esta xilo premonitória do marcelo terça-nada! me foi dada de presente em dezembro de 2000. publico-a aqui, de memória.
Todos os posts de Leo Gonçalves
marcelo terça-nada!: um poema
lá pelos idos de 1998, este poema do marcelo terça-nada! freqüentava as paredes da minha casa. como ando fazendo escavações arqueológicas entre os meus papéis e batendo a poeira da memória, resolvi homenagear hoje o meu amigo com um poema dele mesmo.
saravá marcelo!
.
rosas vermelhas ou poema com os pés doendo
desce na rua da igreja
vira à esquerda na rua direita
sobe a terceira acolá
e passa cá
tavendo ali
atrás
do lado da república
não, não,
anda mais um pouco
naquela ladeira?
logo depois
do segundo casarão
um segundo
pára
(pra respirar)
sobe desce sobe
vira pula cai
é? não é
quebra na próxima
pega a travessa
passa as casas tortas
vira volta
mais nenhum quarteirão!
teima
sobe essa
aqui ali
uma bica ah!
sede morta
tenta aquela
quase fim
outra informação:
não temos rosas vermelhas nesta época do ano
(ouro preto, 31 de quase 1997)
lançamento do livro “machado de assis tradutor” de jean-michel massa
Machado de Assis Tradutor, livro de Jean-Michel Massa é lançado em Belo Horizonte
O pesquisador francês Jean-Michel Massa vem a Belo Horizonte para o lançamento da tradução de seu ensaio Machado de Assis Tradutor. Ele fará uma palestra sobre a obra do autor brasileiro, em evento promovido pela Pos-Lit – Programa de Pós-Graduação em Literatura, da Faculdade de Letras da UFMG.
Pioneiro do estudo da formação de Machado de Assis e ainda hoje quem melhor conhece seu trabalho de tradutor, Jean-Michel Massa é responsável pela divulgação, em 1965, dos Dispersos de Machado de Assis, em que reuniu boa parte da produção machadiana antes não identificada e/ou confinada em periódicos de difícil acesso e do inventário dos 718 livros que ainda restavam da biblioteca do escritor.
Em Machado de Assis tradutor, J.-M. Massa divulga o resultado de sua minuciosa pesquisa. Identifica e analisa 46 traduções de nosso autor, sendo 3 delas inéditas.
Ao lado de traduções conhecidas, como o romance Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo, e o poema “O corvo”, de Edgar Allan Poe, estão listadas e analisadas as demais obras traduzidas, algumas por encomenda, outras por escolha do tradutor. A maior parte é de peças teatrais e poemas de autores variados, mas em que prevalecem textos franceses.
Machado de Assis traduziu com regularidade desde o início de sua carreira até a maturidade. Acompanhar seu percurso como tradutor ajuda a compreender sua formação como poeta, crítico, contista, dramaturgo, cronista e romancista.
Fato marcante é que seu primeiro livro publicado seja uma tradução – Queda que as mulheres têm para os tolos (Typografia Paula Brito, 1861; reedição: Crisálida, 2003) – e que seus trabalhos seguintes sejam adaptações de textos franceses para o teatro, seguido de um livro de poemas, Chrysalidas (Garnier, 1864; reedição: Crisálida, 2000), em que mescla poemas próprios com traduções de A. Dumas Filho, M. de Staël, H. Heine, A. Mickiewicz, Dante Alighieri, La Fontaine, entre outros. É uma verdadeira antologia das literaturas européias.
Em seguida à publicação do ensaio, Jean-Michel Massa publicará, em outubro, o livro organizado e anotado por ele, Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis. Trata-se de traduções (inéditas) de Machado de Assis.
Machado de Assis Tradutor de Jean-Michel Massa
Crisálida Editora, 2008.
Tradução: Oséias Silas Ferraz
128 páginas preço: R$ 24,00
Local: Faculdade de Letras da UFMG (Auditório Sonia Viegas)
Av. Antônio Carlos, 6777 – Campus da Pampulha
Data: 08 de setembro, segunda-feira, 19 horas
o terreiro zen e o pessegueiro de oxóssi
dia desses, caminhando pela rua da minha casa, me deparei com um pessegueiro todo florido ao lado de um antigo templo a oxóssi recém demolido. esse acontecimento anunciava a volta do zen nos meus afazeres cotidianos. a seguir, as foto-haicais que marcaram a ocasião.
桃
a flor do pessegueiro
como no koan
já tem um pêssego inteiro
***
sarashina belo horizonte
um pêssego em flor
bashô em minas
***
primavéspera dança
na planta verde e rosa
como se oxóssi fosse
paulo leminski, 24 de agosto de 2008
já se tornou quase uma tradição (sem compromisso) a data de hoje no salamalandro. não dá pra esconder a importância de paulo leminski na minha vida. e vida é uma palavra-chave para a leminskidade da minha poesia (hoje, se me perguntarem se recebo influência de leminski, eu arrenego).
no dia 24 de agosto, ele completaria 64 anos de vida. mas como na carne não rolou, só nos resta homenagear a curta vida do cara que foi o grande mestre da minha geração.
e vai em bloco: neste momento está acontecendo a última sessão da semana paulo leminski, com a presença de toninho vaz (autor da biografia desse “bandido que sabia latim”) e leitura de poemas. mas pra mim, a homenagem mais comovente é a do ademir assunção, lá na espelunca.
já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passomorrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a almamorrer de vez em quando
é a única coisa que me acalmap. leminski
programa petrobrás cultural (informe-se)
um acordo entre a petrobrás e o ministério da cultura abre novos rumos para a atual edição do programa petrobrás cultural. a novidade é que os interessados em enviar projetos não terão mais que aprová-los previamente na lei rouanet.
O “Acordo de Cooperação Técnica Ministério da Cultura – Petrobras” cria uma etapa semifinal no processo de análise/seleção do PPC, durante a qual o MinC analisará, sob os critérios e requisitos da lei Rouanet, os projetos finalistas do PPC, conferindo (ou não) a eles a aprovação na Lei Rouanet. Essa nova etapa será inserida após o final do trabalho das comissões de seleção e antes da decisão final pelo Conselho Petrobras Cultural, que definirá os projetos vencedores e uma lista de suplentes.
Dessa forma, todos os projetos vencedores, quando anunciados, já estarão aprovados na lei de incentivo fiscal, tendo então prazo de 30 dias improrrogáveis para a apresentação da documentação exigida pela Petrobras para a contratação, sob pena de convocação de projetos suplentes (que, conforme explicado acima, também já estarão devidamente aprovados na lei de incentivo).
quem quiser mais informações, prepare-se. na próxima quinta-feira, dia 28 de agosto, às 16h30, haverá um chat com a gerente de patrocínios da petrobrás, eliane costa, e o responsável pela seleção pública do setor de Literatura, giuseppe zani. a primeira hora irá tratar das questões relativas ao setor de criação literária: ficção e poesia.
fique atento às notícias no site da petrobrás:
http://www2.petrobras.com.br/CULTURA/ppc/index.asp
caymmi encontra o canoeiro
acordo no domingo com vontade de informação. abro alguns blogues. encontro caetano que diz: “caymmi completou sua vida luminosa”. entendo tudo. fico triste. caymmi foi na jangada e a jangada voltou só. ele tinha 94 anos e pouco mais de 80 canções compostas. 80 canções inesquecíveis que ensinaram pro brasil o que é que tem no tabuleiro da baiana. sem caymmi não tinha bossa nova, não tinha tropicália, nem o renascimento do samba nos anos setenta, nem muitas outras coisas que formam aquilo que chamamos hoje de brasil.
foi também ele que ensinou a música brasileira a gostar desavergonhadamente dos seus orixás, da sua cor, da sua miscigenação cultural e biológica. o toque do tambor e a beleza da mulher negra nas consoantes oclusivas de “atrás do dengo desta nega/todo mundo vem” cantados como se nem poesia fosse. o poeta antropólogo antônio risério (no seu livro mais recente), comentando sobre “a lenda do abaeté” lembra a rima trimestiça como um símbolo da nossa mistura racial (“batucajé” é vocábulo híbrido de banto e iorubá. “abaeté” é tupi. e “quisé” é português):
no abaeté tem uma lagoa escura
arrodeada de areia branca
ô de areia branca
ô de areia brancade manhã cedo
se uma lavadeira
vai lavar roupa no abaeté
vai se benzendo
porque diz que ouve
ouve a zoada
do batucajéo pescador
deixa que seu filhinho
tome jangada
faça o que quisé
mas dá pancada se o seu filhinho brinca
perto da lagoa do abaeté
do abaetéa noite tá que é um dia
diz alguém olhando a lua
pela praia as criancinhas
brincam à luz do luaro luar prateia tudo
coqueiral, areia e mar
a gente imagina quanta a lagoa linda éa lua se enamorando
nas águas do abaeté
credo, cruz
te desconjuro
quem falou de abaeté
no abaeté tem uma lagoa escura
antônio cícero na oficina que deu há um ano atrás em diamantina, comentava que um poema se torna um clássico quando entra para o repertório da língua. e não é preciso ser nenhum gênio para perceber que canções como “o que é que a baiana tem?” e “você já foi à bahia?” contêm alguns dos adágios mais comuns na fala coloquial de qualquer região brasileira. cícero tem razão. afinal, “quem não tem balangandãs não vai ao bonfim”.
caymmi me lembra a minha infância. quando eu era menino, não tínhamos muita música em casa. do pouco que rolava, meu pai gostava de ouvir coisas incomuns, cantadas em línguas estrangeiras ou os antigos cantores do rádio. mas a música que eu nunca esqueço e que ficou gravada nas faixas da minha memória é “o mar”, na voz do dorival, acompanhado de um violãozinho calmo e delicado. provavelmente esta será a única canção que cantará na minha cabeça no dia da minha morte.
coletivo xepa
veja mais no www.coletivoxepa.blogspot.com
letra do dia
o amor
(cecília silveira)
o amor
como for
está em tudo aqui
na praça
na rua
telhado
bichinho
tijolo de construção
o amor
como for
pulou dentro de mim
ainda sinto a dor
que um dia veio me consolar
o amor bate na porta
nas coisas tortas
em qualquer lugar
o amor bate na porta
mas não abra
olha o amor
seja como for
vai desarrumando a vida
olha o amor
venha como for
vai ameaçando meus dias