Arquivo da categoria: Poesia & arredores

LANDSCAPES | improvisos de música e poesia

LANDSCAPES | improvisos de música e poesia

No próximo sábado, dia 15 de agosto de 2015 a partir das 21h, participo do projeto Landscapes | improvisos de poesia e música. Landscapes tem a curadoria de Natália Barros e Benjamim Taubkin.

Nessa edição, participam os poetas Leo Gonçalves e Iara Rennó e músicos Danilo Penteado e Lulinha Alencar.

A ideia é que a música sugira o texto, ou que palavras provoquem canções, e que novas leituras e paisagens sonoras possam surgir do trabalho de cada convidado ao serem interpretadas, sobrepostas ou comentadas, simultaneamente, pelas narrativas dos outros participantes.

Dan Hanrahan e a Língua de Aruanda

Photo: Pablo Urbiztondo
Photo: Pablo Urbiztondo

Conto aqui uma experiência que há muito sinto falta de relatar.

No final de 2013, às voltas com certo projeto, pedi ao meu amigo Dan Hanrahan um favor/desafio, desses que não se faz a qualquer hora nem a qualquer um: que traduzisse alguns poemas meus. Para minha sorte, ele topou. Mas a tarefa, embora não impossível, não era tão fácil. Isso porque os poemas que enviei estavam carregados de jogos de palavras, especificidades da cultura brasileira e, por vezes, palavras de origem africana que tinham grande importância na composição do poema.

Este que foi o começo de um grande diálogo que ainda está em movimento, foi para mim um grande presente. Isso porque Dan logo compreendeu o ritmo daqueles poemas, seus aspectos míticos e ritualísticos, dançou junto comigo, me contou histórias de experiências suas com as tradições negro-atlânticas (voodoo haitiano e arredores) e não só fez um trabalho impecável como também gravou para mim cada poema para que eu conhecesse a sua sonoridade, me presenteando com algo que ambos valorizamos: o registro oral como obra única e com semiótica própria.

Ao final, ele traduziu: “Ofó para o ventre dela [Ofo for her belly]”, “Mutacalambo” e “Língua de Aruanda [Language of Aruanda]”. Para deixar um gostinho da experiência, incluo aqui o poema em inglês (esta tradução já foi publicada na Revista Babelsprech num artigo interessantíssimo de Ricardo Domeneck sobre a poesia brasileira) e sua vocalização. Os demais, guardo para um momento mais provocativo.

Language of Aruanda

my grandmother who was the daughter of a daughter
my grandmother who was the grandma of a grandma
stuttered and sang as a young girl
a song lost in the farthest away
a song that I myself still sing by heart
not knowing what it means
unsure if I sing it right
I know that when I sing
my body hums
my blood flows
and there isn’t an evil eye that survives
this ancient song
that my ancestors carved in the echo
of my grandparents’ voices

*
Dan Hanrahan é poeta, tradutor, compositor, violonista, cantor, performer, dentre uma grande multiplicidade de vidas que encarna na sua forma de estar no mundo. Nascido em Chicago, vive em Baltimore. Crítico ferrenho da falida civilização ocidental, Dan escreve no blogue www.danhanrahan.blogspot.com.br. Acaba de lançar o disco “Three waves”, sobre o qual espero ainda falar por aqui.

Revista Mitocôndria #2: Lançamento

10374514_738476182927810_8269926591044862431_n

Participo, no próximo domingo, do lançamento desta revista de que tanto gosto da capa ao miolo, das letras pretas ao editorial, das pessoas envolvidas à forma de fazer.

O lançamento acontece das 10 às 13h do dia 28 de junho, em Belo Horizonte, no Sindicato dos Jornalistas (Av. Álvares Cabral, 400). Ouvi dizer que a palavra vai girar por lá, ferir os ouvidos, limpar os canais da audição.

Apareça.

Discutindo a Relação

Programa Discutindo a Relação

Hoje, sexta-feira, dia 15 de maio, a partir das 21 horas, participo do programa Discutindo a Relação, comandado pelo Marcello Sahea e a Mariana Collares. O assunto do dia é ‘A crise da masculinidade: a construção de um “novo masculino” está na feminização ou na desconstrução do homem’. Para acessar o papo, entre no site da Rádio Elétrica:

www.radioeletrica.com.br

Com Dulcineia Catadora no Circuito Sesc 2015

Dulcineia Catadora no Circuito Sesc de ArtesNos próximos 3 fins de semana (a partir de hoje), integrarei a equipe da Dulcineia Catadora durante o Circuito Sesc Artes 2015.

Para quem não conhece, Dulcineia Catadora é um coletivo que confecciona livretos com capas de papelão. Sempre em contato com o Movimento Nacional dos Catadores de Reciclagem, o grupo valoriza o trabalho do catador, age em defesa da inclusão social e pretende desenvolver o potencial artístico e criativo de seus participantes.

O coletivo, enquanto editora cartoneira, publica autores brasileiros contemporâneos, tanto da poesia quanto do conto.

O Circutio Sesc Artes 2015 acontecerá em diversas cidades ao mesmo tempo. Eu participarei como poeta-animador, ao lado da equipe que estará ministrando oficinas de confecção de livros cartoneiros.

A agenda é a seguinte:
Barra Bonita – 24 de abril, sexta, das 17h às 22h
Praça da Juventude- Avenida Pedro Ometto, s/no – Centro

Taquaritinga – 25 de abril, sábado, das 17h às 22h
Praça da Igreja – Praça Waldemar D ́Ambrósio, s/no – Centro

Matão – 26 de abril, domingo, das 16h às 21h
Parque Ecológico – Avenida Bertolo Biava, s/no

Andradina – 1º de maio, sexta, das 17h às 22h
Praça Antônio Joaquim de Moura Andrade, s/no – Centro

Araçatuba – 2 de maio, sábado, das 17h às 22h
Praça Getúlio Vargas, s/no – Centro

Penápolis – 3 de maio, domingo, das 16h às 21h
Praça Carlos Sampaio Filho

Cajuru – 8 de maio, sexta, das 17h às 22h
Praça Largo São Bento – Centro

Barretos – 9 de maio, sábado, das 17h às 22h
Praça Nove de Julho, s/no (Rua 34, entre avenidas 25 e 23)

Jaboticabal – 10 de maio, domingo, das 16h às 21h
Esplanada do Lago, no 160 – Vila Serra

Os eventos e as oficinas serão todos gratuitos. Quem estiver por lá, venha falar-vociferar-vocalizar-cantar-fazer-viver poesia comigo.

Para saber mais sobre a Dulcineia, é no site: www.dulcineiacatadora.com.br

Para saber mais sobre o Circuito Sesc 2015, é no: www.circuito.sescsp.org.br/sobre-o-circuito/

Da cusparada – Coleção Leve um Livro

leo_goncalves

Poesia circulando nas ruas, para o maior número possível de pessoas. Essa foi a ideia que nos motivou a criar a coleção Leve um Livro. Seja em blogs, zines, revistas, saraus ou edições independentes, a poesia brasileira contemporânea mostra vigor e criatividade, com uma grande variedade de estilos e dicções. Nosso objetivo é justamente dar uma amostra dessa produção, colocando para circular o trabalho de poetas de todas as partes do país.

O funcionamento da coleção é bastante simples: convidamos 24 poetas de todo o Brasil para publicar microantologias, duas a cada mês, ao longo de um ano. Os livros são feitos especialmente para a coleção, com projeto gráfico exclusivo, e são distribuídos gratuitamente, em 20 pontos de Belo Horizonte. Quem quiser, é só levar para casa, ler e colecionar. Cada livro tem tiragem de 2500 exemplares, distribuídos gratuitamente em displays afixados em centros culturais, cinemas, cafés, bares, livrarias, sebos, teatros e bibliotecas.

Participo na Coleção Leve um Livro com meu “Da cusparada”, seleção de poemas de Use o assento para flutuar e de das infimidades.

Para quem não sabe, a Coleção Leve um Livro tem a proposta de publicar, a cada mês, dois livrinhos de dez páginas. Dois autores brasileiros contemporâneos por mês. A distribuição é gratuita e você pode consultar no site alguns dos locais onde você pode encontrar. Todos em BH. Este mês fomos eu e a Maria Rezende. E já teve: Ana Martins Marques, Nicolas Behr, Chacal, Fabiano Calixto, Marcelo Dolabela, Fabrício Marques, Thais Guimarães e Luiz Roberto Guedes.

Na coleção, os poemas não precisam ser inéditos. Mas no meu, incluí também uma miniparódia impublicada de um poema que saiu originalmente no “das infimidades”, livro que publiquei em 2004 e que também aparece na Cusparada. A paródia você encontra aí, logo abaixo.

Para quem quiser fazer o download deste e dos outros todos da coleção, saber mais informações, conhecer os poetas que ainda participarão ou entrar em contato com os organizadores, basta clicar em: http://leveumlivro.com.br/

*

foi no poema vem pra vida
que eu chamei você paixão

vê se acorda desse transe
e vem transar comigo

sai daí
dessa televisão

Música para modelos vivos/Musique pour des modèles vivants

Foto: Milene Migliano
Foto: Milene Migliano
Foto: Milene Migliano
Foto: Milene Migliano

No dia 21 de março, às 21h, na Maison de la Poésie, participei da performance “Música para modelos vivos/Musique pour des modèles vivants”, de Ricardo Aleixo. A apresentação fazia parte da programação do Salon du Livre de Paris, que em 2015 homenageou o Brasil.

Como o leitor terá visto aqui no Salamalandro, fui convidado a traduzir alguns dos poemas do livro Modelos vivos. Às vésperas do evento, sabendo que eu estaria em Paris também, me convidou para vocalizar em francês os seus poemas, deu espaço para o meu “Transatlântico/Transatlantique” e fizemos uma grande festa da palavra na “cave”, como é chamado o belo palco da Maison de la Poésie.

[P.S: Não estou conseguindo postar as fotos, mas tão logo seja possível, elas aparecerão aqui.]

Jacques Prévert

Canção do carcereiro

Aonde vai meu carcereiro
Com essa chave manchada de sangue
Vou libertar aquela que amo
Se é que ainda é tempo
E que eu mesmo aprisionei
Ternamente cruelmente
No meu mais oculto desejo
No meu mais profundo tormento
Nas mentiras de futuro
Nas besteiras das promessas
Eu quero libertá-la
Quero que ela seja livre
E mesmo que me esqueça
E mesmo que vá embora
E mesmo que ela volte
E que ainda me ame
Ou que ame um outro
Se um outro lhe apraz
E se eu ficar na solidão
E ela tiver partido
Eu guardarei apenas
Eu guardarei para sempre
No oco de minhas duas mãos
Até a minha última hora
A doçura dos seus seios modelados pelo amor

(Jacques Prévert em tradução improvisada e em processo de refeitura a cada vez que o coração pede novamente, por Leo Gonçalves)

Chanson du geolier
Où vas-tu beau geôlier/Avec cette clé tachée de sang/Je vais délivrer celle que j’aime/S’il en est encore temps/Et que j’ai enfermée/Tendrement cruellement/Au plus secret de mon désir/Au plus profond de mon tourment/Dans les mensonges de l’avenir/Dans les bêtises des serments/Je veux la délivrer/Je veux qu’elle soit libre/Et même de m’oublier/Et même de s’en aller/Et même de revenir/ Et encore de m’aimer/Ou d’en aimer un autre/Si un autre lui plaît/Et si je reste seul/Et elle en allée/Je garderai seulement/Je garderai toujours/Dans mes deux mains en creux/Jusqu’à la fin de mes jours/La douceur de ses seins modelés par l’amour

Leo Gonçalves em francês

Foto (frame): Ricardo Aleixo
Foto (frame): Ricardo Aleixo

Como eu ia dizendo, tomei gosto pelo lance de fazer versos em francês. Ao terminar de verter poemas do Ricardo para o francês, ele me pediu que traduzisse meu poema Transatlântico também. Me lembrei de três poetas: Manuel Bandeira, Vicente Huidobro e Jean-Joseph Rabearivelo.

No livro Itinerário de Pasárgada, Bandeira relata a encomenda que lhe havia sido feita de traduzir para o português os poemas “Chambre vide” e “Bonheur lyrique”, dele mesmo, escritos originalmente em francês. Ele conta que foi um grande desafio, passa um bom tempo fazendo tentativas e conclui que um poeta não deve traduzir seus próprios versos.

Bandeira era um romântico.

Vicente Huidobro, o inaugurador da modernidade chilena, por outro lado, dizia que, como exercício de estranhamento, o poeta deveria se aventurar a fazer um mesmo poema em línguas diferentes. “Arte poética”, por exemplo, um de seus maiores primores, extremamente inventivo, foi feito primeiro em francês e depois em espanhol. Em ambos os casos, não está escrito em língua vernacular, e sim em sua própria linguagem de artista.

O terceiro, Jean-Joseph Rabearivelo, muito mais radical, escrevia entusiástica e simultaneamente em malgache e francês, como é o caso de Presque-songes/Sari-Nofy. Poemas tomados da experiência africana, com grande apelo para a oralidade, rítmicos, musicais. Tanto em francês quanto na língua de Madagascar. Procurei me inspirar principalmente nele.

O experimento é, portanto, não traduzir, mas refazer alguns de meus poemas em outra língua. Deixo aqui uma amostra, aproveitando os ensejos e preparativos para o Salon du Livre de Paris.

TRANSATLANTIQUE

repousser le jour de quitter la mer
se mêler à la mer
sans prétendre dompter la mer
être de la mer
faire que la mer
en étant miroir se regarde
sous l’accord du ciel
sans horizons ni limites
accepter que la mer
devienne dérive
sirène et tous les êtres
immergés ou hébergés
dans chaque peau chaque proie
devenir mer peau sur peau
avoir des branchies
des ouïes
et des nageoires
pour être à la mer
oublier de repousser les jours
et se renverser là-bas
pacifiquement
traverser la mer
dans une pirogue
un transatlantique
ou un voilier
aller n’importe où
aller où le vent porte
écouter les coquilles lire sur les cauris
et se laisser emmener
se laisser emmener par la mer
mourir à la mer dormir à la mer
vivre la mer
infinitive mer

*
TRANSATLÂNTICO

adiar o dia de sair do mar
se enturmar com o mar
sem querer domar o mar
ser do mar
fazer com que o mar
em ser espelho olhe-se
no acordo do céu
sem horizontes nem limites
aceitar que o mar
em sendo mar se torne léu
sereia e todo ser
que se molha que se olha
em cada pele cada prole
tornar-se ele pele com pele
formar brânquias
formar guelras
e barbatanas
para estar no mar
querer morar no mar
esquecer os dias de adiar
e se espraiar por lá
pacificamente
atravessar o mar
num barco a vela
num transatlântico
ou num vapor
seguir por onde for
seguir por onde o vento indicar
ouvir as conchas ler os búzios
e deixar-se levar
deixar-se levar no mar
morrer no mar dormir no mar
viver o mar
infinitivo mar

****

AUTRE POÉTIQUE

désinventer la langue
dans chaque parole
l’ashé s’agit
de se faire la gueule

les voyelles et les consonnes
on les mâche
le verbe couvre le corps
comme les poils la vache

la racine des mots
tu me l’annonces
c’est la gueule de qui
les prononce.

*

OUTRA POÉTICA

desinventar a língua
em cada fala
o axé consiste
no que a boca cala

mastigar com vontade
as vogais e as consoantes
o verbo cobre o corpo
como a folha a planta

a raiz das palavras
você me dizia
é a garganta
de quem as pronuncia

p/ benjamin abras