter uma atitude de compartilhamento. Os membros de tribos que tentaram guardar recursos individualmente poderiam ser expulsos, uma situação que poderia facilmente levá-los à morte. Na realidade, um esforço hercúleo foi requerido para convencer humanos a agir contra sua mais profunda natureza e procurar cumpri-lo de um modo puramente individualista – na maioria das vezes através de acumulação de bens de consumo e da busca por status social que a acumulação de riqueza proporciona.

Como foi detalhado brilhante, bem humorada e às vezes terrivelmente no filme do documentarista Adam Curtis, The century of the self (O século do self), exibido pela BBC, Edward Bernays, o sobrinho de Sigmund Freud, conhecido como o criador do marketing moderno, usou a manipulação dos mais irracionais impulsos da psique humana ao criar desejos onde antes não havia. Como Paul Mazer, um banqueiro de Wall Street que trabalhava para a Lehman Brothers nos anos 1930 declarou: “Devemos fazer com que os Estados unidos deixem de ser uma cultura de necessidades para uma cultura do desejo. O povo precisa estar treinado para desejar, para querer novas coisas, mesmo antes de as velhas terem se consumido por completo. Os desejos do homem devem ofuscar suas necessidades.”

Nossas verdadeiras necessidades são atendidas através do salto sugerido pelo poema, “Me: We”. Como para nossos desejos, vamos dar-lhes indulgências e celebrá-los enquanto eles não privam os outros de suas necessidades e quando temos certeza de que são, de fato, nossos desejos. Nossos verdadeiros desejos são realizados através da conexão humana, conexão com a natureza, conexão com algo maior. Me: We. Se no nosso leito de morte nos lembramos de um broche de diamante, isso acontece porque o broche era de nossa mãe ou avó ou foi adquirido sob o signo do compartilhamento com uma irmã que costumava usá-lo numa noite de lua cheia durante a primavera. Me: We.

(Tradução de Leo Gonçalves)

Transatlântico musicado

Alguns de meus poemas têm uma função mágica para mim. Como se sua existência e sua vocalização fossem capazes de me proporcionar, a mim, seu autor e a quem quer que se aproprie dele, uma espécie de cura. Assim é para mim este poema “Transatlântico”, que aparece no meu mais recente livro, o Use o assento para flutuar.

É um poema em ritmo de mar. De tal forma que quer transformar o monossílabo mar em ação, em verbo infinitivo e suas conjugações. Que são vento, léu, deriva. Principalmente deriva. A deriva para a qual topei me entregar e que me levou, apesar de todos os reveses da vida, e que me permitiu conhecer tantos lugares, tanta poesia e, principalmente, tanta gente incrível.

Foi numa dessas derivas, perambulando por Paraty que conheci a linda cantora Elizabeth Woolley. Nos encantamos rapidamente um pelo outro. Logo, a deriva do poema também a encontrou e ela, uma mulher marinha, com sua voz de onda, musicou este que eu pensava ser um poema imusicável.

Em pouco tempo, Elizabeth, a Guzzi, como chamam seus amigos mais próximos, se tornou imprescindível para mim e agora somos parceiros com esta, outra e outras músicas que ainda virão.

Agradeço a ela por tornar real para mim o sonho da música. Estamos juntos na deriva-mundo.

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Elizabeth Woolley é uma alma em busca dos próprios sons. Filha do contrabaixista Pete Woolley, irmã da pianista Louise Woolley, ela compõe, canta, toca violão e piano e emociona o público com bossas, jazz e outros ritmos que ela mistura em sua própria música. Se lançou como intérprete no disco Guzzi e como compositora nos discos Infindável e o infantil Urubububu.

Atualmente, ela desenvolve o projeto “Cartas de amor”, musicando poema de autores diversos, principalmente mulheres (tenho orgulho de estar entre elas com este “Transatlântico”). As canções são arranjadas por ela e seus amigos que se reúnem de tempos em tempos para gravar ao vivo. As filmagens, gravações e edições são realizadas por Flávio Tsusumi e em seguida deixadas no youtube.

Para saber mais sobre ela, vá para o site www.elizabethwoolley.com

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Transatlântico (Elizabeth Woolley/Leo Gonçalves)

Voz : Elizabeth Woolley.
Poema falado: Leo Gonçalves.
Guitarra e Arranjo: Michel Leme.
Baixo Acústico: Bruno Migotto.
Percussão (Cajón): Rodrigo Digão Braz.
Vídeo, áudio e edição: Flávio Tsusumi.

Poemas com a boca

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Na revista Mallarmargens, você lê uma pequena série de poemas meus que reuni sob o título de “Poemas com a boca”. São ao todo 5 poemas. Deles, um é inédito e outro, publicado anteriormente na versão impressa da revista Celuzlose deste ano, ganhou nova versão na Mallarmargens. Os outros três estão no meu livro Use o assento para flutuar, de 2012. Eu poderia comentar algo mais a respeito aqui, mas acho melhor você ir lá e conferir a proposta, o propósito e o tom.

Veja o link: www.mallarmargens.com

Modo de usar & co. #4

Modo de usar e co. #4

Tenho em minhas mãos meu exemplar da revista impressa Modo de usar & co., editada por Angélica Freitas, Marília Garcia e Ricardo Domeneck. A edição, como sempre, está belíssima e conta com a participação de uma turma admirável, dos quais enumero apenas alguns: Omar Khouri, Ricardo Aleixo, Reuben da Cunha Rocha, Edimilson de Almeida Pereira, Juliana Krapp, Jussara Salazar, Fabiano Calixto, Ismar Tirelli Neto, Veronica Stigger, todos com poemas matadores. Isso sem falar nas traduções de Pier Paolo Pasolini, John Cage, Ovidio, Eiríkur Örn Norðdahl, entre outros.

Colaboro neste número com a tradução do poema “Elegia para a Rainha de Sabá”, de Léopold Sédar Senghor. Peça a seu livreiro. Eu já tenho o meu.

Poesia em tempos de marketing

O poeta Charles Baudelaire, viciado em fluoxetina.
O poeta Charles Baudelaire, viciado em fluoxetina nos dias de hoje.

Poesia azucrina. Um poeta deve acreditar no que faz até as últimas consequências. Poetas querem ser reconhecidos antes mesmo de escrever os poemas. Os poemas não serão lidos. Não serão comentados. Não ganharão likes. Não serão favoritados. Não ganharão o Jabuti. Não concorrerão ao prêmio Portugal Telecom. Os poetas não serão convidados a participar da Frankfurt Buchmesse. Na Flip, os poetas poderão comprar ingressos a cinquenta reais para assistir às mesas de debate. Os assuntos discutidos lá serão todos irrelevantes ou quase. O tema que o poeta defende até os ossos não passará nem perto dos assuntos criados pelos organizadores de seu festival literário preferido. Tudo porque não foi o poeta-que-defende-suas-ideias-até-as-vísceras que organizou e, ainda que fosse, o projeto passaria por um grupo tão grande de burocratas e marqueteiros que, ao chegar à forma final, estaria tudo dilapidado.

O poeta só apita sobre seu próprio texto. Quando seu livro for para uma editora, corre o risco de ser tesourado pelo assistente editorial. Se não souber defender suas ideias até o miolo, o texto publicado será uma cópia da cópia da cópia da cópia de terceiro grau do mundo das ideias do seu autor. Ao ser publicado, o poeta também, salvo em casos honrosos (e em muitos, horrorosos), não palpitará no design gráfico. Poderá apenas apreciar ou depreciar. Alguns editores até podem ouvir seus terríveis protestos, revoltado que está com a capa nada a ver. Mas o voto ou o veto na hora de fechar o livro é do editor. Uma escolha que, aliás, estará limitada às limitações técnicas e estéticas do diagramador e seus acordos com a editora.

O melhor vendedor de um livro de poemas é o próprio autor. Isso não quer dizer que, ao fazer o marketing pessoal, ele vá ganhar uma legião de fãs. James Joyce foi um fracasso. Quando estava para ganhar reconhecimento, morreu. Kafka não publicou seus próprios livros e, no leito de morte, pediu para queimá-los. Dava tempo. Fernando Pessoa só viu um de seus livros impresso. Mensagem é um grande livro, mas não o seu melhor. Nem o mais popular. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, sua frase mais célebre, é citada todos os dias fora de contexto. Deixou de ser verso pra virar chavão de autoajuda. A alma teve que deixar o Pessoa antes que os autônimos e heterônimos dele passassem a ser os mais lidos, citados, adorados e psicografados da língua portuguesa.

Bons escritores são odiados pelos críticos e o público não os entende. Ser amigo de poetas não faz um poeta poeta. Imitar as fórmulas dos outros, citar autores conhecidos, perambular entre escritores, ser coisa pública na república das letras não garante qualidade. Qualidade não é poesia, poesia não é qualidade. Reconhecimento não possibilita bons poemas, por mais que a alma não seja pequena. Poetas precisam é de dinheiro. Reconhecimento vem com o tempo. Mas o tempo não gosta de poemas ruins. Nem quem não defende o poema até a espinha dorsal. Se for um soneteiro sonolento, se for um rimador de meia tigela, se seu plano é agradar o leitor, ele não sairá nunca da mediocridade. Talvez seja melhor ser medíocre. O público gosta de mediocridades. Twilight sempre existiu e sempre fez sucesso em todos os tempos.

Um bom poema azucrina. Quem quiser gostar que goste. Quem não gostar, que se desgaste. Pound fazia uma analogia com a ciência: o pesquisador neófito aprende o conhecimento que chegou até ele antes de se arrogar um descobridor. Quando o novo chega, apenas um pequeno grupo é capaz de compreender. O restante da turba sabe apenas execrar. Freud foi execrado. Galileu foi pra forca. Acharam que Einstein era um baleleiro. Só depois é que suas ideias se tornaram unanimidades. Poetas inventam o mundo – o seu próprio mundo. Caos e cosmos se agregam e desagregam num poema. É destruindo que se constrói. Poetas precisam de bons psicólogos, mas estes precisam ser mais inteligentes que aqueles, o que pode não ser muito fácil de achar. O que é original incomoda, ninguém entende. O psicólogo pode querer destruir a originalidade do poeta. Poetas mentem muito. Baudelaire hoje estaria viciado em Fluoxetina.

Se o poeta quer, tem que insistir. Defender com unhas e dentes, jogar pedra se for preciso. Pixar se for preciso. Encher o saco. O esforço pelo poema não vale a pena. Não vale um centavo. Não vale uma menção no jornal. Nem nos classificados. Não vale uma tuitada. Não dá prestígio. Talvez uma meia dúzia de bombons e nada mais. Tentar lucrar com isso te matará de fome. Poemas assassinam, agridem, desumanizam o autor. O poema é ingrato. Do poema só sai poesia. Só isso. Nada mais. Divirta-se com poesia. Ou desista.

Uma antologia da poesia mexicana

tenho tanta palavra

Acabam de chegar às minhas mãos os esperadíssimos exemplares de Tenho tanta palavra meiga: alguns poetas mexicanos, antologia organizada pelo meu amigo Fernando Reyes e traduzida por mim. A edição é uma parceria entre a mexicana Ediciones Libera e a Anome Livros.

São ao todo 32 poetas contemporâneos que perambulam pelo México. Os traduzi com alegria, mas tenho também que confessar a estranheza do trabalho: pensar que duas línguas tão vizinhas, que duas culturas tão parecidas (a mexicana e a brasileira) necessitam de tradução em pleno século XXI, essa era de nomadismos e convívios de diversidade, foi algo que me deixou um tanto confuso.

O título da antologia é tirado de um poema (“A bruxa”) de Carlos Drummond de Andrade. Com poemas publicados apenas em português (grande responsa para mim), a antologia reúne um pouco do mistério e do erotismo que permeiam o imaginário linguístico dos mexicanos de hoje. Num esforço de renascimento após uma ironia cruel do Fernando Reyes no prefácio do livro (e que ouvi de sua própria boca enquanto caminhávamos pela Paulista), esta antologia demonstra que a poesia mexicana não descansa em Paz.

Vinagre: uma antologia de poetas neobarracos

vinagre

Eu e mais essa lista de vândalos abaixo estamos nesta antologia organizada pelo meu bróder Fabiano Calixto, excelente ideia inventada no calor dos primeiros protestos brasileiros do mês de junho. A publicação já está na segunda edição e só pode ser lida online, mas já está rendendo muito assunto, com direito a cobertura das Folha de S.Paulo e da Gazeta, além de um convite para a mesa extra da Flip, criada depois das primeiras manifestações.

Leia nos seguintes endereços:
Mediafire
Calameo
Escamandro
– Aqui no Salamalandro

Adalberto do Carmo
Ademir Demarchi
Adriano Scandolara
Airton Souza
Alberto Lins Caldas
Alberto Pucheu
Alex Simões
Alexandre Guarnieri
Alexandre Lettner dos Santos
Alexandre Revoredo
Amandy González
Ana Lucia Silva
Anderson Lucarezi
André Fernandes
André Luiz Pinto
Andréa Catrópa
Baga Defente
Bárbara Lia
Beatriz Azevedo
Beto Cardoso
Bettto Kapettta
Bruno Gaudêncio
Bruno Latorre
Bruno Prado Lopes
Caetano Minuzzo
Caio Fernando
Camila do Valle
Camillo José
Cândido Rolim
Carina Castro
Carla Kinzo
Carlito Azevedo
Carlos Antonholi
Carlos Eduardo Marcos Bonfá
Carolina Tomasi
Cecília Borges
Chris Oliveira
Cide Piquet
Cinthia Kriemler
Cláudio Portella
Danielle Takase
Danilo Tobias
Davi Araújo
Denis Moreira da Costa
Diego de Sousa
Diego Vinhas
Dimitri Rebello
Diogo Mizael
Dirceu Villa
Domenico A. Coiro
Donizete Galvão
DouglaSouza
DuSanto
Edson Bueno de Camargo
Eduarda Rocha
Eduardo Sterzi
Elaine Pauvolid
Emmanuel Santiago
Érica Zíngano
Fabiano Calixto
Fabiano Fernandes Garcez
Fabiano Maffia Baião
Fábio Aristimunho Vargas
Fábio Gullo
Fabrício Corsaletti
Felippe Regazio
Flávio Corrêa de Mello
Fred Girauta
Gabriel Pedrosa
Geovani Doratiotto
Gigio Ferreira
Giuliano Quase
Graça Carpes
Guilherme Gontijo Flores
Guilherme Salla
Hélio Neri
Heyk Pimenta
Igor Alves
Israel Antonini
Ivan Antunes
Jeanne Callegari
Jessica Balbino
Jéssica Chelsea Cassiano Alves
João Campos Nunes
Jorge de Barros
José Antônio Cavalcanti
Jota Mombaça
Júlia de Carvalho Hansen
Julia Mendes
Juliana S. Müller
Jussara Salazar
Katerina Volcov
L. Rafael Nolli
Lara Amaral
Leandro Rafael Perez
Leandro Rodrigues
Leo Gonçalves
Leonardo Chioda
Lisa Alves
Lucas Bronzatto
Luciana Miranda Penna
Maiara Gouveia
Makely Ka
Mamede Jarouche
Marcelo Ariel
Marcelo Noah
Marcelo Sandmann
Márcio-André
Marco Cremasco
Marcos Visnadi
Marcus Oliveira
Mariela Mei
Maykson Sousa
Micheliny Verunschk
Nairana Melo
Nícollas Ranieri
Nina Rizzi
Nydia Bonetti
Orlando Lopes
Paula Corrêa
Paulo de Toledo
Pedro Marques
Pedro Tostes
Rafael Courtoisie
Raphael Gancz
Renan Inquérito
Renan Nuernberger
Renan Virgínio
Ricardo Domeneck
Ricardo Pedrosa Alves
Ricardo Rizzo
Rodrigo Garcia Lopes
Rodrigo Lobo Damasceno
Rodrigo Moreira Pinto
Roque Dalton
Rosana Banharoli
Rosane Carneiro
Rubens Guilherme Pesenti
Rubens Zárate
Sandra Santos
Sérgio Bernardo Correa
Silvana Tavano
Simone Brantes
Takeshi Ishihara
Tarsila Mercer De Souza
Thadeu C. Santos
Thiago Cervan
Thiago Galdino
Thiago Mattos
Tiago Cunha Fernandes
Tiago Pinheiro
Tito de Andréa
Vânia Borel
Waldo Motta
Walter Figueiredo
Wladimir Cazé
Zeca Lembaum