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hoje na tv ponto com

léopold sédar senghor lendo seus poemascomo vocês já sabem, hoje às 15h estarei participando da vídeo-conferência “negritude, magia e política: a poesia de léopold sédar senghor”. quem quiser assistir, basta clicar neste link:

http://200.244.52.177/embratel/main/mediaview/tvpontocom

quando abrir a página, é só clicar em “assistir agora” e voilà. espero não decepcionar a ninguém (a mim principalmente).

mas enquanto ainda não é hora, e o computador vai se preparando para abrir o player, segue um poema curtinho de senghor para irmos nos distraindo:

furador de atabaque

homem sinistro,
bico de aço,
furador de alegria,
tenho armas seguras.

minhas palavras de sílex, duras e cortantes
te acertarão;
minha dança e minha risada, dinamite delirante,
explodirão
como bombas.

eu te abaterei,
corvo negro,
furador de atabaque
matador de vida.

(trad.: leo gonçalves)

perceur de tam-tam

homme sinistre,/bec d’acier,/perceur de joie,/j’ai des armes sûres.//mes paroles de sílex, dures et tranchantes/te frapperont;/ma danse et mon rire, dynamite délirante,/éclateront/comme des bombes.//je t’abattrai,/corbeau noir,/perceur de tam-tam/tueur de vie.

revista roda para baixar

revista roda número 1desde o último fan (festival de arte negra), a revista roda passou a estar disponível para ser baixada. aliás, os leitores mais atentos, que fuçaram aí nos cantinhos do salamalandro, já a encontraram.

com uma equipe de arrasar, editada por ricardo aleixo e com projeto gráfico do bruno brum, a revista roda foi um dos melhores acontecimentos impressos dos últimos anos em bh. com um conjunto de informações riquíssimo, abrindo caminho para quem quiser conhecer bons artistas. que aliás acabam obscurecidos pela cor da pele ou pela falta de acesso a grandes meios. cada beiradinha da revista merece ser lida com cuidado.

no número 1, colaborei com algumas traduções de senghor e quem quiser baixar é só clicar aqui :

http://www.fanbh.com.br/donwloads/revista-roda/RODA_01.pdf

os outros números também se encontram disponíveis no seguinte endereço :

http://www.fanbh.com.br/index.php?secao=0&lng=pt&n1=fan&n2=revistaroda

vídeo-conferência sobre léopold sédar senghor

vídeo-conferência sobre léopold sédar senghor

O poeta e tradutor Leonardo Gonçalves apresenta a vídeo conferência
“Negritude, magia e política: a poesia de Léopold Sédar Senghor”

O poeta e tradutor Leonardo Gonçalves apresenta, no dia 12 de março de 2008, às 15h, a vídeo-conferência entitulada: “Negritude Magia e Política: A Poesia de Léopold Sedar Senghor”. A vídeo-conferência será exibida ao vivo pela internet no site: http://200.244.52.177/embratel/main/mediaview/tvpontocom. O evento fará parte da Série Panorama Arte e Cultura, que é promovida juntamente com a Diretoria de Arte e Cultura da PUC Minas. O Projeto Biblioteca Digital Multimídia é uma parceria da PUC Minas com o Instituto Embratel 21 e cerca de outras dez instituições universitárias e culturais. A transmissão será através do Portal do Conhecimento, com direção e apresentação do Professor Haroldo Marques.

A obra de Léopold Sédar Senghor, embora pouco conhecida no Brasil, é uma das experiências mais instigantes da poesia do século XX. Produzida numa região conflituosa da linguagem, sua poesia soma diferenças que vão do rítmico-sonoro ao lingüístico-cultural (tratando de temas como a pele negra, a tradição africana dos ancestrais ou a participação dos senegaleses na segunda guerra mundial). A poesia de Senghor é uma somatória africana de paixões eletrizantes em face de um mundo frio e excludente. Senghor, amante das diferenças, foi também um ardoroso defensor de conceitos como “negritude”, “francofonia” e “civilização do universal”. Tratava-se, já, da defesa de culturas mais fragilizadas em meio ao mundo que se globalizava. Numa entrevista concedida no final dos anos 1970, ele propunha “uma civilização do Universal pela diferença e na diferença”. É o que se vê desde o princípio em sua escrita. Continue lendo vídeo-conferência sobre léopold sédar senghor

Um poema de Léopold Sédar Senghor

Eu imagino ou sonho de menina

Eu imagino que tu estás aqui
Há o sol
E este pássaro perdido de cantar
Tão estranho.
Diríamos uma tarde de verão
Clara. Sinto que vou ficando tola, tão tola
Tenho imenso desejo de me deitar no feno,
Com manchas de sol sobre a pele nua
Asas de borboleta em largas pétalas
E toda espécie de insetos do planeta
Ao meu redor

*

Je m’imagine (Rêve de jeune fille)

Je m’imagine que tu es là.
Il y a le soleil
Et cet oiseau perdu au chant
Si étrange.
On dirait une après-midi d’été,
Claire. Je me sens devenir sotte, très sotte.
J’ai grand désir ‘être couchée dans les foins,
Avec des taches de soleil sur ma peau nue,
Des ailes de papillons en larges pétales
Et toutes sortes de petites bêtes de la terre
Autour de moi.

semana cultural do senegal

chico césar já dizia: ser negão no senegal deve ser legal!

bem, na semana que vem começa a semana cultural do senegal. o evento acontece no centro cultural ufmg, de segunda a sexta com programação intensa. haverá uma comemoração do centenário de cimento do poeta e estadista léopold sédar senghor. o salamalandro se apresenta na segunda no sarau de abertura. e na terça, participa de uma mesa redonda sobre a vida e a obra desse poeta excepcional, criador de muita coisa bacana no século xx. além disso, a casa áfrica comemora os 25 anos da mazza edições. confira a programação:

De 22 a 26 de maio

Centenário de Nascimento Léopold Sédar Senghor & 25 anos Mazza Edições

Local: Centro Cultural da UFMG (av. Santos Dumont, 174, centro, BH)

DIA 22/05 – SEGUNDA-FEIRA19 h – Abertura Oficial da Semana e da exposição “Os Dentes do Leão e o Sorriso do Sábio” (Gueule du Lion et Sourire du Sage). Entrada franca.

20 h – Sarau poético em homenagem a Léopold Sédar Senghor, com os poetas e artistas Waldemar Euzébio, Benjamin Abras, Leonardo Gonçalves, Renato Negrão, Dóris Santos, Sérgio Fantini, Sérgio Pererê, Makely Ka, Grupo Poesia Hoje e a Orquestra de Berimbaus Capoeira Raízes. Entrada Franca

DIA 23/05 – TERÇA-FEIRA10h – Palestra Hora do Griot para as escolas , com Ibrahima Gaye (Economista/ Universidade Cheikh Anta Diop–Senegal / Fundador Centro Cultural Casa África). – Inscrições de grupos infanto-juvenis pelo telefone (31) 2127-0301 / 3344-1803. Entrada Franca

15h – Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye.

16h – Mostra de Cinema Africano – Cine Casa África: A Negritude na Tela. Entrada franca

DIA 24/05 – QUARTA-FEIRA

10h – Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada franca

15h – Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada franca

16h – Mostra de Cinema Africano – Cine Casa África: A Negritude na Tela. Entrada franca

DIA 25/05 – QUINTA-FEIRA

10h – Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada franca

11h30 a 13h – Palestra A Representação do Conto e do Mito na Organização Educacional Senegalesa – Uma Leitura do Conto L´Os de Mor Lam, do poeta-contista senegalês Birago Diop com o prof. Amadou Abdoulaye Diop. Entrada franca

15h – Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada Franca

16h – Mostra de Cinema Africano – Cine Casa África: A Negritude na Tela. Entrada franca

19h – Lançamentos Mazza Edições 25 Anos: Coleção Olerê, com o livro “O Congado para Crianças” (Edimilson de Almeida Pereira/Ilustração: Rubem Filho); a Coleção Griot Mirim, com “Koumba e o Tambor Diambê” (Madu Costa/Ilustração: Rubem Filho), “Meninas Negras” (Madu Costa/Ilustração: Rubem Filho) e “Que Cor é a Minha Cor?” (Martha Rodrigues/Ilustração: Rubem Filho), e os livros “Becos da Memória” (Conceição Evaristo) e “A Fuzarca de Noé” (Ronaldo Simões Coelho/Ilustrações: Rubem Filho). Entrada Franca

DIA 26/05 – SEXTA-FEIRA

12h30 – Projeto 12:30 com a Companhia Baobá de Arte Afro-brasileira. Entrada franca

SEMINÁRIO: Leopold Sedar Senghor + Pensamentos e Movimentos da Afro-Diáspora

Debates sobre vida, obra e influência de Senghor na afro-diáspora. Coordenação: Prof. Amadou Abdoulaye Diop (Doutorando em Literatura Comparada na UERJ) – Inscrições pelo telefone (31) 2127-0301 / 3344-1803. Entrada franca

23/05 – 19:30h – Mesa-Redonda 1: “Vida e Obra do Bardo e Imortal Léopold Sédar Senghor”Composição: George Souza Cardoso, Ousmane Sane (Mestre em Comunicação Social/UFMG) e Leonardo Gonçalves (Poeta e Tradutor da obra de Senghor). Marcos Cardoso

Mediador: Amadou Marcos Cardoso (Mestre em História/UFMG)

24/05 – 19:30h Mesa-Redonda 2: “A Negritude e Suas Representações no Espaço e no Tempo “Composição: Maria Mazarello (Editora, Mestre em Editoração e Comunicação Visual pela Universidade Paris 13/França), Benilda Regina Brito (Psicopedagoga, Gerente de Educação Regional Norte de Belo Horizonte e Coordenadora da ONG Nzinga) e Eurico Josué Ngunga (Doutorando em Antropologia – IUEA/EUA).

Mediador: Amadou Abdoulaye Diop.

25/05 – 19:30h – Mesa-Redonda 3: “Senghor e a Crítica Literária”

Composição: Maria Nazareth Fonseca (Doutora em Literatura Comparada/UFMG), Íris Amâncio (Escritora, Doutora em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa/UFMG), Amadou Abdoulaye Diop e Ricardo Aleixo (Poeta, Escritor, Músico e Curador do Festival de Arte Negra – FAN).

Mediador: George Cardoso (pós-graduando em Estudos Africanos e Afro-brasileiros pela PUC Contagem e Diretor de Comunicação do Centro Cultural Casa África)

Minicurso História da África + Palestra sobre História do SenegalPeríodo: 23 a 26 de maio (terça a sexta-feira)

Professores senegaleses: Ousmane Sane (Mestre em Comunicação Social/UFMG) e El Hadji Diallo (Jornalista/Universidade Gama Filho – RJ)

Nº vagas: 30 alunos por turma

Turmas:

Manhã – Terça e quarta-feira – 9 às 13 horas; quinta e sexta-feira – 9 às 11 horas Tarde – Terça e quarta-feira – 15 às 19 horas; quinta e sexta-feira – 15 às 17 horas

Carga horária: 12 horasInvestimento: R$ 120,00 (inteira) e R$ 60,00 (Meia-entrada para universitários ou mediante doação de um livro de temática afro)

Inscrições pelo telefone (31) 2127-0301 / 3344-1803

7° Festa de Independência do Senegal

Sábado dia 03 de junho, a partir de 22h – Local: Gonguê

Ingressos antecipados: R$ 15,00 – Portaria: R$ 20,00Informações e vendas: (31) 2127-0301 / 3344-1803Informações: (31) 3344-1803 / 2127-0301 (Casa África) 3238-1078 / 3238-1079 (C.C. UFMG)

negritude césaire, negritude senghor

minha negritude não é uma pedra, sua surdez gritada contra o clamor do dia
minha negritude não é uma nódoa de água morta no olho morto da terra
minha negritude não é nem uma torre nem uma catedral
ela mergulha na carne rubra do chão
ela mergulha na carne ardente do céu
ela perfura o golpe opaco de sua destra paciência

aimé césaire – do cahier d’un retour au pays natal

**************************************

minha negritude não é sono da raça ela é sol do espírito, minha negritude é ver & viver
minha negritude é enxada na mão, lança em punho
recado. não é questão de beber de comer o instante que passa
azar se me enterneço sobre as rosas do cabo verde!
minha tarefa é a de despertar o meu povo aos futuros flamejantes
minha alegria de criar imagens para nutri-lo, oh luminosidades ritmadas da Palavra!

léopold sedar senghor – élegie des alizés

notas sobre a negritude

pode procurar por aí. o termo negritude é encontrado por toda parte. uma banda de pagode, um portal de web, uma linha fashion, coluna reservada para assuntos afro no jornal. poucos sabem que a palavra se espalhou por todo o mundo por causa de um movimento literário ocorrido nos anos 30, sob a tutela de três grandes escritores: aimé césaire, leon gontram damas e léopold sédar senghor.tudo começou assim: um jovem estudante estigmatizado pela cor da pele publica no jornal l’étudiant noir um artigo defendendo a beleza e o valor de sua ‘negritude’. uma atitude repleta de mandinga e de gingado, pois estava usando um termo pejorativo a seu próprio favor. quando léopold sédar senghor leu o artigo, ficou empolgadíssimo, pois ninguém conhecia melhor do que ele a nobreza do seu povo. sintetizou: ‘negritude: o conjunto dos valores de civilização do povo africano.’ o termo transformou-se num conceito. e léopold foi quem levou a expressão às suas mais profundas conseqüências.

senghor nasceu em 1906 e publicou muita poesia, muita pesquisa em diversas áreas (lingüística, antropologia, sociologia, teoria literária) entre os anos 30 e os anos 50. em 1960 recebeu uma proposta dos líderes políticos do senegal: que se tornasse o presidente do país. e com uma vantagem: poderia governar enquanto quisesse. entre 1961 e 1980, quando já era um grande intelectual e poeta, senghor se tornou um dos maiores estadistas que o mundo já conheceu. e qual era o primeiro e grande conceito teórico que o norteou como político? quem responder marxismo, leninismo, maoísmo, castrismo, estará perdendo tempo: o conceito mestre da política senghoriana se chamava ‘negritude’.

a essas alturas, a ‘negritude’ já havia se transformado e crescido a proporções fenomenais. o termo, com o tempo, deixou de ser a afirmação de uma raça pra ser a exaltação de uma postura universalizante. o africano está em toda parte. o conceito se desdobrou depois em ‘mestiçagem’, ainda com o caráter inicial de afirmação dos valores de um povo estigmatizado pela história, mas com ênfase cada vez maior na questão cultural. e já começavam a surgir na própria áfrica movimentos e manifestações que contestavam a ‘négritude’. é o que fez por exemplo wole soyinka, autor nigeriano, hoje prêmio nobel de literatura: “um tigre não precisa declarar sua tigritude, ele salta sobre a sua presa”. o que em todo caso não é senão, um desdobramento da idéia inicial, agora interiorizada no movimento do corpo.

homenagens

no mês de março deste ano, publiquei na revista roda – arte e cultura do atlântico negro uma série de 5 poemas bastante representativos de léopold sédar senghor. é que em 2006 o poeta completaria 100 anos. e não esteve longe de completar, pois faleceu há apenas cinco anos. na revista, os editores ainda lembram de um festival mundial de arte negra que aconteceu em 1966, sob a chancela do então presidente do senegal (este festival terá sua segunda edição no ano que vem em dakar). a publicação foi portanto uma das primeiras manifestações brasileiras em comemoração ao centenário do poeta. mas não acaba por aí. a casa áfrica está organizando a ‘semana de cultura do senegal’ que acontece entre os dias 22 e 29 de maio de 2006. na ocasião haverá sarau, exposição, mesas redondas e outras coisitas mais em homenagem a esse grande camarada senegalês. fiquem atentos.

algumas informações sobre a poesia do célebre desconhecido

no brasil, pouquíssima gente sabe da existência de senghor. embora seja considerado uma das mais lúcidas cabeças do século, e a par disso, um dos maiores poetas da língua francesa, o brasileiro não teve acesso ao pensamento e à poética dele. uma única edição de seus poemas apareceu em 1969 pela extinta grifo edições em tradução de gastão jacinto gomes. uma vasta amostra da lírica senghoriana, com apenas dois defeitos: a edição não é bilíngüe, e além disso lá só se encontram poemas escritos até 1969: como não houve edição posterior, nada foi acrescentado e a edição definitiva da oeuvre poétique apareceria somente em 1989 com duas séries de ótimos poemas escritos nos anos 70 (como é o caso da “elegia para a rainha de sabá”) e outra de “traduções” de poemas tradicionais africanos (cantos banto, peul, bambara…).portanto, falta muito ainda para oferecermos ao público brasileiro um panorama claro de sua obra.

outro ponto curioso é que sua poesia se insere numa tradição pouco explorada no brasil. nem mesmo o nosso cruz e sousa pode ser comparado com ele. a poesia dele é descendente direta de walt whitman e de paul claudel: versos longuíssimos, reflexões místico-cristãs, tradições, profecias e vozeirões (ao lado de flores da mais pura delicadeza:

pérolas

pérolas brancas
lentas goteletas
goteletas de leite fresco,
luzinhas fugitivas ao longo dos fios do telégrafo,
ao longo dos longos dias monótonos e grises!

a qual paraíso? a qual paraíso?
luzinhas primeiras da minha infância
jamais reencontrada…

perles

perles blanches,
lentes gouttelettes,
gouttelettes de lait frais,
clarets fugitives le long des fils télégraphiques,
le long des longs jours montones et gris!

à quel paradis? à quel paradis?
clartés premières de mon enfance
jamais retrouvée…)

pouquíssimas vezes se preocupa com a rima, jamais com a métrica. uma poesia que se irmana com o trabalho de neruda e saint john perse, cujos versos se aproximam da prosa.

ao mesmo tempo, a sua poesia é rica em sonoridades, aliterações, e principalmente, jogos visuais, fanopéia. como traduzir um verso como “l’ouragan arrache tout autour de moi”? g. j. gomes traduz assim: “o furacão tudo arranca ao meu redor”. há exatidão na imagem, mas o som do verso de cinco acentos sucessivos se perdeu. façamos mais uma tentativa vã: