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milton césar pontes: viver de poesia

o poeta milton césar pontesde um tempo pra cá, sempre que vou ao edifício maletta, seja de noite ou de dia, encontro com milton césar pontes. ele está sempre vendendo seus livros, falando obscenamente sobre todo tipo de assunto. coisas do mundo, de preferência.

a figura dele me lembra paulo leão. não que eles escrevam coisas parecidas. leão era um poeta materialista, um beatnik do terceiro mundo. e o milton é um sujeito abstrato, sonhador, um sedutor. não que eles se pareçam fisicamente. quando conheci paulo leão, ele já estava bem gasto e andava muitas vezes como indigente pelas ruas da cidade. meio rosto amassado pelo ônibus que o pegou bêbado atravessando a rua. e o milton, embora um bêbado assumido, é um jovem bonitão, com planos românticos de escolher a própria morte numa noite em que será odiado pelos companheiros de copo.

leão estava mais para um françois villon, um poeta indigente e ladino que lutava para viver do que escrevia. e o milton é um sonhador romântico, um byron bebum, um shelley chulé, um ladino performer. e também luta para viver do que escreve, como fazia leão, vendendo seus poemas desavergonhadamente nas mesas dos botecos da cidade. e os dois levam a poesia a sério. vendem o que arrancam de dentro com muita dor.

nunca vi o milton perguntando pra ninguém se gosta de poesia. muito menos o leão. já vi muito poeta nas imediações do maletta me perguntando isso. e o que eles vendiam não tinha poesia em lugar nenhum. nem no modo de apresentá-la, muito menos no impresso. pode ter certeza: se me perguntarem se gosto de poesia por aí, direi que não. mas o milton faz poesia com o corpo, com o despudor, com sua voz de radialista mal empregada em falar poemas. ele almeja, como todo poeta que se preze, poder escrever “poeta” na hora de preencher nos dados pessoais o lugar destinado à profissão.

eu me comovo com a causa. sinceramente e sem ironias, me comovo de verdade com a causa. talvez a glória de paulo leão tenha sido conseguir o título de poeta ao menos no atestado de óbito (os tabeliões queriam colocar “indigente”). milton consegue ir mais longe. é um empreendedor. faz de seus livros um projeto de vida. publica, arruma saídas, meios, soluções práticas e financeiras.

outro dia me veio com uma proposta: “você compra o seu lote através da planta, agora também pode comprar livros. na planta!” e me estendeu todo o projeto de um livro que estava prestes a sair. tinha já a capa, alguns poemas do miolo, um comentário publicado pelo jornalista e poeta alécio cunha no hoje em dia. a pessoa investia irrisórios R$20. e em breve, o livro indo para a gráfica, o leitor receberia em suas mãos um livro prontinho, novinho em folha.

fiquei emocionado com a idéia. achei de uma simplicidade e de uma sabedoria! fiquei me lembrando dos inúmeros poetas que chegam até a mim perguntando como se faz para se publicar um livro de poemas, como arrumar grana, se dá grana. admiro muito isso. talvez eu o imite algum dia, à minha maneira.

não quero discutir aqui a qualidade dos seus versos. pode reclamar quem quiser: pra mim, isso tudo que contei faz do milton um grande poeta. e eu o admiro por isso.

ronald polito na biblioteca girapemba

folhas de girapemba - ana maria ramiro

ronald polito está lá nas folhas de girapemba, da poeta, minha poeta camarada ana maria ramiro. testemunho de uma experiência poética multilíngüe, você encontra lá, também, poemas de joan brossa, adolfo montejo navas e renato leduc, além dos surpreendentes “Inferno: estação central” e “Luta”, de polito.

a essas alturas, a biblioteca girapemba já se torna imprescindível. a proposta é simples: ana entrevista sempre um poeta ao gosto dela, pergunta um pouco sobre sua formação, seus poetas favoritos e organiza tudo no blogue. por lá já passaram, além do ronald: lau siqueira, thiago ponce de moraes, linaldo guedes, marcelo sahea, claudio daniel e até este salamalandro que vos fala.

para conferir tudo isto, clique na etiqueta: biblioteca

um poema de léon laleau, poeta haitiano

canibal

o desejo selvagem, o ardor,
de misturar o sangue e as feridas
aos gestos e caretas do Amor
e de achar, debaixo das mordidas
que perpetuam o sabor dos beijos,
os soluços da amante e os seus ais…
ah! rudes e intranqüilos desejos
de meus antepassados canibais…

cannibale

ce désir sauvage, certain jour,/de mêler du sang et des blessures/aux gestes contractés de l’Amour/et de percevoir, sous les morsures/qui perpétuent le goût des baisers,/les sanglots de l’amante, et ses râles…/ah! rudes désirs inapaisés/de mes noirs ancêtres canibales…

(achei este poema de léon laleau na: anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de langue française, organizada por l. s. senghor – a tradução é minha.)

canibais - o sonho de hans staden

revista roda para baixar

revista roda número 1desde o último fan (festival de arte negra), a revista roda passou a estar disponível para ser baixada. aliás, os leitores mais atentos, que fuçaram aí nos cantinhos do salamalandro, já a encontraram.

com uma equipe de arrasar, editada por ricardo aleixo e com projeto gráfico do bruno brum, a revista roda foi um dos melhores acontecimentos impressos dos últimos anos em bh. com um conjunto de informações riquíssimo, abrindo caminho para quem quiser conhecer bons artistas. que aliás acabam obscurecidos pela cor da pele ou pela falta de acesso a grandes meios. cada beiradinha da revista merece ser lida com cuidado.

no número 1, colaborei com algumas traduções de senghor e quem quiser baixar é só clicar aqui :

http://www.fanbh.com.br/donwloads/revista-roda/RODA_01.pdf

os outros números também se encontram disponíveis no seguinte endereço :

http://www.fanbh.com.br/index.php?secao=0&lng=pt&n1=fan&n2=revistaroda

vídeo-conferência sobre léopold sédar senghor

vídeo-conferência sobre léopold sédar senghor

O poeta e tradutor Leonardo Gonçalves apresenta a vídeo conferência
“Negritude, magia e política: a poesia de Léopold Sédar Senghor”

O poeta e tradutor Leonardo Gonçalves apresenta, no dia 12 de março de 2008, às 15h, a vídeo-conferência entitulada: “Negritude Magia e Política: A Poesia de Léopold Sedar Senghor”. A vídeo-conferência será exibida ao vivo pela internet no site: http://200.244.52.177/embratel/main/mediaview/tvpontocom. O evento fará parte da Série Panorama Arte e Cultura, que é promovida juntamente com a Diretoria de Arte e Cultura da PUC Minas. O Projeto Biblioteca Digital Multimídia é uma parceria da PUC Minas com o Instituto Embratel 21 e cerca de outras dez instituições universitárias e culturais. A transmissão será através do Portal do Conhecimento, com direção e apresentação do Professor Haroldo Marques.

A obra de Léopold Sédar Senghor, embora pouco conhecida no Brasil, é uma das experiências mais instigantes da poesia do século XX. Produzida numa região conflituosa da linguagem, sua poesia soma diferenças que vão do rítmico-sonoro ao lingüístico-cultural (tratando de temas como a pele negra, a tradição africana dos ancestrais ou a participação dos senegaleses na segunda guerra mundial). A poesia de Senghor é uma somatória africana de paixões eletrizantes em face de um mundo frio e excludente. Senghor, amante das diferenças, foi também um ardoroso defensor de conceitos como “negritude”, “francofonia” e “civilização do universal”. Tratava-se, já, da defesa de culturas mais fragilizadas em meio ao mundo que se globalizava. Numa entrevista concedida no final dos anos 1970, ele propunha “uma civilização do Universal pela diferença e na diferença”. É o que se vê desde o princípio em sua escrita. Continue lendo vídeo-conferência sobre léopold sédar senghor

heriberto yépez em dois lugares

heriberto yepez

para quem lê o castelhano, clique aqui e conheça o texto do poeta argentino mario arteca sobre heriberto yepez seguido de uma boa amostra da escritura em prosa desse tijuanês da porra.

para quem lê o inglês, indico um poemanifesto do mesmo tijuanês, publicado há algum tempo no site www.ubu.com. o texto se chama: a sketch on globalization & ethnopoetics (um esboço sobre globalização e etnopoética)

photomaton & vox

photomaton & vox
photomaton & vox
dia 27 de março às 19h na multimeios do museu oi futuro.
entrada franca.

a performance propõe um processo compositivo a partir de poemas de herberto helder e a criatividade de alguns dos meus artistas favoritos: julius (vídeo), frederico pessoa (trilha) e letícia féres (corpo-voz).

em breve, você poderá acessar também o site: naomaculeminhafaca.org/

para quem estiver em sampa

claudio willero poeta, tradutor e ensaísta claudio willer começa amanhã a dar o curso surrealismo: poesia e rebelião no museu da língua portuguesa (Praça da Luz, s/n, bairro estação da luz – são paulo). o curso acontecerá no período entre 04 de março e 12 de maio, sempre às terças-feiras das 14 às 17h. os interessados podem se inscrever pelo telefone (11) 3227 -0402. as vagas são limitadas.

outras informações nos seguintes sites:

www.estacaodaluz.org.br

www.cronopios.com.br

www.tvcronopios.com.br/bitniks04/entrevista.html