Guerra
Para Leo Gonçalves
Você para –
e se depara
com o guepardo.
Fogo nativo,
na noite
ativo.
Você para –
e o guepardo
repara.
Suas fibras
sem grades
se compassam.
Nas patas,
a pausa
se aperta.
Nos pés,
o passo
passa.
A espádua,
a espada
do guepardo.
A sua,
o olhar
crispado.
Ele dispara
e você, calado,
só encara.
(Seu corpo,
do medo,
isolado.)
Você, quieto,
ao seu embalo
se iguala.
Ele, solto,
a você imóvel
se equipara.
O respeito
mal resvala
a face felina
e o ataque,
cedo certo,
desanima,
e o anteparo
dessa ruga
lhe ampara.
A fera
se equipa
de cautela
e a estátua
em suas patas
se hospeda.
.
II
Outra arma
entre os dois
se aloja.
Fogo-falo,
contra a noite
feito fraco,
a distância,
a armadura
dessa arma.
O abuso
dessa ajuda
os ultraja
e o guepardo
se vira
contra a besta,
que de lá
já aponta
para a fera.
(Fulo,
você folia
por sua guerra.)
O guepardo,
ora irado,
se destaca –
predador
que voa
como pedra.
O estalo
do tiro
não o abala:
ele dispara
a si
contra a bala.
Anderson Almeida (1977), poeta belorizontino, foi premiado em vários concursos de poesia e não publicou nenhum de seus livros. Participou recentemente do livro Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos – ações poéticas do Poro. Considero-o um dos mais consistentes da minha geração e para mim é uma imensa honra ter um poema dele dedicado a mim e honra tão grande quanto esta é poder publicá-lo aqui no Salamalandro. Valeu Anderson!