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FOMEFORTE
e esse terror é a raiz de toda crueldade.”
(d.h.lawrence)
a dureza dos poemas é um contrapeso diante de uma coisa incerta que cerceia todo o “poemário”, a insegurança causadora de tensão. como o andityas é um poeta partidário da razão, dá uma puta tentação de enfileirá-lo na turma dos limpinhos e higiênicos poetas da minha geração (não vou citar nomes aqui). mas a verdade é que a poesia desse português das minas (lembrem-se da fama de barbacena torno aos hospícios) respira a uma vivacidade incomodante, misturada com o pedantismo próprio das línguas românicas. pensamento conciliador, o demônio das coisas concluídas e bem arranjadas, a voz dos ofendidos na guerra. vida atual. tempo atual. em cumplicidade com o tempo insistentemente obsoletizante, desobsoletizando-o. contra uma mera moral. a favor de outro tipo de bons costumes.
não é um poeta para escolinhas de adolescentes. não é nenhum partidário da certeza, como tantos. é um cara vivo e atento. antenas viradas para um outro lado sem o grande bocejo da vida dita “real”.
quem quiser encontrar as obras de a.s.m na internet, está fácil: OS enCANTOS e lentus in umbra estão disponíveis na web. leia os livros do andityas aqui.
à boa teta
teta nova, mais branca que ovo,
teta de cetim branco novo,
teta que faz a rosa corar,
teta de beleza sem par,
teta firme, não teta, enfim,
pequena esfera de marfim,
no meio da qual se fareja
uma framboesa ou uma cereja,
que ninguém vê, tampouco toca,
mas assim é descrita em doce fofoca.
teta, pois, da pontinha vermelha,
teta que sempre imóvel semelha,
no ir e vir de seu caminhar
ou para correr, ou para bailar.
teta esquerda, teta sozinha,
teta separada da sua irmãzinha,
teta que é grande homenagem
para o resto da personagem.
teta, que desperta em moço e ancião
um grão desejo lá dentro da mão:
de te provar, de te possuir.
mas é preciso refrear o sentir,
o achegar-se assim tem que ser,
senão outras vontades verás florescer.
ó teta nem grande nem pequena,
apetitosa, desenhada a bico-de-pena,
teta que noite e dia implora:
“casa-me, casa-me agora!”
felizardo, eis como se chamará
aquele que de leite de t’encherá
fazendo de teta de donzela
teta de mulher inteira e bela.
poema de clément marot (1496-1544) publicado em à boa teta [tradução de andityas soares de moura]. crisálida, 2005.