Um poema

LÂCHER PRISE

soltar o sol
soltar o ar
soltar o aro
o dedo a solda
soltar o que não volta
soltar o que não vai
soltar para deixar ir
soltar o que te assalta
soltar o salto
o assalto

desatar
abrir os dedos
deixar que o tempo faça
seu labor
largar os medos
esperar sem esperanças
que um dia as máscaras
dessas caras descaradas
caiam das caras
deixar
não abandonar
apenas
deixar
que as penas da ave caiam
e nasçam outras
em seu lugar

deixar
a vida em seu ritmo
deixar o que não se pode
por esforço de agarrar
mudar

deixar sem largar
deixar
amorosamente deixar
deixar como quem olha o curso
de um rio
de um rio que se esvai
quer se queira quer não
parar as mãos em concha
lavar-se quando a água estiver límpida
deixar passar quando a maré
não for lugar onde se banhar
olhar o brilho do sol sobre a superfície
apenas olhar
o sol que se crispa
por sobre todas as coisas
líquidas e que não deixarão nunca
de passar

(novembro, 2018)

[Leo Gonçalves]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.