o estudo me fez espirituoso
E todos os dias parecem reclamar
seu quinhão de sombra e de desassossego,
enquanto nós, com o silêncio de gestos
muitas vezes repetidos, construímos o
torpor, a catatonia de um mundo que se entrega.
(Andityas Soares de Moura, no livro FOMEFORTE)
tem um comentário do poeta irlandês w. b. yeats sobre pound, onde ele diz: “esse é um poeta de cuja teoria eu discordo completamente, mas que a ele estou ligado por questões que ultrapassam a estética” (estou citando de cabeça). agora já deve ter passado uns oitenta anos desde que yeats escreveu isso, e olhando de outro continente, em outro contexto histórico (livre dos fascismos que iludiram os dois grandes camaradas de que eu falei), posso agora brincar de gente grande e falar o mesmo sobre este meu parceiro. e falarei em forma de relato.
andityas soares de moura é um poeta português, filho de pais brasileiros e nascido em barbacena, interior de minas gerais, estado onde sempre viveu. como estrangeiro que é, onde quer que esteja, vive assumindo em sua poesia uma persona nova, que inclui uma língua e uma forma específicas. mas que ninguém se engane: todas elas transitam num mesmo espaço, onde a realidade é apenas um elemento em meio aos diferentes artifícios aos que ele se apega para os seus versos.
certa vez, num sarau que fizemos numa livraria onde trabalhei há muitos anos atrás, o andityas, tendo lido alguns dos meus poemas, me veio com a seguinte resposta: “estás compromissado com a modernidade”. pouco depois, pude ler o seu primeiro “poemário” (como ele o chama), Ofuscações. achei, e ainda acho, extremamente romântico, deslumbrado com rimbaudismos, traklismos, vangogoghismos, delírio verbal sem artifício, um tanto quanto retórico. pensei: “esse cara está compromissado com o passado.”