Sábado, dia 29 de março, eu e Bruno Brum participaremos do Sarau do Memorial. Na ocasião, falaremos um pouco da nossa trajetória como poetas e como poetas-tradutores, comemorando especialmente os dez anos da primeira edição dos nossos primeiros livros: das infimidades (meu) e Mínima ideia (do Bruno).
Interessante é como nossos trabalhos (meu e do Bruno) tão diferentes entre si, encontram pontos de contato constantemente. Da ideia do minimínfimo ao gosto pela tradução, passando pelos olhares sobre o mundo ao redor e os influxos que nos levaram à produção do meu Use o assento para flutuar e do Mastodontes na sala de espera, dele, tudo isso escapando das mais imediatas influências mútuas. Como disse: temos algo em comum embora sejamos totalmente diferentes.
Durante o evento, falaremos poemas antigos e inéditos. O papo vai ser bom. E reto. Poesia viva. Quem estiver em BH, apareça lá.
Local: Memorial Minas Gerais Vale – Casa da Ópera
(Praça da Liberdade, s/n˚, Esquina com Rua Gonçalves Dias
Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil)
Quando: sábado, dia 29/03/2014 às 11h e às 13h
Entrada franca (sujeita à lotação do espaço)
A sequência de lançamentos de Use o assento para flutuar pode não ter configurado (felizmente não configurou) um best-seller. Mas considero que tudo fluiu de vento em popa. Foram 5 eventos em cidades diferentes, a maioria deles com desdobramentos subsequentes e, sempre, muita boa interlocução.
Funarte/SP
Em São Paulo, organizar o evento na Funarte foi um desafio. Em primeiro lugar, foi a primeira vez que fiz algo meu, por minha completa conta e risco. Queria, além de lançar o livro, aproveitar outras coisas: estrear a performance Poemacumba, ao lado da dançarina Kanzelumuka, explorar um espaço que não fosse tradicionalmente destinado à literatura (a poesia está mais próxima das outras artes que da literatura, essa lição do Pound é sempre um aviso em meus ouvidos). Ocupamos a Sala Guiomar Novaes, sala que sediou, entre muitas coisas incríveis, a gravação do disco Às Próprias Custas S. A., do Itamar Assumpção.
Muitos amigos me perguntaram por que foi que eu quis organizar um evento na cracolândia. De nada adiantou dizer que a Funarte não é a cracolândia. Concluí que os paulistanos desacostumaram de usar sua cidade. Mesmo assim, a noite foi bem movimentada, com convidados ilustres e, alguns, vindos de longe.
Londrix
Em Londrina, a programação esteve intensa. Lançamento, bate-papo sobre performance, conversa com os poETs e Poemacumba fechando toda a programação do Londrix. Aquela é uma cidade extremamente literária, com pessoas interessadas e interessantes. Um lugar de onde tem irradiado um pouco do melhor que se produz(iu) na literatura recente brasileira. Tive a grande honra de estar com minhas amigas Samantha Abreu e Beatriz Bajo, e também com Marcos Losnak, Rodrigo Garcia Lopes, Marcelo Montenegro, Maicknuclear, Fernanda Magalhães, Ronald Augusto, Ricardo Silvestrin, Alexandre Brito, Ricardo Aleixo. Sempre com conversas instigantes e criativas.
Destaco um grande momento: a apresentação da performance-espetáculo. Yá Mukumbi fez uma deliciosa feijoada seguida de um samba de roda que sacudiu a tarde. Ao vestir a minha beca branca, me vi novamente exu. Percebi que devia fazer diferente: fui até a cantora, a própria mãe Mukumbi, pedi minha benção e convidei os presentes a assistirem nossa cena. Kanzelumuka estava radiante. O ngunzu, a energia desse momento foi das mais potentes que experimentei. E confirmei o que eu já supunha: o de que há no poeta um pouco desse papel mercurial, de comunicador, de religador de mundos que está presente nos Pelintras de todo o mundo.
Belo Horizonte
No dia 15 de setembro, participei de dois eventos seguidos: o lançamento do livro, na Casa Una, e o Dia Cage, no edifício Maletta, organizado pelo Ricardo Aleixo (que por sua vez também participou do meu lançamento).
Muito bom revisitar minha própria cidade nesse contexto. Eu cresci às margens do fedorento Rio Arrudas e sempre me vi forçado pela vida a transtornar minhas atividades com coisas que me são alheias. Aparências, jogos sociais, fantasiações, falsas peles. Não se trata de alcançar prestígio pelos meus escritos. Não estou afim de constituir uma suposta “carreira”, pelo que de profissional que há nessa palavra. Quero apenas que minha palavra seja o que sempre foi: uma busca pela terceira margem do rio.
A presença dos meus amigos-poetas (os novos e os antigos) no lançamento do livro foi, para o meu íntimo, uma consolidação do que considero o essencial: poesia-vida a pulsar e impulsionar as relações humanas em meio a um mundo hostil. É por isso que, aconteça o que acontecer, minha poesia vem desse Belo Horizonte que tanto me esforço em contestar, criticar, questionar. Desse Belo Horizonte que, no fundo, sempre será, para mim, uma utopia. Desse Belo Horizonte que sobrevive a todo bolor, todo o pseudotradicionalismo, todo o belorizontem, toda a melancolia, todo o patriarcalismo. Minha Beagá rebelde e viva, conforme vejo no carnaval e em todas as falas libertárias dos de lá. A Beagá da gente que baila. Comprovamos juntos que, para haver amizade entre poetas, não é necessário com isso que se faça políticagens literárias.
O lançamento durante a tarde foi um sucesso, com performances, leituras e gente bonita. Depois de lá, fomos para o Edifício Maletta, onde tudo se completou. Nenhuma melhor homenagem possível do que a John Cage, o que sabia que um som é um som apenas. Um som. Toda a beleza creditada ao som. Sem o sentido. Em meio performances diversificadas, trabalhos plásticos, visuais, sonoros e outros barulhos, apresentei o poema “Ñe’ẽ”. Quem não viu, quem não viveu, perdeu. Mais não posso dizer.
Paraty
Me apaixonei por Paraty. A linda cidade que ainda mal conheço, me recebe sempre com muito carinho, interesse. No dia 20 de setembro, ao desembarcar na rodoviária da cidade, fui recebido por Luiza Faria já cheio de afazeres e conversas agendadas. O céu preparava uma chuva fina. A noite começaria com uma roda de jongo repleta de crianças. Em seguida, uma conversa com Ronaldo do Campinho, Ovidio Poli Junior e Flávio Araújo. Para fechar a noite, lançamento do livro no bar Camoka Botequim Arte Café.
Para minha grande surpresa, ainda ganhei um presente: a estreia mundial (declarei isto aos risos por lá), do vídeo “TRANSatlântico”, realizado por Lia Capovilla e Renato Padovani, com produção de Luiza Faria. No vídeo, vocalizo o poema homônimo do livro.
Esse evento consolida uma parceria iniciada durante a Off Flip de 2011, reforçada este ano e que, tudo caminha para isso, virá com toda força em 2013. Foi uma palhinha. Uma Off da Off. Os eventos de Paraty contaram com o apoio e o patrocínio da Plural cursos e serviços em informática, do restaurante Sabor do Mar, da Letreiros Valentim e do Camoka. Nada mal para um livro que ainda se encontra na pista de decolagem (e talvez nunca vá levantar voo).
Rio de Janeiro
Palavras de acordar o corpo. Eu e José Geraldo Neres demos este nome à noite em que lançaríamos o, dele, Olhos de barro e o, meu, Use o assento para flutuar no CCJF, em plena avenida Rio Branco, na região central do Rio de Janeiro. Naquela noite também choveu. Mas não foi por isso que deixamos de curtir. Afinal, quem mediava a mesa de debate era Elaine Pauvolid, a poeta de O silêncio como contorno da mão. Luiz Horácio Rodrigues e Tanussi Cardoso também participavam da conversa, fazendo o excelente e necessário papel de críticos. Poderia ter sido só mais um papo, mas havia, por detrás daquela conversa um grande entusiasmo. Tanto que o Tanussi acabou nos presenteando com um grande texto no qual (palavras dele) ele não teve que dar tapinha nas costas. A plateia também se entusiasmou e a conversa se prolongaria por horas, não fosse o horário.
Cep Vinte Mil
Para fechar com chave de ouro a programação carioca, participei do Cep Vinte Mil ao lado do meu amigo Renato Negrão. A princípio, eu apresentaria a performance que estou desenvolvendo que levará o título de “Em caso de incêndio”, mas ao contar com a parceria do meu bróder, fizemos um mix de textos meus e dele (o Negrão lançou recentemente seu novo livro Vicente viciado, pela editora Rótula). Ao fundo, um vídeo produzido pelo Negrão e à frente, nossas próprias palavras jogadas no vento. Tivemos a doce participação da Cristhina Santhos, comissária de bordo da noite. Performamos na boa, divertidamente, e tivemos vontade de mais (convidem-nos!).
Lá pelas tantas, voltei ao palco para “ferir os ouvidos” da plateia com um último poema, o “Poética”. Assim fechei aquela noite do Cep e a miniturnê de lançamentos. Mas não acabou de vez: continuo aberto a propostas. Terei prazer em performar e caminhar.
Os que acreditam fazem perguntas aos que parecem acreditar.
Os que parecem, parecem não ouvir.
Os que ouvem permanecem calados.
Os que respondem parecem não acreditar no que dizem
os que perguntam.
Todos parecem em silêncio.
*
Este é o primeiro poema do livro Mastodontes na sala de espera, do meu amigo Bruno Brum, lançado em Belo Horizonte no final de setembro e em São Paulo na quarta-feira, dia 19 de outubro. Fiquem atentos: este livro é de marcar época.
Para quem estiver em SP na próxima quarta-feira, dia 19 de outubro das 19h30 às 22h30, a boa é o lançamento do livro Mastodontes na sala de espera de Bruno Brum, que acontece no Centro Cultura O B_arco (Rua dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426 – Pinheiros).
Título: MASTODONTES NA SALA DE ESPERA
Autor: Bruno Brum
Tema: poesia brasileira contemporânea
Formato: 14 x 21 cm | 96 p. | BROCHURA
ISBN 978-85-87961-69-3 | ano: 2011 Preço: R$ 24, [já disponível]
Livro vencedor do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2010, na categoria Poesia
Comentário de Luiz Roberto Guedes:
Que poesia é possível em nosso tempo pós-utópico, virtualizado, em que a própria realidade é “desrealizada”, como disse Paul Virilio? Este desafiador mastodonte fabricado por Bruno Brum reafirma a sobrevivência dessa arte que muitos creem extinta, a poesia. Com sua dicção personalíssima – em que se poderia distinguir, talvez, uma afinidade com o demiurgo anarcopoético Sebastião Nunes –, Brum destila poemas com um humor seco, ácido, esboçando mapas provisórios de um mundo alucinado, onde “um homem lê um livro em chamas”. Consciente de que o poeta é um criador de “empresas imaginárias”, se lança com arrojo à humana empresa da poesia. Bravo Brum.
Título: MASTODONTES NA SALA DE ESPERA
Autor: Bruno Brum
Tema: poesia brasileira contemporânea
Formato: 14 x 21 cm | 96 p. | BROCHURA
ISBN 978-85-87961-69-3 | ano: 2011Preço: R$ 24, [já disponível]
Livro vencedor do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2010, na categoria Poesia
Quem estiver em BH no próximo sábado não pode perder o lançamento dos livros Mastodontes na sala de espera, de Bruno Brum e Sambaqui, de Edson Cruz, ambos publicados pela editora Crisálida. O evento acontece na livraria Scriptum (rua Fernandes Tourinho, 99 – Savassi) a partir das 11h.
E para quem ainda não se inteirou, aí vai a intimação: a partir das 19h de hoje estará rolando a ZIP – Zona de Invenç~ao Poesia &. Aviso aos sãopaulocêntricos e cariocômanos: esta Zona é um dos melhores acontecimentos de poesia desta república das letras. No comando, um time foda: Ricardo Aleixo, Chico de Paula e Bruno Brum na curadoria, Sabrina Bueno na produção executiva e Raquel Pinheiro na finalização video-instalação e Daniel Mendonça, que colaborará no apoio técnico de áudio. Serão mais de cem poetas entre os que enviarão seus trabalhos e os que estarão presentes.
A inauguração é hoje, quinta-feira, 17 de março de 2011 a partir das 19h no Centro Cultura UFMG. As outras sessões serão sempre nas sextas-feiras, incluindo amanhã.
E numa dessas, eu também estarei lá com mais uma noite de POEMAQUMBA. Fique antena!
Quer saber quem participa da ZIP? A lista é longa, clique aqui para lê-la.