Arquivo da categoria: poesia

Um poema

LÂCHER PRISE

soltar o sol
soltar o ar
soltar o aro
o dedo a solda
soltar o que não volta
soltar o que não vai
soltar para deixar ir
soltar o que te assalta
soltar o salto
o assalto

desatar
abrir os dedos
deixar que o tempo faça
seu labor
largar os medos
esperar sem esperanças
que um dia as máscaras
dessas caras descaradas
caiam das caras
deixar
não abandonar
apenas
deixar
que as penas da ave caiam
e nasçam outras
em seu lugar

deixar
a vida em seu ritmo
deixar o que não se pode
por esforço de agarrar
mudar

deixar sem largar
deixar
amorosamente deixar
deixar como quem olha o curso
de um rio
de um rio que se esvai
quer se queira quer não
parar as mãos em concha
lavar-se quando a água estiver límpida
deixar passar quando a maré
não for lugar onde se banhar
olhar o brilho do sol sobre a superfície
apenas olhar
o sol que se crispa
por sobre todas as coisas
líquidas e que não deixarão nunca
de passar

(novembro, 2018)

[Leo Gonçalves]

Roda BH de Poesia 4

A cada edição, a Roda reúne dez poetas e artistas. Sentados ao redor de uma grande mesa de bar, a cada momento uma poeta levanta-se e apresenta seu poema, música, texto ou performance, e assim segue os outros, com o giro da roda.

Na próxima sexta-feira, dia 19 de julho, participo da Roda BH de Poesia IV, ao lado dessas pessoas lindas e admiradas que aparecem no flyer acima:

Ohana HoHo
Nívea Sabino
Claudia Manzo
Fabiana Soares
Bruna Kalil Othero
Leandro Zere
Pedro Bomba
Denilson Tourinho
Leo Gonçalves
Edelson Pantera

Tá bom de anotar na agenda para não perder.
Vai ser no 1000tons (Rua Mármore, 825 – Santa Tereza)

Como traduzir um rosto | oficina de tradução poética

“traduzir é inumano. nenhuma língua ou rosto se deixa traduzir.”
Juan Gelman

A arte da tradução é a arte do impossível. Cada língua e cada lugar possuem suas particularidades, seus próprios recortes da matéria viva chamada “realidade”. Se traduzir é um desafio já no ponto de partida, o desafio da tradução poética e suas correlatas em prosa se avizinha às artes do impossível.

A proposta desta oficina é, portanto, a de realizar experimentos com tradução de poesia, explorando, no ato tradutório, as subjetividades e os elementos de linguagem próprios da poesia. A experiência com a tradução nos permite explorar, para além da própria tradução em si, as inúmeras possibilidades e técnicas de criação poética, bem como as reflexões sobre o que pode um poema.

*

Os tempos atuais requerem uma percepção que ultrapasse os limites do que está ofertado para os observadores que somos, sempre muito passivos diante das notícias e informações que nos chegam do mundo. Adotamos visões superficiais e descarnadas sobre outros povos e outros lugares. A relação que cada indivíduo do planeta estabelece com os outros lugares e povos liga-se sobretudo, às paisagens. Compreender o que ocorre no ver e no sentir de um povo diferente é abrir-se para o novo, tal como o é também a leitura do poema.

Cada poema numa língua estrangeira é como um rosto distante que nos olha sem que compreendamos o que ele quer nos dizer. Trazer para a nossa língua o dito e o não dito de um poema, é parte dos grandes desafios do mundo atual. É pensando nisto que o filósofo martinicano Édouard Glissant desenvolve seu conceito de plurilinguismo: não se trata de saber vários idiomas, mas de “escrever em presença de todas as línguas”. A consciência de que o poeta habita um mundo onde também existem incontáveis línguas diferentes da sua compõe também o poema, nesses tempos de mundialização que é também massacrante, mas não só: é também a oportunidade do encontro e de um diálogo inédito entre os povos do planeta.

Traduzir poesia é também, por outro lado, momento de lazer. Despreocupar-se dos problemas do mundo para debruçar-se sobre as palavras, seus ritmos, seus jogos, seus interstícios. Buscar compreender o que ela diz e o que não diz. Mas também: dizer o que se compreende e o que não se compreende.

José Paulo Paes, um dos melhores e mais profícuos tradutores brasileiros em seu tempo, dizia traduzir porque não entende o original. Traduzir é o melhor modo de descobrir o que está oculto por trás das palavras de um poema escrito em outro idioma. Outro tradutor fundador, Augusto de Campos, declarou certa vez que traduzir é um modo de tornar-se outro, como fazia Fernando Pessoa com seus heterônimos. Sentir pelas palavras do outro, trazendo-as para a língua portuguesa. Guimarães Rosa dizia que toda escrita é uma espécie de tradução: quem escreve traduz de um lugar inaudito coisas sem nome. Mas para Robert Frost, “poesia é o que se perde na tradução”. Eis o desafio.

Grandes poetas traduziram: de Gonçalves Dias a Haroldo de Campos. De Machado de Assis a Clarice Lispector. De Álvares de Azevedo a Manuel Bandeira. De Carlos Drummond de Andrade a Sebastião Uchoa Leite. E a lista não tem fim.

Traduzir poesia é (pode ser) um modo de experimentar. Um modo de dar respiro às palavras de um autor. Seguindo o pensamento de Juan Gelman: “Traduzir é inumano. Nenhuma palavra ou rosto se deixa traduzir. É preciso deixar essa beleza intacta e colocar outra para acompanhá-la: sua perdida unidade está adiante.”

A proposta de “Como traduzir um rosto” seria, portanto, esta outra forma de se fazer poesia. Um processo. Um procedimento.

*

Há tempos espero o momento de realizar esta oficina. Estou contente com a oportunidade oferecida pela PBH. “Como Traduzir um Rosto” acontecerá na próxima semana, entre os dias 10 e 13 de julho. As inscrições são gratuitas, mas as vagas são limitadas.

Quem quiser se inscrever ou obter mais informações, pode entrar em contato.

telefone: 31 3277 8658
email: bpij.fmc@pbh.gov.br

Pesado demais para a ventania

Sábado próximo, dia 21/04, tem lançamento de Pesado demais para a ventania, antologia de poemas de Ricardo Aleixo. O livro sai pela Todavia, editora paulistana que já tem um catálogo bonito. O livro do Ricardo chega em boa hora. Festejemo-lo.

O que: lançamento do livro Pesado demais para a ventania, de Ricardo Aleixo.
Quando: Sábado, dia 21 de abril de 2018 a partir das 16h
Onde: Livraria Crisálida – Avenida Augusto de Lima, 233 sobreloja 25 (Edifício Maletta, segundo piso).

Relicário Edições: Exílios e Fundo falso

No último fim de semana, tive a honra de participar do lançamento do livro Fundo falso, da Mônica de Aquino. Uma coleção de poemas que, nota-se, foram sendo desenhados e trabalhados com delicado entalhe, como se a Mônica os estivesse escrevendo com técnicas de gravura em metal: água forte, maneira negra, água-tinta. Os laboriosos poemas dela começaram a ser escritos há, no mínimo, 10 anos. Do que fui testemunha e admirador. Sobre o poema que li no sábado (“Lagos”), cheguei a publicar no Suplemento Literário de Minas Gerais, em 2013 – numa edição especial na qual cada poeta deveria falar do poema que mais lhe impactou –, um pequeno comentário.

*

Amanhã, dia 12 de abril de 2018, participo do lançamento de Exílio – o lago das incertezas, de Lucas Guimaraens. A publicação é também da caprichosa Relicário Edições. O lançamento acontece na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21) a partir das 19h. O livro do Lucas foi publicado inicialmente na França e agora ganha edição brasileira. A edição está um primor. Lucas está lá, com seu elétrico verbo surreal. O livro traz prefácio de Edmilson de Almeida Pereira. Durante o evento, haverá leituras de poemas com, Fabrício Marques, Ana Martins Marques, Ana Elisa Ribeiro e Leo (eu) Gonçalves. Também terá um bate papo com o autor e o editor José Eduardo S. Gonçalves e, em seguida, coquetel. Como diz o Lucas: Avante!

ZIP – Zona de Invenção Poesia & 2018

Na próxima quarta, dia 21 de março, participo da ZIP – Zona de Invenção Poesia &. O evento vem acontecendo na Faculdade de Letras da UFMG, no Auditório e no Centro de Memória desde o início de março. Na ocasião, farei um bate-papo com Maria Esther Maciel. Terei a grande honra de dialogar com ela que foi uma das minhas mestras dentro e fora da faculdade de Letras e com quem atualmente tenho a sorte de manter uma boa interlocução.

Na sequência, participarei de um lançamento coletivo, incluindo a Coleção Livros de Bolso Labed e meu Use o assento para flutuar.

A programação foi pensada também em relação com o dia 21 de março é também o dia da Luta Contra a Discriminação Racial. A data foi criada pela Onu em memória do Massacre de Shaperville, quando vinte mil pessoas protestavam contra a a Lei do Passe na África do Sul.

Programa:

17h – Por que escrevo, com o coletivo Preta Poeta – Centro de Memória
19h – Diálogos de Oficina: Poesia em BH hoje, com Leo Gonçalves e Maria Esther Maciel – Mediação: Gustavo Silveira Ribeiro – no Auditório 2003.
20h30 – Lançamentos:
Coleção Livros de Bolso Labed
Use o assento para flutuar

Beagá Psiu Poético

A programação de Belo Horizonte essa semana vai de vento em popa. Vários eventos de poesia se encontrando. Quase que se poderia fazer um encontro dos blocos de poesia no domingo.

O Beagá Psiu Poético começa na quarta, dia 14 de março e vai até o domingo dia 18. Atividades intensas, lançamentos de livros de poesia, performances, bicicletadas, caminhadas, etc.

O Use o assento para flutuar será lançado no Beagá Psiu Poético na sexta-feira, dia 16 às 19h no CRJ – Centro de Referência da Juventude.

Se liga lá!

Em SP | Use o assento para flutuar na Desvairada

Chegou a hora de lançar o livro em São Paulo. Desta vez, estarei no estande da editora Pedra Papel Tesoura, durante a Desvairada – Feira de livros de poesia. Também nesse estande, estará acontecendo o lançamento dos livros A máquina de existir, de Fabrício Marques e Mapas provisórios, de Tatiana Perdigão. Estaremos no estande ao longo de todo o dia do evento: das 13 às 22h. Haverá leituras de poesia, performances, conversas e outras atrações durante o evento. Para saber mais, é no site da Desvairada: https://desvairadasite.wordpress.com/

Quando: Sábado, dia 10 de março a partir das 13h
Onde: no Aldeia 445 (Rua Lisboa, 445 – Pinheiros)