como adquirir
lancei o poema WTC BABEL S. A. no dia 19 de janeiro de 2009, com uma tiragem de apenas 100 exemplares. o projeto inicial era o de que o livro fosse apenas um dos suportes possíveis do poema. também pensei em fazê-lo como gravação em áudio, montá-lo num filme-colagem e, principalmente (o formato que me parece melhor), tudo isso ao mesmo tempo numa performance.
o evento inicial foi um acontecimento muito bom, revelador mesmo pra mim. o trabalho lançado em pleno mês de janeiro, com advertências de que as pessoas interessadas estariam de férias, na véspera de um acontecimento importante no cenário da política mundial (a posse de barack obama e o fim da era bush, que não deixa de ser, de certa forma, a era inaugurada lá na bomba atômica), tudo isso não atrapalhou o sucesso do evento, que contou com a minha performance e a exposição de uma parafernália inventada pela jéssica gonçalves.
desde então muita gente tem me procurado querendo saber como adquirir um exemplar. a notícia que tenho para dar é a de que não pretendo disponibilizá-lo tão cedo na internet. e que os interessados poderão ter o orgulho de fazer um módico investimento nas letras nacionais.
quem quiser adquirir o seu exemplar, poderá me escrever uma mensagem e eu responderei dando as coordenadas. o livro custa r$12,00. com mais a tarifa do correio, deve ficar em média uns r$13,50 pelo brasil afora.
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uma entrevista comigo mesmo sobre o poema WTC BABEL S. A.
o que deu em você para escrever sobre geo-política?
não escrevi sobre geo-política. meu poema é sobre a incomunicabilidade num mundo onde o capitalismo, com seus anúncios publicitários e os manipuladores meios de comunicação propagam o desentendimento, a superficialidade, o canibalismo psíquico. através de um mecanismo sutil, mantém-se milhões de seres humanos na condição de robozinhos de controle remoto.
não quero a geo-política. quero a geo-poética. devolver às palavras seu sentido integral, como queria confúcio.
mas nada disso importa. poesia é quando você precisa falar e não há outra forma de dizer aquilo que sentepensa, que feelthink. mesmo que o que você disse não diga nada.
você acha que as milhares de pessoas que morreram no wtc mereciam ter morrido ali? você é a favor daquele acontecimento?
alguém a não ser o george w. bush acha isso? se acha, é melhor vigiar essa pessoa. você conhece? é seu vizinho? toma cuidado…
no fundo no fundo todos querem alcançar o céu?
claro. é por isso que se constrói prédios. um andar em cima do outro até que um dia ele chega lá. deus não gosta muito disso. já tentou até confundir, certa vez, uma turma de pedreiros fazendo com que eles não se entendessem. cada um tenta à sua maneira. tem uns que querem o nirvana. tem quem queira o céu aqui. tem quem queira achar um atalho. mas no fundo no fundo, todo mundo. é o princípio do prazer, do freud. não venha me dizer que você não!
eu estava ouvindo sua gravação de wtc babel s. a. no myspace e fiquei confuso. no texto que acompanha o livro, maría josé pedraza heredia fala que o poema é para ser gritado. mas no myspace parece que é uma versão sem grito, bem descafeinada. como isso se dá?
o grito é dentro. “meu sertão é metafísico”.
você disse que esse poema já contém muito do seu projeto pessoal. mas é inevitável achar ali um fundinho de ginsberg e dos beats.
gosto muito da poesia de ginsberg, mais do que dos beats. e a pegada ginsberguiana combina com o tema, não acha? em realidade, acho o wtc babel s. a. muito diferente de tudo o que ginsberg faz, com outro ponto de vista e outro tipo de rebeldia. mas me orgulho da referência. aliás, não só ginsberg, mas muitos outros poetas são homenageados e reverenciados no meu poema. a começar por walt whitman, que homenageio e critico ao mesmo tempo. tem também o antonin artaud, que tem uma visão política que gosto muito e que, de certa forma, compartilho. e mais maiakovski, waly salomão, os poetas do grupo poesia hoje (do qual participei entre 2004 e 2006). renato negrão, comentando comigo sobre o poema, me lembrava de algo que eu não tinha me dado conta. ele me dizia: “tem muito de marcelo companheiro nesse poema. coisa que só uma pessoa como eu, que já te conhece há anos consegue perceber”. acho que o renato foi modesto não citando a si mesmo como influência. tem também o chacal, o fausto fawcett, o juan gelman. e tudo está muito escancarado, com um verso ou uma palavra conhecida de cada um deles. afinal, ele é uma grande colagem. são referências, mas na verdade o poema é a minha cara. só espero que ninguém vicie. acho que não encontrarão mais ginsberg em outros trabalhos meus.
agora temos barack obama no governo dos estados unidos. o que você pensa disso?
eu acho maravilhoso. felizmente, com o passar do tempo, as coisas mudam. há muitas maneiras de se pensar a política hoje. e uma delas é do ponto de vista das relações interraciais. é claro que raça é um conceito falso, e por isso temos que ficar atentos com os limites dessa dicotomia (aliás, toda dicotomia é perigosa e limitada). mas como diz o poema, “essa é a época dos presidentes pop”. era injusto o páreo entre mccain e obama. obama é um sujeito bonito, elegante, diplomático, inteligente. transformou-se muito rapidamente num ícone da esperança mundial. um perfeito presidente pop. eu, pessoalmente, penso que ele passaria facilmente por um parente meu. me orgulho. politicamente, restam ainda muitos pontos obscuros. a dicotomia democratas x republicanos é inquietante pelo tamanh0 da sua limitação. o mínimo que espero de um republicano é que ele seja democrata e vice versa. vejamos primeiro o que o novo presidente dos estados unidos fará com os seus 300 milhões de loucos de ficção científica.
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Leonardo Gonçalves mescla poesia e geopolítica
por Alécio Cunha
REPÓRTER
Nesta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, tem seu último dia de poder na Casa Branca. No dia seguinte, toma posse o democrata Barack Obama, primeiro presidente negro a ocupar este cargo. O poeta belo-horizontino Leonardo Gonçalves, tradutor de Juan Gelman, William Blake e Molière, aproveita o último instante de Bush na presidência norte-americana para lançar um livro-bomba.
A plaquete “WTC Babel S.A”, publicada pelas Edições Barbárie, será lançada segunda, às 19 h, na sede da Cia. da Farsa (Rua dos Caetés, 616. Centro), com direiro à performance “No Fundo Todos Querem Alcançar o Céu”, gestada pelo poeta numa interação entre texto, voz e imagens.
Os versos deste livro foram elaborados no decorrer do ano passado e são uma provocante reflexão sobre os rumos da nação dita mais poderosa do planeta, sobretudo após a explosão do World Trade Center, em Nov a Iorque, e a reação bélica promovida por George W. Bush e seus asseclas, invadindo o Afeganistão e o Iraque.
“Eu cresci vendo imagens fortes da Segunda Guerra Mudial, fotos de corpos no Holocausto nazista, da carnificina nos campos de batalha. Estra nhei a ausência de corpos no World Trade Center. Houve censura, nenhum corpo foi mostrado. Priorizou-se a imagem da explosão, do choque dos aviões, a força do simulacro, longe do real, bem próxima da sociedade do espetáculo”, frisa Gonçalves.
O incômodo gerou o longo poema, que começa remetendo o leitor ao universo onírico de Walt Whitman, poeta criador de uma linguagem fundante da literatura norte-americana, em textos como “Eu Canto o Corpo Elétrico”: “americanos cantam o corpo elétrico/e quem cantará o corpo eletrônico bytes bits pixels? qual ciborgue tomará a palavra no terceiro milênio?já existem as máquinas de pensar/e quem fabricará a máquina de fazer poemas?’, indaga o autor.
Influenciado principalmente pelos versos livres, pulsantes e, claro, essencialmente políticos da cena beat norte-americana, em especial, Allen Ginsberg, autor de “Uivo’ e “A Queda da América”, Leonardo Gonçalves está muito satisfeito com o resultado desse livro. “Há um trabalho muito cuidadoso com a linguagem, está bem mais evoluído do que trabalhos anteriores meus”, afirma.
“WTC Babel S.A” deve ser lido como um contundente grito de protesto contra os abusos ocorridos na política do presidente George W. Bush. “É o resultado de experimentações formais, um poema híbrido, repleto de imagens do mundo contemporâneo, que vão da sátira mordaz ao mais vivo apelo por um mundo mais human”, salienta Gonçalves.
O poeta conta que escreveu este livro já pensando em sua estrutura verbal, sem, em nenhum momento, deixar de lado a preocupação com a palavra escrita. “Eu elaborei o livro imaginando como seria seu tempo exato de leitura”, frisa, assumindo a sempre desejável conexão entre o oral e o escritural.
Entusisasta da obra de Leonardo Gonçalves, o crítico literário Fábio Lucas (“Mineiranças”, ‘Do Barroco ao Moderno”) assim se expressou sobre os versos potentes do autor de 33 anos. “ É um poema-apelo a clamar pelos olhos abertos e pelos ouvidos atentos, a fim de bem colher as imagens do mundo cruel, travestido em boletim publicitário. A linguagem multicentrada em vários idiomas representa valiosa sátira da subcultura globalizada, que ensina o culto de bezerros-de-ouro plantados nos recantos do planeta”, escreve.
Leonardo Gonçalves não esconde sua postura cética diante da entrada em cena, a partir de terça-feira, do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “Foi uma grande conquista no plano simbólico, mas não podemos nos esquecer que ele continuará governando os mesmos milhões de americanos que, um dia, votaram em Bush”, frisa. “Os Estados Unidos são uma nação puritana e é falsa a idéia que eles vendem de que lá é a terra da liberdade. Não existiu durante o governo de George W. Bush o direito pleno às liberdade individuais”, salienta, lembrando o episódio nefasto das torturas na prisão de Guantamano.
Num dos poemas mais instigantes de seu livro, Leonardo Gonçalves mostra como seus versos podem estar em plena sintonia com o mundo: ‘eu canto o fundo falso/eu sou o fundo falso/eu sou a fechadura/ e a chave do mistério divino/eu sou o mistério divino/por isso canto o corpo histérico/e rebolados das groupies desvairadas/enlouquecidas por minha saliva/que espalho sobre o chão do terreiro/e inauguro com elas/o meu próprio mistério/pois é mister cantar”, assegura o autor, consciente de que lirismo e contundência não são vocábulos excludentes neste planeta.
(artigo publicado no Jornal Hoje em Dia de 17 de janeiro de 2009)
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De uma carta do crítico Fabio Lucas
“A literatura, aparentemente, se encontra num beco sem saída. Mas continua a ser o único veículo através do qual flui a liberdade de expressão. Os jornais, movidos a publicidade, exilaram as Letras e os escritores. Mas a inter-net está liquidando um a um, os jornais mentira. A crise da imprensa é assustadora.
WTC Babel S. A. é um poema-apelo a clamar pelos olhos abertos e pelos ouvidos atentos, a fim de bem colher as imagens do mundo cruel, travestido em boletim publicitário. A linguagem multi-centrada em vários idiomas representa valiosa sátira da subcultura globalizada, que ensina o culto de bezerros-de-ouro plantados nos recantos do planeta.”
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Ana Maria Ramiro
Recebi 3 livros incríveis nesse comecinho de ano. WTC BABEL S.A. é o poema que dá nome a um dos livros que recebi, novo projeto do poeta mineiro Leo Gonçalves. Um poema “falado”, ou melhor, “gritado”, uma ácida crítica ao governo norte-americano (preciso dizer mais?). É o segundo livro-solo do Léo, que tem vários trabalhos de tradução, como O doente imaginário, já em sua 2ª edição pela Editora Crisálida, entre outros, e o primeiro livro publicado pelas “Edições Bárbarie” capitaneada pelo próprio…deu pra ver o poder de fogo, não!? Preparem-se para muito mais…
Trecho do comentário de Ana Maria Ramiro publicado no blogue Folhas de Girapemba no dia 14 de janeiro de 2009
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Se o “poema falado” não é um conceito novo, com WTC BABEL S. A., Leo Gonçalves inaugura o “poema gritado”. Através de um hábil manejo da língua (ou das línguas), elabora uma ácida e irônica crítica ao governo norte-americano. Crítica que serve como eixo a mover os fios de um mundo desbaratado. Rebela-se diante deste mundo inventado e desafia também a métrica, através de um texto cujo único fim é o de mover o leitor-ouvinte, que a partir desse mesmo instante se converte em protagonista do poema que, em essência, não é outra coisa senão uma manifestação clara e corajosa do amor pela vida acima de tudo.
María José Pedraza Heredia na orelha do livro