assoviaria blake por ruas mapeadas/ nas muradas do arrudas/ de concreto armado/ as ruas da cidade têm dono/ as putas da cidade não têm dono/ caminharia pelas ruas/ putas da cidade da moral concreto armado/
diria à mendiga e ao mendigo que eles são amados/ na minha orgia por poetas e baratas/ e eles se levantariam de suas calçadas/ e me beijariam/ e com meu beijo/ se sentiriam nutridos/
orgias de poetas, palavras/ gravadas no papel/ como palavras gravadas nas cascas/ das árvores/ ou como palavras gravadas/ nas cascas do corpo/ ou como corpo gravado no tempo/ ou como o tempo gravado no nada/ como um copo vazio/
assoviaria blake/ solitário/ ouvindo o poeta guarani nascido agora aqui/ há duzentos e cinqüenta anos/ e que não está na história/ não quis se chamar árcade ou clássico ou poeta ou romântico/ ou esdrúxula do gênero:/ mas árvore cético mágico cínico/ ou único libertador/ porque não escrevia a liberdade tardia/ onde o prazer amanhecia e entardecia sem dono/
assoviaria blake pelas ruas sem nome/ aspirando o mesmo lugar dourado/ e um girassol/ limitado-ilimitado/ à margem do rio podre/ sem nunca debruçar sobre sua murada/