Todos os posts de Leo Gonçalves

Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

Palavra Inquieta – Inquietudes

Inquieto com as vicissitudes do programa Palavra Inquieta, andei matutando muito antes de decidir o que fazer, como aproveitar melhor a estrutura e o espaço. Conversando com meu amigo Rodrigo Sliva Marins (a quem agradeço muito), cheguei à conclusão de que seria legal criar uma ferramenta nova, na qual fosse possível estar online em diálogo com os internautas, lançando sempre que possível matéria para cliques novos, um poema aqui, uma ideia ali. Pouco a pouco vou retirando a linearidade da coisa, dando algum movimento e matéria para dedos que, tanto quanto a palavra, não conseguem parar quietos sobre o mouse.

Queria também colocar as entrevistas num ambiente à parte. Foi por isso que criei o blog Palavra Inquieta e outros trictraques que vocês poderão ir explorando pouco a pouco, à medida que a coisa vai tomando forma. O leitor verá que ainda faltam diversas coisas. Há entrevistas que ainda não coloquei no ar (por razões técnicas, principalmente). Mas isso vai se arranjando. Work in progress.

A primeira experiência, que considero a entrevista-piloto, foi bem bacana. Conversei com o camarada Edson Cruz, poeta, blogueiro, e outras coisitas. Agradeço ao carinho da minha querida Ana, que cedeu o espaço para fazê-la.

Para acessar, palpitar, comentar, criticar, lastimar, o endereço é:

www.palavrainquieta.blogspot.com

Palavra Inquieta – Estrela Leminski

Hoje, quinta-feira, dia 11 de agosto às 17h30, bato um papo com a poeta, cantora, compositora Estrela Leminski. Estrela acaba de lançar seu segundo livro de poemas Poesia é não, pela editora Iluminuras. Também este ano, Estrela e seu companheiro Téo Ruiz, lançou mais um cd, Música de ruiz.  Para quem quiser assistir, o papo vai ser lá no canal do Clube de Autores: http://on.fb.me/eCtIrD, ao vivo pela Internet.

E para quem quiser saber mais sobre a Estrela, é no www.leminiskata.blogspot.com

Palavra Inquieta – Sérgio Vaz

Enquanto o programa Palavra Inquieta segue inquieto, remexendo nos pauzinhos aqui ali para dar a melhor forma, o melhor conteúdo e a melhor transmissão, vamos passando o evento desta semana para a quarta-feira. O motivo é especial: o entrevistado é o poeta Sérgio Vaz, da Cooperifa. Ele lança nesta semana, lá em Taboão da Serra, o seu livro Literatura, pão e poesia.

Iremos até o poeta fazer a entrevista, momentos antes do começo do sarau da Cooperifa. O bate-papo será às 18h e será transmitido ao vivo pela Internet. O link é: http://on.fb.me/eCtIrD

Fiquem atentos ao Salamalandro. Provavelmente deixarei uma telinha para quem quiser assistir aqui mesmo.

Mandem suas pergutnas. Para saber um pouco mais sobre o Sérgio Vaz:
www.colecionadordepedras1.blogspot.com

O lado escuro do coração

Dirigido por Eliseo Subiela, El lado oscuro del corazón (1992) é um filme engraçado, com Darío Grandinetti no papel principal falando poemas de Oliverio Girondo, Mario Benedetti e Juan Gelman. Narra a história de um poeta sedutor que transita pelas ruas de Buenos Aires à procura de consolos para sua existência surreal. Encontra várias mulheres nessa jornada. Ao fundo de todas elas, ressoa o último verso deste poema de Oliverio Girondo, com uma pequena adaptação do roteirista-diretor:

Pouco me importa se as mulheres têm os seios como magnólias ou como figos secos; uma pele de pêssego ou de papel de lixa. Dou uma importância igual a zero, ao fato de amanhecerem com um hálito afrodisíaco ou com um hálito inseticida. Sou perfeitamente capaz de suportar um nariz que tiraria o primeiro prêmio numa exposição de cenouras; mas isso sim! —e nisso sou irredutível— não lhes perdoo sob nenhum pretexto: que no saibam voar. Se não sabem voar, perdem seu tempo comigo.

[Me importa un pito que las mujeres tengan los senos como magnolias o como pasas de higo; un cutis de durazno o de papel de lija. Le doy una importancia igual a cero, al hecho de que amanezcan con un aliento afrodisíaco o con un aliento insecticida. Soy perfectamente capaz de soportarles una nariz que sacaría el primer premio en una exposición de zanahorias; ¡pero eso sí! —y en esto soy irreductible— no les perdono, bajo ningún pretexto, que no sepan volar. Si no saben volar ¡pierden el tiempo conmigo!]

Essa rotina antirrotina de Oliverio Fernandez (o nome do protagonista pode ser uma homenagem a Macedonio Fernandez e ao próprio Girondo) é, de repente, interrompida quando ele finalmente encontra uma que lhe responde: “Voos de instrução: 50 dólares. Voo de cabotagem: 70 dólares. Internacional é 100”. A paixão por essa bela puta literata (Sandra Ballesteros) é complicada e imoral. Um caminho difícil. Poetas trilham caminhos difíceis.

Girondo:

Eu, pelo menos, sou incapaz de compreender a sedução de uma mulher pedestre, e por mais empenho que ponha em concebê-lo, não me é possível nem tampouco imaginar que se possa fazer amor senão voando. [Yo, por lo menos, soy incapaz de comprender la seducción de una mujer pedestre, y por más empeño que ponga en concebirlo, no me es posible ni tan siquiera imaginar que pueda hacerse el amor más que volando.]

Em meio à narrativa fio-condutor, o poeta transita por angústias e vicissitudes próprias de quem se dedica à poesia. Recebe visitas habituais da Morte (Nacha Guevara), uma bela mulher com quem tem conversas bem íntimas. Enfrenta uma vida nômade devido às dificuldades de garantir suas finanças (“sou poeta, e quando preciso de algum dinheiro, me alugo: faço publicidade”). Paga a conta do bar com alguns versos, delira com seu amigo subversivo Gustavo (Jean-Pierre Reguerraz), que vez por outra vai preso por atentado ao pudor com suas esculturas sexuais e protesta: “a arte tem que ir para a rua, não pode ficar presa numa galeria”.

Momento especial é a aparição do poeta Mario Benedetti. Vestido de marinheiro, recita para uma das prostitutas do cabaré seu poema “Corazón coraza” em alemão. “Weil ich dich habe und nicht habe (…) weil die Nacht offene Augen hat”.

Embora feito já nos anos 90, o filme tem aquela aura meio cafona dos anos 80, com efeitos especiais um tanto toscos, moda e linguajar antiquados. Mas nada tira o encanto da poesia que aparece muito bem recitada por Darío Grandinetti. Isso sem falar nos gostosos boleros que aparecem aqui ali como pano de fundo (“hace falta que te diga/que me muero por tener/algo contigo/es que no te has dado cuenta/de lo mucho que me cuesta/ser tu amigo”).

De um tempo pra cá passei a curtir muito esse tipo de filme. Seja na forma de documentário, de biografia ficcional ou de pura ficção, o filme cujo personagem principal é um poeta tem um apelo todo especial nas bilheterias da minha tv. Desse mesmo gênero tem o novo sucesso nas salas de cinema cult do Brasil, Gainsbourg, o homem que amava as mulheres [Gainsbourg, vie héroïque], de Joan Sfar. E daí para: Uivo [Howl] de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, contando um momento da vida de Allen Ginsberg e Pan-cinema permanente, documentário sobre Waly Salomão, dirigido por Carlos Nader. E no gênero ficcional, há o admirável filme de Hal Hartley, As confissões de Henry Fool. Nem sempre esses filmes são de fato poéticos. Mas quando são, tornam-se uma oportunidade de se experimentar um novo suporte e leituras inusitadas para os poemas.

Infelizmente O lado escuro do coração não saiu no Brasil (pelo menos até onde sei). Como a maioria das produções que envolvem poesia, diga-se de passagem. Duvido que alguém o encontre nas nossas locadoras ou nas mostras de cinema. Mesmo assim, não custa pedir para os distribuidores. Diga a eles que se não arranjarem, você irá baixar pelo torrent.

*

(Este texto, escrito aos poucos para o Salamalandro, ganhou também uma reprise no blog Borboletas nos Olhos, da querida Luciana Nepomuceno.)

Um gato de Jacques Prévert

O GATO E O PASSARINHO

Um vilarejo escuta entristecido
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro do vilarejo
E foi o único gato do vilarejo
Que devorou pela metade o passarinho
E o passarinho para de cantar
E o gato para de ronronar
E de lamber o focinho
E o vilarejo faz para o passarinho
Um maravilhoso funeral
E o gato que é convidado
Segue o cortejo atrás do caixãozinho de palha
Onde o pássaro morto está deitado
Carregado por uma menina
Que não para de chorar
Se eu soubesse que isso te machucaria tanto
Lhe diz o gato
Eu o teria comido inteirinho
E depois teria dito
Que havia visto ele voar
Voar até o fim do mundo
Para um lugar que fica tão longe
Que não se pode jamais voltar
Você teria sofrido menos
Apenas tristeza e saudade

Não se deve nunca fazer as coisas pela metade.

***

LE CHAT ET L’OISEAU

Un village écoute désolé/Le chant d’un oiseau blessé/C’est le seul oiseau du village/Et c’est le seul chat du village/Qui l’a à moitié dévoré/Et l’oiseau cesse de chanter/Le chat cesse de ronronner/Et de se lécher le museau/Et le village fait à l’oiseau/De merveilleuses funérailles/Et le chat qui est invité/Marche derrière le petit cercueil de paille/Où l’oiseau mort est allongé/Porté par une petite fille/Qui n’arrête pas de pleurer/Si j’avais su que cela te fasse tant de peine/Lui dit le chat/Je l’aurais mangé tout entier/Et puis je t’aurais raconté/Que je l’avais vu s’envoler/S’envoler jusqu’au bout du monde/Là-bas où c’est tellement loin/Que jamais on n’en revient/Tu aurais eu moins de chagrin/Simplement de la tristesse et des regrets//Il ne faut jamais faire les choses à moitié.

Jacques Prévert. Histoires. Paris: Gallimard, 1946.

Postei este poema pela primeira vez em 2006, quando o Salamalandro ainda era no blogspot. Agora, depois de idas e vindas, textos e lidas, aqui vai outra vez, revisado. Para quem quiser ler, comparar, malfalar e criticar (todas as opções são benvindas, comentem aí), incluí o original. Você também pode ouvi-lo aqui, na voz de divertidas crianças francesas.

Lourenço Mutarelli no programa Palavra Inquieta

Foto: Tadeu-Jungle

Na próxima terça-feira, às 17h30, o programa Palavra Inquieta  traz o escritor e desenhista Lourenço Mutarelli. O bate-papo acontece num espaço novo. Interessados em participar ao vivo e a cores, me mandem um recado com o nome e o número do RG. O Palavra Inquieta terá transmissão ao vivo, via internet. Basta clicar no link: http://on.fb.me/eCtIrD

Lourenço Mutarelli vem se destacando como um escritor inventivo e visceral. Com suas narrativas econômicas, muitas vezes reduzidas apenas aos diálogos, obtém uma reinvenção da cena tão viva quanto as histórias em quadrinhos com as quais se notabilizou nos anos 1980. Tornou-se conhecido a partir do filme O cheiro do ralo, de Heitor Dhalia, baseado em seu livro homônimo (Editora Devir, 2002). É autor de: A arte de produzir efeito sem causa, Nada me faltará, Miguel e os demônios, pela Companhia das Letras. Protagonizou recentemente o filme O natimorto, dirigido por Paulo Machline e baseado em outro livro homônimo do Mutarelli que foi, além disto, adaptado para o teatro por Mário Bortolotto.

Para saber mais sobre ele, tem este site: www.devir.com.br/mutarelli

www.clubedeautores.com.br