Penso que a literatura e as demais formas de arte têm, como função básica a proposição de problemas, mais que de respostas, que contribuam para que a sociedade redefina os termos do debate sobre as condições de sua própria formação (entendida como um processo, insisto) e permanência. Em outras palavras, ao defender a ‘profissionalização’ do artista, aponto para um paradoxo, que é a hipótese de se ter, como conseqüência, a valorização daqueles cuja importância na sociedade é definida bem mais por sua movência, por sua entrega gozoza à errância e à deriva do que pela fixidez de suas posições. O artista, como o vejo, como o idealizo, talvez, é aquele que optará sempre pela perversão, pelo caminho torto, escuro, pleno de dobra e desvios. Pelo sim, pelo não, prefiro apostar que uma verdadeira política de apoio às artes passará, necessariamente, pela valorização dos criadores sem que se exija deles mais do que o produto desinteressado de sua imaginação. Luto, por isso mesmo, ciente dos riscos a que todos estaremos expostos. Mas me diga: não é bem pior não fazer nada? Se me desagrada a figura do escritor como um ‘funcionário da escrita’, tampouco me apraz a terrível imagem do cadáver de Cruz e Sousa, conduzido de Leopoldina, no interior de Minas, para o Rio de Janeiro, num trem de carga. É isso.
ricardo aleixo entrevistado no último dia 04 pelo jornalista carlos augusto lima, no diário do nordeste (fortaleza). para lê-la na íntegra: aqui