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letra do dia

o amor
(cecília silveira)

o amor
como for
está em tudo aqui
na praça
na rua
telhado
bichinho
tijolo de construção

o amor
como for
pulou dentro de mim
ainda sinto a dor
que um dia veio me consolar

o amor bate na porta
nas coisas tortas
em qualquer lugar
o amor bate na porta
mas não abra

olha o amor
seja como for
vai desarrumando a vida
olha o amor
venha como for
vai ameaçando meus dias

(música gravada por titane no disco ana)

janaína moreno e as vozes ancestrais

uma gota cai no meio do oceano. e no meio da calmaria, a água responde em pequenas ondas que se espalham em ressonância. vem um vento e vai fortificando cada espectro da gota. e bem longe dali, um dia, uma ilha inteira é inundada. há certas coisas cujo efeito não dá pra calcular. estou falando da cantora mineira Janaína Moreno.

hoje, quem a vê se apresentando no cartola bar, uma das melhores casas de samba de belo horizonte, mal pode perceber a força daquela voz. assim como fabiana cozza, ver janaína no palco é abrir as portas para a manifestação da grande força dos ancestrais. não só porque ela os evoca em meio às zuelas e cantos de orixás que caem tão bem no seu samba. o ngunzo, o axé está é nela. é possível que nem mesmo ela tenha percebido as proporções disto. e por isso é preciso dizer.

janaína moreno não é apenas um elemento a mais na paisagem musical de minas. aos jornalistas e produtores culturais de plantão, já vou logo avisando: esta é não é uma artista qualquer. cantoratriz, ela hipnotisa a todo mundo com muita graça e alegria. com ou sem acústica favorável. e não se basta com seu vozeirão: é também uma pesquisadora de fôlego e uma operária formiguinha, que cuida com capricho de cada detalhe do que faz. conta com excelentes músicos para isto e não precisa dessas minhas palavras para ser o que é.

já falei e não me canso de dizer: Belo Horizonte é hoje uma espécie de meca da boa música na atualidade. não são poucas as jovens cantoras mineiras que sabem fazer do palco um lugar sagrado. michelle andreazzi (do grupo Capim Seco), por exemplo, elisa paraíso, leopoldina, maísa moura, mariana nunes. não são só cantoras dotadas de boa técnica, mas grandes intérpretes que fazem a poesia transbordar de dentro de cada som, de cada sílaba. atuando por sua própria conta e risco, janaína moreno tem, na minha opinião, um posto privilegiado entre elas. uma voz de guerreira regida por dandalunda.

quero voltar a falar dessas cantoras por aqui. enquanto a hora não chega, sugiro aos leitores que se divirtam com os espaços da janaína moreno pela internet:

www.janainamoreno.blogspot.com
www.myspace.com/janainamoreno

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marcelino freire – para iemanjá

oferenda não é essa perna de sofá. essa marca de pneu. esse óleo, esse breu. peixes entulhados, assassinados. minha rainha. não são oferenda essas latas e caixas. esses restos de navio. baleias encalhadas. pingüins tupiniquins, mortos e afins. minha rainha. não fui eu quem lançou ao mar essas garrafas de coca. essas flores de bosta. não mijei na tua praia. juro que não fui eu. minha rainha. oferenda não são os crioulos da guiné. os negros de cuba. na luta, cruzando a nado. caçados e fisgados. náufragos. minha rainha. não são para o teu altar essas lanchas e iates. esses transatlânticos. submarinos de guerra. ilhas de ozônio. minha rainha. oferenda não é essa maré de merda. esse tempo doente. deriva e degelo. neste dia dois de fevereiro. peço perdão. minha rainha. se a minha esperança é um grão de sal. espuma de sabão. nenhuma terra à vista. neste oceano de medo. nada. minha rainha.

texto do marcelino freire recitado por fabiana cozza no show mo gbe orisa.

fabiana cozza coruscante

fabiana cozza, em

a sala juvenal dias estava transbordando nesta última quinta-feira. sucesso para além das expectativas, o espetáculo mo gbe orisa, de fabiana cozza foi uma verdadeira festa sonora. quebrando os protocolos, fabiana aproveitou para atender praticamente todos os pedidos e ainda teve uma conversa carinhosa com o público que saiu de lá inebriado.

um espectador falou que ela parecia um orixá no palco. e de fato, ela irradiava simpatia, alegria, emoção. não é à toa que o show, concebido especialmente para essa noite do griot, tinha como nome a frase que em iorubá significa “trago em mim o orixá”. uma grande surpresa para boa parte do público, que mal conhecia o nome da cantora. foram mais de duas horas de música boa, poesia e bate-papo. cds esgotados, lágrimas de alegria e sorrisos estampados na cara. uma verdadeira celebração da vida.

cheia de molejo, ela interpretou canções como “estrela guia”, do sérgio pererê, “xangô te xinga”, de leandro medina e o clássico “canto de ossanha”, de vinícius de moraes e baden powell. “eu também adoro cantar músicas de dor profunda”, ela disse em certo momento. e alguém lá da platéia gritou “manda uma triste”. e gentilmente fabiana cedeu. cantou um clássico dor-de-cotovelo, desta vez cubano: “vete de mí”, de bola de nieve. e não chorou sozinha. outro momento inesquecível foi o “canto para iemanjá”, seguido de “agradecer e abraçar” que desemboca no texto “para iemanjá”, de marcelino freire. duas canção azuis.

difícil de falar desta noite de xangô sem superlativos.  em todo caso, já está agendado: em setembro, fabiana volta com seu show “quando o céu clarear”. se não me engano, no grande teatro. o melhor negócio é não perder! mas enquanto ela não volta, vale a pena fazer um passeio pelos seus espaços na rede.

www.fabianacozza.com.br
www.fabianacozza.blogspot.com
www.myspace.com/fabianacozza

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titane na stereoteca

hoje, dia 2 de julho, às 20h30, na biblioteca pública luís de bessa – pça da liberdade/bh, tem show da titane. ela estará lançando o seu novo cd: “ana”. já me disseram que o disco está lindo, só com músicas da nova geração de belo horizonte. eles são não apenas os compositores: a produção do disco e os efeitos sonoros de renato villaça e os arranjos de rafael martini enriquecem o disco com uma sonoridade toda especial.

para saber mais, ouvir e baixar o disco e o encarte na íntegra:
www.titane.com.br
www.stereoteca.com.br
www.autofago.blogspot.com

miguel dos anjos na stereoteca

a próxima quarta-feira, dia 25 de junho, é noite de samba bom na stereoteca. quem toca é ninguém menos que miguel dos anjos, um dos maiores bambas, fina flor do samba que sacode essa cidade. ele vai lá pra lançar seu primeiro cd “esse samba é todo nosso”. para ouvir uma deliciosa palhinha, é só clicar aqui. duvido que alguém vai conseguir ficar sentado.

anote pra não esquecer:
miguel dos anjos lança o disco “esse samba é todo nosso”
dia: 25/06, quarta-feira às 20h30
local: teatro da biblioteca pública luís de bessa
(praça da liberdade – belo horizonte – mg)

saiba mais: www.stereoteca.com.br

garantia de música boa em sampa

inauguração de um projeto que pretende ser periódico, o Minas Contemporânea leva a são paulo três dos principais representantes da nova cena que fervilha em BH. são todos parceiros de geração, que despontaram nos últimos cinco anos, cada um com uma proposta diferente. serão três shows por noite, com uma participação especial em cada um deles.

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às vésperas do 20 de novembro

epopéia de zumbi
(nei lopes)

e de repente
era um, eram dez, eram milhares
sob as asas azuis da liberdade
nascia o estado de palmares
mas não tardou
e a opressão tentou calar não conseguiu
o brado da vida contra a morte
no primeiro estado livre do brasil
forjando ferro de ogum
plantando cana e amendoim
dançando seus batucajes
pilando milho e aipim
fazendo lindos samburás
amando e vivendo enfim
durante cem anos ou mais
palmares viveu assim
e a luta prosseguia
contra a ignorância, a ambição
até que surgiu zumbi
nosso deus, nosso herói, nosso irmão
ciente de que nenhum negro ia ser rei
enquanto houvesse uma senzala
ao invés de receber a liberdade
zumbi preferiu conquistá-la
e depois de mais três anos de guerra
o punhal da traição varou zumbi
foi a vinte de novembro
data pra lembrar e refletir
e hoje trezentos anos depois
um brado forte e varonil
ainda vem de pernambuco e alagoas
e se espalha pelo céu desse brasil

folga negro de angola
que ele não vem cá
se ele vier quilombola pau há de levar

(clique aqui para ouvir a canção)

egoísta: beatriz azevedo & josé celso

egoísta

(beatriz azevedo)

você disse que eu sou egoísta
egoísta é quem só pensa em si
como é que eu posso ser egoísta
se eu só penso em você

você é muito vaidosa
não quer dar o braço a torcer
você é muito exigente
já fez tanta gente sofrer

você não sabe como me machuca
quando diz essas coisas cruéis
coloquei meu coração a seus pés
conheci o perfume da dor

você tem tudo o que quer
e não quer tudo que tem
todos querem ficar com você
mas você não é de ninguém