“minha meta é transformar o livro numa carta de alforria.”
waly salomão
sempre achei que um poeta deve procurar os meios de sobreviver daquilo que produz. é o direito de ser poeta. só que há uma grande ilusão da parte dos esperam viver de direitos autorais. poesia não é literatura, para desespero dos letrados. portanto, aquele que quer conquistar esse direito, precisa achar as saídas possíveis. a tradução é uma delas. as artes gráficas podem ajudar. lenise achou a solução numa empresa de publicidade. eu vejo grandes possibilidades no campo das oficinas.
tenho flertado com essa área de algumas formas: trabalhei numa ong de belo horizonte, a memória gráfica, dei assessoria pedagógica para uma excelente professora, a patrícia mc quade, que desenvolvia um projeto com literatura de cordel junto aos seus alunos, apresentei uma conferência sobre a poesia e sobre juan gelman numa faculdade de congonhas. um pouco disso, será relatado aqui em breve . e também disponibilizarei infomações sobre os projetos educacionais com os quais eu quero cada vez mais me envolver.
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cantadores de cordel
em 2006, dei assessoria pedagógica à professora Patrícia Mc Quade que desenvolvia o projeto “cantadores de cordel” junto a seus alunos. a proposta já tinha tido sua primeira experiência nos anos anteriores, quando foram desenvolvidos os projetos “versos travessos” e “cordelistas mirins”. desta vez, já calcados nos êxitos anteriores, decidimos criar um cordel de autoria coletiva
baseado num conto já tradicional. e junto com os alunos, selecionamos o conto “a terra onde nunca se morre” de ítalo calvino. compomos coletivamente cada verso do folheto, alterando, dando ênfase no ritmo, na métrica, no desenrolar da narrativa. o resultado foi surpreendente. confira o texto na íntegra. basta clicar na capinha do cordel acima para baixar o arquivo (formato pdf – 405 Kb).
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versos travessos
outro trabalho para o qual dei alguma consultoria foi o projeto “versos travessos”, também de patrícia mc quade. neste caso, o meu principal papel foi o de manter uma interlocução acerca da poesia com a professora, além de fazer uma ponte entre os meus alunos, jovens em situação de risco social (na ocasião eu trabalhava na memória gráfica), e os alunos dela. o intercâmbio foi muito proveitoso e serviu de grande incentivo para o resultado que viria: reunir num livro uma amostra significativa dos poemas que os alunos dela (crianças com nove anos, em média, cursando a terceira série fundamental) haviam desenvolvido no decorrer de 2003. a escolha foi difícil: alguns alunos possuíam uma divertida veia lírica. fizemos também, eu e patrícia, o projeto gráfico em parceria. um pouco do trabalho deles pode ser visto hoje no seguinte endereço: www.travessos.zip.net
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memória gráfica typographia escola de gravura
o sentido da palavra oficina, para mim hoje, está ligado à experiência que tive com as aulas de literatura e criação literária na memória gráfica. o aprendizado mais importante que obtive no período em que convivi com o vadinho, a dulce e a dulcinéa foi que só é possível pensar de fato fazendo. a memória gráfica é antes de tudo uma escola de gravura. valendo-se da estrutura do cia – centro de internação de adolescentes, conta também com um belo parque gráfico, sendo hoje a maior tipografia em atividade na cidade de belo horizonte (acredito que de minas gerais).
trabalhei durante dois anos lá. o objetivo era, na verdade, o de ajudar aos educandos a ativar suas habilidades comunicativas, fossem elas literárias ou não. os educandos tinham principalmente três origens: ou vinham de comunidades desfavorecidas (aglomerados, favelas…), ou estavam internos no ceip – centro de internação provisória, ou no cia – centro de internação de adolescentes.
ao contrário do que sempre supõem as pessoas quando conto dessa experiência, os educandos produziram trabalhos belíssimos. bons exemplos disso são os “poemas engavetados” da jóice oliveira, livros de cordel como “o talarico” de marcos jefferson da silva e os “contos soltos”, criação coletiva.