Resenha publicada em 15 de setembro de 2012
para o caderno de Cultura do jornal Hoje Em Dia
Leo Gonçalves – linguagem intensa e provocante
Leo Gonçalves parte para um voo experimental não isento de perigos, sob a inspiração de Santos Dumont na epígrafe de seu livro (“fácil é, pois, compreender que, se as válvulas recusam funcionar bem, o perigo de arrebentamento existe”). Já de saída, sua poética é colocada sob o signo da tensão e da vertigem. O poeta parece querer explodir e expandir a linguagem em várias direções: “eu sou aquele que transforma-se em morte/o destruidor de mundos”.
Há vários registros na poesia de Leo, ressonâncias poéticas díspares e até opostas, conflitantes. Trata-se de uma lírica que se atrita, propositalmente, com a violenta e confusa realidade circundante. Há também certa urgência o seu “falar”, muitas vezes transbordante, com algo do surrealismo e também da poesia de Walt Whitman e dos poetas beats norte-americanos. Em geral seus poemas são longos e sem uma configuração convencional, com versos cortantes e contundentes.
Leo é autor também de “das infimidades”, e vem se apresentando em performances e leituras de textos, unindo de forma criativa voz, corpo e poesia – levando seu trabalho além da página impressa. Isto, certamente em sintonia com sua dicção poética neste provocante “Use o assento para flutuar”, onde ele procura “desinventar a língua/em cada fala”.