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carta de alforria

(letra para um possível samba)

quando você foi embora
eu não chorava eu não chorava
eu sorria, ai meu bem, eu só ria
quando você foi embora
eu sorria eu só sorria
quando você foi embora
foi carta de alforria

fiz um pacto de sangue com a liberdade
de agora em diante
só me deixo prender o coração
se for numa fina fita de brilhante

eu vou me mandar daqui
quero morar na casa felicidade
no barraco da filosofia
eu quero viver de verdade
quero curtir a minha carta de alforria
antes que seja tarde

quando você foi embora
eu não chorava eu não chorava
eu sorria, ai meu bem, eu só ria
quando você foi embora
eu sorria eu só sorria
quando você foi embora
foi carta de alforria

andityas soares de moura numa vídeo-conferência sobre juan gelman

aí está o meu parceiro e comparsa numa vídeo conferência sobre um de nossos poetas favoritos. o vídeo tem 57 minutos e a conferência é realmente muito instrutiva. vale a pena conferir.

o evento fez parte da série panorama arte e cultura, que é promovida juntamente com a diretoria de arte e cultura da puc minas. o projeto biblioteca digital multimídia é uma parceria da puc minas com o instituto embratel 21 e cerca de outras dez instituições universitárias e culturais. a transmissão foi feita através do portal do conhecimento, com direção e apresentação do professor haroldo marques.

a ditadura militar acabou ou não?

uma cena que não sai na imprensa: um menino de dezesseis anos pega o ônibus para sua casa na periferia de belo horizonte. acontece uma batida policial no meio do caminho. confusão e tiros. um cidadão é atingido. o garoto corre para socorrer e os policiais assustados não querem deixar. o menino nervoso começa a gritar, a insultar. um dos policiais decide: desacato à autoridade. e desce a porrada no menor de idade. assim. em público. na frente de todo mundo. em casa, horas mais tarde, o garoto ouve um sermão da mãe. algumas pessoas dizem que é necessário denunciar, mas a família acha que “essas coisas acontecem”, que é melhor “deixar na mão de deus”.

na verdade, fazendo um diagnóstico, o que deixa a gente revoltado diante dessa situação é que no fundo no fundo, todos estão morrendo de medo. o policial não sabe em quem ele bateu, o garoto não pode denunciar porque a polícia pode ameaçar a família, a família quer entregar nas mãos de deus para não continuar tendo problemas com ninguém, nem com a lei da favela, nem com a do governo. e a revolta só sobe de nível, enquanto quem manda no brasil é uma deusa chamada apatia. até quando, isso é o que eu não sei.

quanto custam os seus sonhos?

para completar minha revolta, meu computador voltou a botar aquele recadinho assim: “seu computador pode estar em risco: você está utilizando uma versão não autorizada do windows.” através da internet, a microsoft entra no seu computador e faz a inspeção para saber se você está usando uma versão pirata ou não. mas no seu aparelho, você coloca: sonhos, desejos, planos, planilhas, organizações, cartas de amor e cartas a você mesmo, paixões, projetos. de certa forma, a sua vida está lá dentro. o risco de que fala aquele recadinho da microsoft é o de ela vir e apagar os seus sonhos como se fosse o vento sobre a areia. já estou substituindo o word pelo writer do open office (o programa é muito mais inteligente e não faz nenhuma chantagem, pelo contrário, me incentiva a colaborar). como meu aparelho é usado por toda a minha família (ao todo 7 pessoas), ainda não tive a coragem de chutar o balde e passar para o ubuntu, como fez a lenise, mas farei isso em breve. paciência tem limites. (para quem não sabe, o ubuntu é um sistema operacional que substitui o windows – e, diga-se de passagem, mais inteligente e colaborativo, também). detalhe para quem leu a mensagem abaixo: o open office (a versão brasileira se chama br office) já transforma o arquivo de word, jpg, excel e tudo mais em pdf, se vc precisar. sem choro nem vela.

um poema de william burroughs

dia de ação de graças, 28 de novembro de 1986

agradeço pelo peru selvagem e os pombos passageiros, destinados a virar merda nas saudáveis tripas americanas.

agradeço por um continente a espoliar e envenenar.

agradeço pelos índios por garantirem uma módica dose de desafio e perigo.

agradeço pelas vastas manadas de bisões para matar e depelar e depois deixar as suas carcaças à putrefação.

agradeço pelos troféus de caça de lobos e coiotes.

agradeço pelo sonho americano, por inventar lorotas até que elas brilhem à luz do dia.

agradeço pela klu klux klan. aos policiais que matam negros e os contabilizam. às decentes beatas de igreja com suas mesquinhas, interesseiras, feias e perversas caras.

agradeço pelos adesivos de “mate uma bicha em nome de jesus cristo.

agradeço pela aids de laboratório.

agradeço pela proibição e pela guerra contra as drogas.

agradeço por um país onde a ninguém é permitido cuidar da seus próprios problemas.

agradeço por uma nação de dedos-duros.

agradeço, sim, todas as lembranças – ok, deixa eu ver o que você tem nas mãos!

você foi sempre uma dor de cabeça e uma encheção de saco.

agradeço pela última e maior traição do último e maior sonho dos sonhos humanos.

(tradução de leo gonçalves)

deixo o original (Thanksgiving Day Nov. 28, 1986) no vídeo de gus van sant

revista zunái

está no ar a versão virtual da revista zunái (www.revistazunai.com.br) que é comandada por claudio daniel e rodrigo de souza leão, além do projeto gráfico de ana peluso e um conselho editorial de peso. este número, como sempre muito bonito, tem sua iconografia baseada em reproduções do acervo do museu de cabul (afeganistão), destruído em 2002 por milicianos do talebã, e também de objetos saqueados no iraque, durante a segunda guerra do golfo. não podia calhar melhor nas vésperas do 11 de setembro.

um artigo de juan gelman

assim começa o mais recente artigo (“avaliações”) da bitácora de juan gelman. trata-se de uma questão que tem estado na ponta da minha língua e que me leva a pensar nos meus preparativos para o 11 de setembro que vem (para ler o artigo na íntegra, clique aqui):

Mais de cem especialistas norte-americanos em política internacional consideram que, desde a ocupação do Iraque, o mundo se tornou mais perigoso, a estratégia de segurança nacional descarrilou e a própria guerra carece de bússola. Assim o manifesta a maioria dos analistas mais respeitados do país no terceiro “Índice do terrorismo”, o informe semestral de uma consulta que o Centro para o Progresso Estadunidense e a revista Foreign Policy (www.americanprogress.org, 20-8-2007) realizam. A opinião – tanto de democratas como de republicanos – é de chefes militares, ex-secretários de Estados, assistentes de hierarquia da Casa Branca, conselheiros presidenciais de segurança nacional, acadêmicos prestigiosos e agentes do alto escalão dos serviços de inteligência. 80% ocuparam cargos no governo dos EUA – mais da metade no Poder Executivo – 32% nas forças armadas e 21% na chamada comunidade de inteligência. Seus julgamentos em nada coincidem com o otimismo de W. Bush.