Céu inteiro é o livro de constelações lançado por Ricardo Aleixo em novembro do ano passado. Terceira publicação da coleção Elixir, edição primorosa lançada com os auspícios de Flávio Vingoli e impressa na gráfica do Matias. Céu inteiro já é, com certeza, uma raridade e eu tenho a sorte de ter nas minhas mãos o meu exemplar autografado.
Ricardo avisa na introdução: “Este pequeno conjunto de lipogramas que compus ao longo de 2007 foi desentranhado de um projeto mais amplo, intitulado Modelos Vivos“. Diz também que este será lançado em breve. Não conheço ainda os Modelos. Tampouco sei o que são lipogramas. Sei que Céu Inteiro é um livro de constelações. E constelações para quê servem? Ora, para ver os signos.
Constelações tipográficas nos remetem imediatamente a Stéphane Mallarmé, que, às vésperas da era do offset (finais do século XIX), se esforçava para não “presumir o futuro” que daquelas esletras sairia. Um lance de dados jamais aboliria o acaso. Hoje, em plena era digital, época em que poucos tipógrafos se dão o trabalho de compor um livro, publicar algo nesses moldes é um desafio. No futuro de Mallarmé, a visualidade é um ruidoso mundo que já não depende de tintas.
Mas o Ric não cai no concretismo fácil, como é ampla tendência, de mestre a aprendiz, na poesia brasileira. Esse Céu é diversão garantida para leitores aficionados por nuances sígnicas, apelos de todo tipo à senso/rialidade do ouvido livre. Um céu inteiro em a – e – i – o – u. Festas: frestas. Onde a orelha fala e a boca escuta (como queria Valéry). Onde cada mínimo sinal ou signo minimal te acena com jorros de plurissignância. Vale a pena seguir a sugestão de “estraçalhar o tempo” para desfrutar.