Arquivo da tag: outra imprensa

prêmio governo de minas gerais de literatura

a moda parece estar pegando. e é saudável: finalmente, os órgãos que se pretendem incentivadores da produção literária perceberam que não adianta ficar fazendo concursinhos de colégio. é o caso do ambicioso “prêmio governo de minas gerais de literatura”, lançado no último dia 10. com este programa, o governo estadual institui o que ele mesmo proclama ser “o maior prêmio nacional de literatura”. com diretrizes bem definidas, serão premiados escritores nas áreas de poesia, ficção e jovem escritor mineiro, além da premiação para o conjunto da obra de um escritor já de renome no cenário nacional (o maior valor será para esta categoria).

os pontos negativos (não poderia deixar de haver) são, obviamente, a escassa quantidade de prêmios (um apenas para cada categoria) e a obscuridade já prenunciada no processo de seleção. repare: com tão poucas premiações, fica fácil imaginar que os poetas e escritores, já tão acostumados à política do “às próprias custas s. a.”, ficam bem desincentivados de participar.

Continue lendo prêmio governo de minas gerais de literatura

zé celso & os sertões no rio de janeiro

há mais ou menos um ano atrás, eu e patrícia assistimos à primeira apresentação integral da peça “os sertões” do grupo oficina uzyna uzona, comandado por zé celso martinez corrêa. trata-se de uma obra monumental, apresentada em cinco dias, com cerca de 5h por apresentação. a epopéia de euclides da cunha, em cena, se divide em “a terra”, “o homem I – do pré homem à revolta”, “o homem II – da revolta ao trans-homem”, “a luta I” e “a luta II”. 25 horas de teatro em alta voltagem. poesia, ritual, música, oficina de humanizar. a peça marca para mim uma verdadeira mudança de paradigma. mudança de rumos. último capítulo de uma longa história que começou no dia em que comecei a gostar de arte. última fase da última limpeza que fiz nas minhas “portas da percepção”. assisti à peça depois de haver escrito “uma festa bacana”, poema que traz muitos elementos da peça, assim como uma prosa delirante e inédita que somente a minha namorada conhece, e que li para ela no última madrugada da nossa estada em são paulo, de 25 para 26 de setembro de 2007, logo após assistirmos “a luta 2”. a peça de zé celso me corroborou.

assim como outras peças do oficina, “os sertões” é um capítulo da luta que o grupo trava contra o grupo sílvio santos (ss) há 25 anos. “as bacantes”, “boca de ouro”, “ham-let”. isto porque o teatro está construído exatamente no lugar onde sílvio santos planeja construir um imenso shopping center. uma história sórdida que está documentada no site do oficina e que merece ser acompanhada na íntegra. uma guerra de davi e golias, a velha guerra entre arte e capitalismo.

numa entrevista à revista folhetim, zé celso comenta:

“o teatro oficina é uma coisa muito estranha porque não é mais nem uma metáfora: eu comecei não querendo entregar o teatro, quando voltei do exílio, por uma questão até de birra, porque saí de lá à força, com a polícia invadindo etc. e de repente, eu me vi pensando: “não, eu podia fazer exatamente tudo que eu faço em outro lugar, como posso fazer todas as peças que faço noutro lugar, mas, se eu fizer nesse lugar, eu vou ter mais problemas e, conseqüentemente, esses problemas vão me inspirar mais, porque se trata realmente de ver até que ponto existe um poder na cultura e na arte e qual é o confronto que elas estabelecem com as forças reais da sociedade, até que ponto o teatro tem algum poder.”

agora, no princípio de outubro, a peça “os sertões” se apresenta mais uma vez na íntegra. desta vez, no rio de janeiro, depois de ter passado pelo recife e salvador em uma mini-turnê (que infelizmente não inclui belorizontem) a obra se insere na programação da 8º riocenacontemporânea.

para mais informações:

www.riocenacontemporanea.com.br
www.teatroficina.com.br

negras imagens em movimento

por Regina Barbosa da Silva

Difundir a cultura negra brasileira e promover reflexões sobre as relações étnico-raciais no Brasil por meio de vídeos e filmes. Esse é o objetivo do “Projeto Negras Imagens em Movimento – Espaço Cultural Palmares: Cultura e Ações Afirmativas na UFMG”, resultado de uma proposta feita pela Fundação Cultural Palmares ao Programa Ações Afirmativas na UFMG (veja Box). O trabalho, voltado para comunidades periféricas de Belo Horizonte e arredores, é realizado onde os membros do projeto já mantêm algum contato ou onde são convidados a levar as mostras. A idéia é articular a exibição dos filmes com a realidade das comunidades e com as atividades culturais que elas realizam. Para isso, a equipe faz visitas aos locais, levanta dados sobre os grupos e os movimentos sociais existentes, bem como dos problemas e das questões colocadas pelos moradores.

matéria escrita para o site “tubo de ensaio” da faculdade comunicação (fafich). para lê-la na íntegra, clique aqui.

com a palavra, o excelentíssimo senador renan calheiros

minha absolvição pelo plenário do senado é uma vitória da democracia brasileira. uma vitória de todos os que continuam acreditando na verdade e no sentido de justiça; uma vitória do senado, que comprovou, através do voto, sua isenção e responsabilidade.

(acho que isto merece resposta. no site dele tem uma sessão fale com renan. sugiro a todos que entrem lá e falem com ele, então: www.falecomrenan.com.br)

monopólio da microsoft gera a maior multa da história

o tribunal de primeira instância da união européia respaldou a maior parte da decisão da comissão européia (CE) de punir a microsoft por abusar de sua posição de domínio e confirmou a histórica multa de US$ 690,3 milhões (497,2 milhões de euros) imposta ao gigante da informática. a corte havia condenado a Microsoft em 2004 por aproveitar-se do monopólio de seu sistema operacional windows para expulsar do mercado outros concorrentes, e que, além disso, não forneceu as informações necessárias para fabricar produtos compatíveis com seu sistema. o departamento de justiça dos EUA disse, por sua vez, que está “preocupado” sobre a decisão “unilateral” da corte de primeira instância contra a microsoft, afirmando que “isso pode prejudicar consumidores e desencorajar a inovação”.

(para ler mais, clique aqui: FDsP)

a ditadura militar acabou ou não?

uma cena que não sai na imprensa: um menino de dezesseis anos pega o ônibus para sua casa na periferia de belo horizonte. acontece uma batida policial no meio do caminho. confusão e tiros. um cidadão é atingido. o garoto corre para socorrer e os policiais assustados não querem deixar. o menino nervoso começa a gritar, a insultar. um dos policiais decide: desacato à autoridade. e desce a porrada no menor de idade. assim. em público. na frente de todo mundo. em casa, horas mais tarde, o garoto ouve um sermão da mãe. algumas pessoas dizem que é necessário denunciar, mas a família acha que “essas coisas acontecem”, que é melhor “deixar na mão de deus”.

na verdade, fazendo um diagnóstico, o que deixa a gente revoltado diante dessa situação é que no fundo no fundo, todos estão morrendo de medo. o policial não sabe em quem ele bateu, o garoto não pode denunciar porque a polícia pode ameaçar a família, a família quer entregar nas mãos de deus para não continuar tendo problemas com ninguém, nem com a lei da favela, nem com a do governo. e a revolta só sobe de nível, enquanto quem manda no brasil é uma deusa chamada apatia. até quando, isso é o que eu não sei.

um artigo de juan gelman

assim começa o mais recente artigo (“avaliações”) da bitácora de juan gelman. trata-se de uma questão que tem estado na ponta da minha língua e que me leva a pensar nos meus preparativos para o 11 de setembro que vem (para ler o artigo na íntegra, clique aqui):

Mais de cem especialistas norte-americanos em política internacional consideram que, desde a ocupação do Iraque, o mundo se tornou mais perigoso, a estratégia de segurança nacional descarrilou e a própria guerra carece de bússola. Assim o manifesta a maioria dos analistas mais respeitados do país no terceiro “Índice do terrorismo”, o informe semestral de uma consulta que o Centro para o Progresso Estadunidense e a revista Foreign Policy (www.americanprogress.org, 20-8-2007) realizam. A opinião – tanto de democratas como de republicanos – é de chefes militares, ex-secretários de Estados, assistentes de hierarquia da Casa Branca, conselheiros presidenciais de segurança nacional, acadêmicos prestigiosos e agentes do alto escalão dos serviços de inteligência. 80% ocuparam cargos no governo dos EUA – mais da metade no Poder Executivo – 32% nas forças armadas e 21% na chamada comunidade de inteligência. Seus julgamentos em nada coincidem com o otimismo de W. Bush.

notas sobre a realidade

podem dizer o que quiserem, aconteça o que acontecer, a realidade vai continuar sendo o maior enigma da humanidade. por isso, nunca entendo bem o que querem dizer quando falam “cai na real!” ou o famigerado “sejamos realistas!”

daí fui procurar uma meia dúzia de escritores pra tentar entender melhor. encontrei o cioran, que diz: “somente um monstro pode se permitir o luxo de ver as coisas tais como são. mas uma coletividade só subsiste na medida em que cria para si ficções”.

o julio cortázar falou numa entrevista que é completamente apaixonado pela realidade, e isso é bastante significativo, em se tratando da fala de um cronópio. allen ginsberg achava que os seus escritos eram “sanduíches de realidades” e que ninguém estranhe o uso de alucinógenos para se enxergar melhor o tal do mundo, pois um sujeito que se achava mais sério já tinha tentado isso antes, o walter benjamin.

camille paglia, a contro(di)vertida filósofa norteamericana faz dessas palavras de george eliot as suas: “se tivéssemos uma aguda visão e sensação de toda vida humana comum, seria como ouvir a relva crescer e o coração do esquilo bater, e morreríamos desse rugido que está do outro lado do silêncio. na verdade, mesmo os mais rápidos de nós andam por aí bem acolchoados de bastante estupidez”.

será por isso que shakespeare acha que “há mais coisas entre o céu e a terra do que vossa vã filosofia possa imaginar”? e o t.s.eliot, aquele inglês americano, em seu primeiro dos quatro quartetos acrescenta:

“vai vai vai disse o pássaro

o gênero humano não pode suportar

tanta realidade”

será que ele está falando da mesma coisa que a sua xará de sobrenome?

eu ouvi dizer que o freud, o nietzsche e o marx fizeram uma teorias bastante engenhosas sobre o assunto. se ninguém tivesse falado em realismo, ninguém falaria em surrealismo nem em realismo fantástico e nem em realismo mágico.

tudo bem, mas aqui no brasil, realidade quer dizer (pode perguntar para o senso comum) “aquilo que se lê nos jornais. e alguns se crêem informados sobre a “realidade” quando se dizem pessimistas ou mesmo quando falam de política.

mas o jogo da imprensa é tão ridículo como qualquer novela da globo: sem querer, ou às vezes querendo, a imprensa canoniza idéias mal-formuladas que se tornam grandes preconceitos para o populacho. populacho que, aliás, não está quase nunca preparado para assimilar conceitos, mas quase sempre está em ponto de bala para proferi-los como quem sabe da “realidade” (afinal, eu leio a veja toda semana)

dizem que a poesia é delírio. mas em meados do século xx, em lugares mais precários do nordeste onde não chegava a imprensa escrita (ou o povo não sabia ler) e mesmo o rádio só chegava cheio de chiado, ninguém acreditava em nada enquanto não vinha o cordelista com a sua rabeca e versejava as notícias tintim por tintim.

o conceito de realidade está muito ligado a seus inversos: ficção (que é a vida) e auto-engano. e eis que aparece eduardo giannetti dizendo “só engana a si mesmo quem não quer fazer isso.” e é por esse meio que acabamos por nos esquecermos de que a origem da incapacidade brasileira para falar de política não está na decepção, como supõe a maioria, mas por causa do medo (essa droga pesada): “se cumpade fala mau do patrão, o patrão vem e ouve e mata, sô!”

e assim a teoria da realidade acaba por engolir o próprio rabo, nos colocando de novo e sempre diante das velhas questões: o que é? quem é? como é? de onde emana? para que serve? somos nefelibatas então? é esse o enigma? a realidade é o jardim dos sendeiros que se bifurcam?