Recém chegado a São Paulo, tenho olhado com avidez para o mercado editorial. Talvez tenha sido essa a maior surpresa minha ao chegar a esta cidade. A constatação de que de fato “existe” um mercado editorial, capaz de girar a roda, gerar empregos, atrair recursos. As estatísticas variam, mas é verdade que a cidade de São Paulo é responsável pela produção e o consumo da imensa maior fatia do que se produz editorialmente no Brasil. Enquanto uma cidade como Belo Horizonte ainda engatinha, com suas quatro ou cinco editoras pequenas, boa parte delas só publicando com recursos do Estado (via leis de incentivo), existe aqui uma intensa atividade empresarial com visão de futuro e desejos de inserção num mercado que, bem ou mal, acaba produzindo rios de dinheiro. Trabalhando primeiro numa pequena editora e, atualmente, numa distribuidora de livros e muitas vezes fazendo trabalhos free-lance, convivendo com designers gráficos, editores, escritores, não desistindo em nenhum instante dos meus projetos pessoais, ainda que sem editor (tenho na minha gaveta traduções, poesia, ensaios, projetos mil), tenho tido uma visão privilegiada do assunto. Todos os dias no metrô, vejo diversos leitores ávidos. Leitores que lêem em pé, sem segurar em nada, enquanto as pessoas se acotovelam. De uma ponta a outra da cadeia produtiva, vejo muita atividade. Livrarias cheias, animadas, algumas produtoras de elegantes revistas informativas.
Mas antes que o leitor pense que esta é uma nota otimista, parto logo para as nuances. Parece incrível, mas o mercado livreiro está mergulhado no oceano do consumo. A grande maioria do que se imprime são livros descartáveis. Livros que desaparecerão completamente depois de esgotados. Embora haja grandes hordas de editores esperançosos, a maior parte trabalha com subprodutos de obras muito vendidas. Obras que comentam a saga Crepúsculo, por exemplo. Discursos para se criar otimismos no mundo. Modas e mais modas. Mas resta uma informação que circula pouco: os editores, assim como os escritores, estão ansiosos por encontrar obras interessantes e publicá-las. O problema é que, não sei por que buraco na comunicação, um não encontra o outro.
Livros são sempre apostas. Há muitas razões para se imprimir um texto. Nenhuma delas garante que o livro será vendido. Na falta de uma garantia concreta, aposta-se nos modismos tradicionais. Entre publicar um livro de poesia (mesmo que de um poeta já reconhecido) e um livro ensinando como manter em alta sua motivação, a preferência é garantida para o último. O mercado do livro já não visa mais as pessoas adeptas de intelectualidades, mas ao cidadão midiatizado, leitor das principais revistas e jornais do país (eu ia dizer de São Paulo, o que não deixa de ser também verdade). Editora é empreendimento de alto risco. Poucos se dão conta disso. Todo dia nasce uma nova pequena editora. Todo dia uma delas vai à falência.
Autores e tradição literária no país não faltam. Criatividade não falta. São Paulo é uma cidade poliglota, está mais próxima de outras grandes capitais do mundo (em seu modo de vida) que do restante do país. Por isso, tradutores também não faltam. Mas falta critério. Não estou afim de discutir se um livro de auto-ajuda merece ou não ser publicado. Se partirmos dos números, eu tenderia a dizer que sim, merecem. Uma editora como a Sextante (cujo catálogo é essencialmente de auto-ajuda) não publica um livro se não tiver venda garantida de pelo menos 20.000 exemplares. Ao imprimir recentemente o último livro do Paulo Coelho, esgotou em poucos dias os 100.000 da primeira tiragem.
O que questiono é por que, com tão larga produtividade editorial ativa, os escritores perdem tempo e dinheiro em edições particulares, na maioria das vezes sem nenhuma estratégia de circulação? Ainda: por que os editores investem tanto dinheiro em traduções de autores norteamericanos cujo interesse será sempre efêmero enquanto poderiam produzir grandes escritores? Por que não há mais apostas na literatura brasileira contemporânea, salvo breves e curiosas exceções e meia dúzia de autores eleitos pelas grandes casas (que são poucas e fáceis de listar)? Eu tenho algumas respostas na manga e muito mais perguntas. Gosto mais das perguntas, por enquanto.
Publicar um livro sai muito caro. As fórmulas implementação de lucro quase nunca incluem o autor no pacote. O direito autoral é uma entidade decadente. Mas o próprio mercado editorial tende a se implodir se não tiver um olhar atento, não criar novas formas de se relacionar com seus autores e não aprender a discernir as boas alternativas das meras modas. É muito grande a tendência de deixar a produção apenas para os grandes empresários do livro e a boa literatura para os poetas/escritores que buscam em vão extrair algum trocado a mais de suas incursões no mundo das palavras.
suas análises são tão bacanas… e me depertam tanta coisa que só mesmo numa mesa como um copo suado eu conseguiria dizer.
um beijo, baby.
pois é, samantha,
eu fico na dúvida sobre muita coisa e estou aprendendo. discordâncias e comentários são muito bem vindos.
na beira do copo eu topo, também..
beijos
Pois é Leo. Dá tristeza ver aqueles amontoados de livros naquela livraria aqui de BH, AQUELA, vendidos em oferta, em posição de sacrifício de descarte, aqueles que falam de vampiros e cia(para não dizer outros).
Tanto esforço editorial desperdiçado apenas para atender a uma
lógica de divulgação de filmes, investimento massivo mesmo.
fico aqui com sua provocação, pensando como se poderia
aproximar editores e escritores…de canalizar aqueles esforços para publicação de, por exemplo, poesia. é difícil, mas vale pensar.
Bom, fico por aqui. Sucesso aí em SP e mais uma vez parabéns
pelas reflexões postadas no SALAMALANDRO.
Haroldo