Não gosto de plágio

Mês passado eu li isto no blogue “Não gosto de plágio”, comandado pela corajosa Denise Bottmann:

numa ação movida pela editora landmark e pelo sr. fábio cyrino, estou sendo processada por pretensas calúnias contra os reclamantes, por ter publicado no nãogostodeplágio provas mostrando a prática de plágio nas traduções de persuasão, de jane austen, e o morro dos ventos uivantes, de emily brontë, ambas publicadas pela referida editora em 2007.

além de vultosa indenização por pretensos danos morais e materiais, os reclamantes solicitaram:
– “publicidade restrita”, isto é, que o processo corresse em sigilo de justiça,
– a remoção do blog nãogostodeplágio da internet, invocando o “direito de esquecimento”,
– “antecipação dos efeitos da tutela de mérito”, isto é, que a justiça determinasse a remoção imediata do blog antes da avaliação do mérito da ação impetrada.

No Brasil existe um curioso costume: interessadas em participar do incrível e promissor “mercado editorial brasileiro”, algumas editoras lançam clássicos da literatura universal cujo autor já se tornou Domínio Público (para não ter que pagar seus direitos autorais, mas principalmente para não serem processadas pelos detentores dos direitos) em traduções piratas.

– Traduções piratas?

– Sim. Veja como funciona: alguém vai até à livraria, encontra um livro traduzido e parafraseia palavra por palavra até tornar o trabalho do tradutor aparentemente irreconhecível. Depois publica a tradução sob um pseudônimo. Assim economizam uma parte da grana necessária para a edição. Depois fazem ainda uma publicação mais ou menos, organizam uma tiragem altíssima de modo a economizar bastante na gráfica e alcançam um preço unitário bem baixo. O resultado é uma obra clássica barata, pela qual o público vai facilmente se interessar sem muitos questionamentos. Afinal quem se interessa por saber quem são os tradutores de um livro? Muito pouca gente.

A lista de editoras desse tipo não é pequena. A Landmark é apenas uma das muitas. A Martin Claret é a mais conhecida. Mas temos também a Madras, a Hemus e por aí vai. O que fazer para se previnir? É sempre muito difícil julgar na hora da compra.

Há alguns anos, Denise Bottmann vem prestando um serviço incrível: compara, coteja, divulga traduções confiáveis e desconfiáveis. Tudo lá no nãogostodeplágio. Um verdadeiro exercício de paciência e persistência na arte de desmascarar.

Me parece incrível que tenha tardado tanto uma reação por parte das editoras. A petição do senhor Fábio Cyrino, por outro lado, foi um verdadeiro naufrágio. Logo em seguida, Denise (e Raquel Sallaberry, também incluída no processo), foram agraciadas por milhares de manifestações a seu favor. Blogues pelo país afora, matérias na imprensa, manifestos e petições. Confesso que este último fato acalmou meu pessimismo.

Veja mais notícias nos enlaces abaixo:

www.naogostodeplagio.blogspot.com

www.apoiodenise.wordpress.com

2 pensou em “Não gosto de plágio

  1. Raquel,
    A notícia do processo me deixou pasmo. De uma cara de pau incrível.
    O problema do plágio da tradução brasileira é muito sério. Normalmente são as pequenas editoras que mantém a chama viva. O contraproduto de editoras como a Landmark costuma ser responsável por muitas portas fechadas em vão.
    Mas o tiro do Cyrino saiu pela culatra. Queria proibir a veiculação da notícia e a notícia virou alarde. De certa forma, é uma vitória para nós tradutores. Agora é continuar torcendo para que a vitória de vocês também se dê no tribunal (que não é lugar de justiça, convenhamos).
    Um abraço e muita força pra você.

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