outro poema de m. dolabela

Asilo Arkham (Redundância #2)

a Paulo Leão

mudamos de casa
mudamos pra casa ao lado
mudamos pra galeria em frente
mudamos pro Bairro da Saudade
mudamos pro Cemitério da Paz
mudamos do Curral del Rey

mudamos pro andar de cima
mudamos pros fundos
mudamos a cor do cabelo
mudamos de ramo
mudamos de telefone
mudamos e não te convidamos

mudamos de sexo
mudamos de droga
mudamos a roupa de cama
mudamos a mobília da sala
mudamos pro Asilo Arkham
mudamos enquanto era tempo

mudamos o canal de TV
mudamos a faixa do rádio
mudamos de idéia fixa
mudamos a página do livro
mudamos de ilusões perdidas
mudamos pra melhor atender

mudamos e compramos dólar
mudamos porque o mundo gira
mudamos porque a lusitana roda
mudamos de medicação
mudamos o pó de café
mudamos e passamos o ponto.

(BHZ 29 jul. 2000)

Bibliografia:
Marcelo Dolabela. Lorem Ipsus: antologia poética & outros poemas. BH: edição do autor, 2006

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  1. Canto dos emigrantes

    Com seus pássaros
    ou a lembrança de seus pássaros,
    com seus filhos
    ou a lembrança de seus filhos,
    com seu povo
    ou a lembrança de seu povo,
    todos emigram.

    De uma quadra a outra
    do tempo,
    de uma praia a outra
    do Atlântico,
    de uma serra a outra
    das cordilheiras,
    todos emigram.

    Para o corpo de Berenice
    ou o coração de Wall Street,
    para o último templo
    ou a primeira dose de tóxico,
    para dentro de si
    ou para todos, para sempre
    todos emigram.

    Alberto da Cunha Melo

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