Arquivo mensais:abril 2008

roberto piva: viver de nuvem?

roberto pivaainda no clima do comentário de ricardo aleixo, que acabo de publicar aqui, me deparo com a a seguinte notícia, publicada no final de fevereiro, no site do teatro oficina:

“Roberto Piva está melhorando de um quadro delicado de saúde, o que ocorreu com um certo retardo pela situação financeira que ele se encontra

Ele está tentando de todas as formas sair dessa: tem remuneracão de palestras que ele deu pra receber e amigos que costumam ajudá-lo, porém, está tudo atrasado e esses amigos estão também sem muitas possibilidades, o que resultou numa dívida com o condomínio de R$ 900,00. Tem sido diariamente cobrado e infernizado pelos advogados do prédio…

Ele me ligou pedindo pra eu entrar em contato com vocês pra dar a idéia de divulgar essa notícia sobre ele através do mailing do Oficina com o número de sua conta, para que pessoas que gostam dele e tenham possibilidades depositem uma quantia de dinheiro para ele poder atravessar essa fase.”

o piva, para quem não sabe, é um dos maiores gurus da poesia brasileira, que já nos anos 60 incendiava a literatura brasileira. acho que ele foi um dos poucos poetas brasileiros a fazer contracultura sem escrúpulos nem barreiras em tempos de ditadura militar.

encontra-se, neste momento, em intensa cri-atividade, com seus poemas contemporaneíssimos e mensagens de outros mundos. lançou em março o terceiro volume de sua poesia reunida, que inclui poemas inéditos, “Estranhos sinais de Saturno“. a própria luciana domschke, atriz do oficina, comentava do alto astral dele, apesar dos reveses. mas acho uma pena que tenha que ser assim, nesse país da batucada.

espero que ele já tenha saído da enrascada, mas tenho certeza que ele não vai reclamar se depositarem mais uma grana na conta dele. portanto, os interessados podem pegar os dados bancários dele [aqui].

entrevista: ricardo aleixo

Penso que a literatura e as demais formas de arte têm, como função básica a proposição de problemas, mais que de respostas, que contribuam para que a sociedade redefina os termos do debate sobre as condições de sua própria formação (entendida como um processo, insisto) e permanência. Em outras palavras, ao defender a ‘profissionalização’ do artista, aponto para um paradoxo, que é a hipótese de se ter, como conseqüência, a valorização daqueles cuja importância na sociedade é definida bem mais por sua movência, por sua entrega gozoza à errância e à deriva do que pela fixidez de suas posições. O artista, como o vejo, como o idealizo, talvez, é aquele que optará sempre pela perversão, pelo caminho torto, escuro, pleno de dobra e desvios. Pelo sim, pelo não, prefiro apostar que uma verdadeira política de apoio às artes passará, necessariamente, pela valorização dos criadores sem que se exija deles mais do que o produto desinteressado de sua imaginação. Luto, por isso mesmo, ciente dos riscos a que todos estaremos expostos. Mas me diga: não é bem pior não fazer nada? Se me desagrada a figura do escritor como um ‘funcionário da escrita’, tampouco me apraz a terrível imagem do cadáver de Cruz e Sousa, conduzido de Leopoldina, no interior de Minas, para o Rio de Janeiro, num trem de carga. É isso.

ricardo aleixo entrevistado no último dia 04 pelo jornalista carlos augusto lima, no diário do nordeste (fortaleza). para lê-la na íntegra: aqui

Ginsberg & Pasolini

pasolini

é interessante pensar que há apenas 40 anos atrás, o povo americano não representava apenas uma massa amorfa e sem opinião, limitado pelos ditames da televisão. o americano era um povo rebelde. eu não havia entendido o que michael moore queria dizer quando, no filme “tiros em columbine”, saiu perguntando “onde está o meu país?” (como se tivesse nascido num lugar que não existe mais).

mas numa carta a allen ginsberg, pier paolo pasolini comentava o seguinte:

a tua burguesia é uma burguesia de loucos, a minha, uma burguesia de idiotas. você se revolta contra a loucura com a loucura (distribuindo flores aos policiais); mas como se revoltar contra a idiota?

os americanos representavam a mais romântica rebeldia nos anos 60. estranho que isso tenha acabado. será que ginsberg, hoje, se rebelaria contra a burguesia idiota (como é, aliás, no brasil)? pasolini continua:

todos os homens da tua américa são obrigados, para se exprimirem, a serem inventores de palavras! nós aqui, ao contrário (mesmo aqueles que têm agora dezesseis anos), já temos nossa linguagem revolucionária pronta e acabada, com uma moral implícita. e eu também – como está vendo. não consigo misturar a prosa com a poesia (como você faz!).

o pasolini, nos anos 60, inventou um negócio chamado cinema de poesia, que ele contrapunha ao que ele chamava de cinema de prosa. o tal cinema de poesia que ele fazia é um soco no estômago, um cinema de cores vivas (mesmo quando em preto e branco), repleto de jogos de linguagem e de situações mitopoéticas que reconfiguram o sentido da palavra “poesia”. um cinema exuberante, difícil e indigesto mesmo hoje, quando já se passaram 32 anos de sua morte.

sobre ginsberg, tenho apenas uma lenda, que já diz tudo: certa vez, numa entrevista ao vivo para a televisão, o repórter perguntou a ele: “para você o que é a poesia?” e ele, suscinto: “nudez”. o entrevistador, não satisfeito com a resposta então perguntou: “e o que é nudez?” ginsberg tirou a roupa.

Não, mas sim – artigo de Juan Gelman

Segue o artigo “No, pero sí”, de juan gelman, publicado na “bitácora” No dia 1º de março deste ano. Traduzi especialmente para este abril babel. Enjoy it!

Não, porém sim
Juan Gelman

Washington e Moscou não se cansam de proclamar que a Guerra Fria não voltou. Talvez. O certo é que no plano militar, agem como se tivesse voltado. A Casa Branca insiste em instalar parte de seu escudo antimísseis mundial na Polônia e na República Tcheca. O Kremlin, avisou que, se isso ocorre, suspenderá sua participação no tratado de limitação das forças armadas convencionais e, mais grave ainda, apontará seus mísseis contra essas duas nações. E a população civil? Bem, obrigado. A lógica das grandes potências não só é peculiar, é nuclear. Lembremos a teoria de Huxley: o progresso tecnológico só nos deu meios mais eficientes de avançar para trás.

É notório que os EUA procurem impor ao planeta o seu domínio mediante o uso ou a ameaça da força, incorporando a seu empenho as ex repúblicas soviéticas. Esta concepção unipolar choca com uma realidade: a Rússia, embora debilitada, recompôs sua economia depois de Yeltsin e continua possuindo um considerável arsenal nuclear e um vasto território, para não falar de um manejo político de suas reservas de petróleo e gás natural que obstaculiza o avanço norte-americano nos países que já dependeram da URSS. A instalação do escudo anti-mísseis na Europa central persegue obviamente o objetivo de intimidar Moscou sob pretexto de que serviria para detectar e destruir presumíveis mísseis de cabeça nuclear que o Irã não tem. Continue lendo Não, mas sim – artigo de Juan Gelman

WTC BABEL S. A. – Projeto Manhattan

einstein e oppenheimerno dia 02 de agosto de 1939, albert einstein, então residente nos estados unidos da américa, envia uma carta ao presidente f. d. roosevelt, anunciando o avanço das pesquisas com o urânio na alemanha. einstein, que conhecia na pele a situação em que a alemanha nazista se encontrava naquele início de segunda guerra mundial, avisa que é de extrema urgência uma atitude do governo norteamericano no sentido de investir, a toda pressa, esforços para que a alemanha não se tornasse dona de tal tecnologia, instando-o a desenvolvê-la nos EUA.

roosevelt seguiu o conselho. criou um projeto que foi desenvolvido especialmente em quatro cidades: washington, hanford, los alamos e oak ridge. para manter em segredo, porém, ganhou um nome insuspeito e aparentemente ingênuo, um nome profético: manhattan project.

carta de albert einstein ao presidente f. d. rooseveltcarta de albert einstein ao presidente f. d. roosevelt (2)manhattanbomba atômica sobre nagazaki

WTC BABEL S. A. – J. Robert Oppenheimer

em julho de 1945, a segunda guerra mundial já havia chegado ao seu fim. apenas o japão insistia em seus ataques no oceano pacífico. uma equipe de cientistas norte-americanos, liderada por j. robert oppenheimer, seguia para o alabama para aquilo que seria o teste final da bomba atômica.pouco tempo depois, com um ar misterioso e sinistro, o inquieto cientista, ainda sob efeito do teste, deu uma entrevista para a televisão. e disse as seguintes palavras:

soubemos que o mundo não seria mais o mesmo. algumas pessoas riram, algumas choraram, a maioria ficou calada. eu me lembrei do verso da escritura hindu, o bhagavad-gita. krishna está tentando persuadir o príncipe de que ele precisa deixar suas dúvidas e para impressioná-lo, ele toma sua forma de múltiplos braços e diz: “agora, eu me transformo em morte, o destruidor de mundos”. suponho que todos nosso pensamos isto de um jeito ou de outro.

Anotações para WTC BABEL S. A.

Eu sou aquele que transforma-se em morte
O destruidor de mundos
A rosa de Oppenheimer no Oceano Pacífico
O azul de metileno que brota do inesperado
como a salvação da terra

Os múltiplos braços de Krishna
manejando a roda da fortuna
Eu sou o oceano pacífico
O inimigo número um

(Manhattan Project is the name of a prophetic poem
by F. D. Roosevelt 1942
the shadow of General Yamamoto)

Eu sou o calo no seu sapato
Aquele que transforma-se em Ato
para destruir seus sonhos de burguês
Eu sou a própria morte lambendo os beiços em nome do deus
numa imensa mobilização de símbolos
Águias Lobos Uivos e Coyotes

Eu sou a sua estrada aberta
WTC Babel Sonho Americano
Eu sou o seu beco sem saída
A sua estrela guia o seu sono insano

Linda como um sol poente clara como o Ramadam
ó filhas do Sol Nascente
Do centésimo décimo andar eu sigo sempre atenta
Que os Demônios sempre descem do norte
Eu sou o destruidor de mundos
Aquele que transforma-se em morte