foi-me concedido, assim, descrever agora essas coisas vistas e ouvidas esperando, com isso, esclarecer a ignorância e dissipar a incredulidade.
outro livro me chega pelo correio, enviado pelo meu amigo andré guimarães. desta vez uma obra que me lembra os contos de jorge luís borges: o céu e as suas maravilhas e o inferno segundo o que foi ouvido e visto. a publicação é da “edições das doutrinas celestes para a nova jerusalém”, órgão da igreja swedenborguiana brasileira. uma curiosa incursão nos mundos do além-túmulo, com as descrições cuidadosas dos hábitos e costumes dos anjos e dos seres infernais. o livro lembra em muitos sentidos a “divina comédia” de dante alighieri. finalmente em língua portuguesa.
alguém me perguntará: e você se tornou um místico agora? e eu responderei: é claro. sempre fui. um místico materialista, um sacana divino, um metafísico com meta bastante física.
swedenborg é um dos sujeitos mais intrigantes da história da humanidade: depois de passar quase 50 anos da sua vida dedicados à ciência e de atualizar o conhecimento científico da suécia, tendo estudado a fundo todas as grandes experiências revolucionárias de sua época, como as do físico isaac newton e as do fisiólogo william harvey e produzido suas próprias invenções e descobertas, recebe dos céus a missão de revelar as maravilhas do céu e aquilo que viu no inferno, como uma renovação da fé cristã.
porém, o maior feito dele não foi esse, mas o de, com sua obra teológica, se tornar referência para aqueles que foram a nata do pensamento ocidental. a lista não é curta: william blake, voltaire, emanuel kant, j. w. goethe, charles baudelaire, j. sousândrade, w. b. yeats, r. w. emerson, miguel de unamuno, paul valéry, j. l. borges e czesław miłosz são apenas alguns deles.
swedenborg sempre foi uma incógnita para o pensamento brasileiro. na re visão sousândrade editada pelos irmãos campos, encontra-se a seguinte nota:
swedenborg: 1/5; 108: Emanuel, 1688-1772, teósofo e visionário sueco. influenciou poetas românticos e simbolistas.
não está errado, mas é muito pouco. por exemplo: há indícios muito claros de que sousândrade freqüentava, nos tempos que morou na europa e nos estados unidos, a igreja swedenborguiana e com grande admiração. o poeta maranhense tinha o costume de escrever memorabilia para introduzir os cantos de sua epopéia, O guesa errante. este é exatamente o termo que o sueco usava para introduzir os estudos que desenvolveu sobre o apocalipse em O apocalipse revelado, e que na tradução brasileira se tornaram as memoráveis.
sousândrade, numa das memorabilia (datada de dezembro de 1877), comenta:
ouvi dizer já por duas vezes que “o guesa errante será lido cinqüenta anos depois”; entristeci – decepção de quem escreve cinqüenta anos antes. porém se – life, not form; work, not ritual, was what the Lord demanded – diz um swedenborguiano pregador, falando da Religião: não poderíamos dizer o mesmo da Poesia?
o guesa foi re-visto, lido, re-circulado (embora ainda não suficientemente, pois sousândrade foi o melhor poeta do romantismo brasileiro, o nosso hölderlin), mas ficam ainda pontos obscuros. passados 130 anos da memorabilia, ninguém ainda se deu o trabalho de ir ver para onde ela apontava, iludidos talvez com o sentido profético dos “50 anos depois”.
alguns desses pontos poderão ser iluminados agora, graças à cuidadosa tradução de Cristóvão Rabelo Nobre. detalhe, este ano a primeira edição de de coelo et mirabilibus et de inferno visis et auditis, que é de 1758, completa 250 anos.
para ver um pouco mais, aí embaixo tem os endereços:
oi léu,
já deu uma vontade danada de ler esse tb.
mais um para o meu mistifório de misticismo.
rsrsrsrsrss,
ai a gente conversa sobre.
bjão